Em uma hora e meia, o documentário ?São Sebastião do Rio de Janeiro – A formação de uma cidade? acompanha o percurso urbanístico do Rio, mostrando como a cidade nasceu, desde a ocupação francesa no século XVI, até os desafios de hoje. Com estreia marcada para 26 de maio, o longa-metragem teve, nesta segunda-feira, uma exibição seguida de debate dentro da série Encontros O GLOBO. Ao longo da conversa, realizada no Espaço Itaú de Cinema, em Botafogo, a diretora e produtora do filme, Juliana de Carvalho, o economista Sérgio Besserman, e o jornalista e colunista do GLOBO, Pedro Doria, passaram por temas atuais, como a mobilidade e a desigualdade social, remetendo-se também a episódios históricos.
Instigada pelo mediador Fabiano Ristow a explicar que opções fez para condensar 450 anos de História em 90 minutos, Juliana contou que se inspirou em filmes sobre a formação de cidades como Paris, Londres e Nova York. Naturalmente, muita coisa acabou ficando de fora – como toda uma sequência sobre futebol -, mas o resultado consegue mostrar algumas das principais conclusões da cineasta:
? Tudo o que aconteceu aqui é fruto do encontro da natureza com o homem. Em todo o processo de pesquisa, entrevistas e leituras, o que mais vi, apesar de tudo, foi festa.
Autor de livros como “1565 – Enquanto o Brasil nascia”, e “1789”, Pedro Doria comparou este momento que vivemos, com a cidade transformada em um canteiro de obras às vésperas dos Jogos Olímpicos, com outros dois outros: o bota-abaixo do prefeito Pereira Passos (prefeito entre 1902 e 1906), e as grandes obras de Carlos Lacerda (governador do estado da Guanabara entre 1960 e 65).
? Sempre que tivemos, por algum motivo, algum bom momento em termos de investimentos no Rio, os governantes resolveram reinventar a cidade. O Pereira Passos abriu grandes avenidas, o Lacerda fez o aterro e os túneis… E agora vivemos essas mudanças para as Olimpíadas. O que eles têm em comum? Sempre dá uma depressão danada depois. Já estamos vivendo isso, de certa forma ? disse Doria.
Anunciado nesta segunda como o novo presidente do Jardim Botânico, Besserman fez questão de responder positivamente a uma pergunta bem objetiva da plateia: o Rio tem jeito?
? Claro que tem. Eu não diria que o Rio é o símbolo do progresso. Mas é o símbolo do desafio do país. Os demógrafos do IBGE dizem que o Rio é o Brasil de amanhã. O que acontece aqui acaba acontecendo depois no Brasil inteiro.
Ele ressaltou que o tal desafio passa pela vocação da cidade:
? O desafio do Rio é não ser partido, é exercer sua vocação para o encontro: encontro de mar e montanha, de centro e periferia. Além do desafio de combater a desigualdade, temos o de priorizar o desenvolvimento sustentável.
Besserman ainda fez graça com uma certa tendência “bipolar” do carioca: ele detona os problemas da cidade como a mesma energia com que declara seu amor. Ouviu de um taxista, por exemplo, que o VLT não servia nem “para a pessoa se matar”, porque passaria muito devagar.
? Para o carioca não tem graça nenhuma eleger alguém se não for para começar a esculhambar com o político já no dia seguinte ? sentenciou, levando a plateia à gargalhada.