Reportagem: Josimar Bagatoli
Santa Helena – A baixa do nível do reservatório do Lago de Itaipu “engoliu” as prainhas e a temporada de verão está comprometida na Costa Oeste do Paraná. Medidas precisarão ser tomadas para evitar prejuízos nos setores de comércio e prestação de serviços, que aguardam essa época do ano para aquecer as vendas. Tradicionalmente, no fim de ano, a movimentação de veranistas é grande nas cidades com áreas construídas para acampamento e banho: investimentos feitos pelo poder público para atrair turistas de toda a região.
A expectativa é de que pelos próximos três meses o cenário seja o mesmo na região, ou pior, justamente durante a temporada, que termina em abril.
Uma das mais badaladas é Santa Helena, que realizou reformas em banheiros, trocou a iluminação e realizou limpezas em toda a área dedicada aos turistas. A cidade é o destino certo de milhares de pessoas que buscam tranquilidade e infraestrutura em meio à natureza – na área coberta por grama há churrasqueiras e banheiros. Porém, neste ano, devido à estiagem e ao uso da água do reservatório para a movimentação das turbinas da usina de Itaipu, o cenário é diferente: o acesso aos banhistas à prainha artificial está praticamente inviável.
Para garantir que os turistas tenham acesso ao balneário, a prefeitura viabilizou medidas emergenciais e analisa a compra de equipamentos para bombear a água até uma represa da Praia Nova. Essa ação deve fazer com que o nível da água fique adequado até 20 de dezembro, perto do Natal e do Réveillon. Só para a festa da virada são esperados 50 mil turistas – haverá shows artísticos e a maior queima de fogos de artifício já feita na cidade. “Estamos fazendo o orçamento e analisando a situação jurídica, se essa compra é permitida. Esse período é muito importante para a movimentação da economia”, afirma o prefeito Evandro Miguel Grade, o Zado (PDT).
Itaipu
Por decisão conjunta dos conselhos e das diretorias brasileira e paraguaia, Itaipu autorizou em novembro o rebaixamento do Lago de Itaipu para a quota de 216 metros acima do nível do mar – a mais baixa já utilizada pela usina. Até então, o reservatório funcionava com uma cota de água de 219 metros – em épocas de estiagem variava entre 218 e 217 metros.
O caso mais grave da região é da praia de Porto Mendes, distrito de Marechal Cândido Rondon, onde o Corpo de Bombeiros decidiu pela interdição da área para banhistas. O principal fator é a baixa do nível do lago e, conforme o comandante do Corpo de Bombeiros, capitão Tiago Zajac, após vistoria realizada no parque de lazer, constatou-se que a área destinada para banho praticamente deixou de existir, especialmente o espaço com piso de concreto. “A área que permitiria banho é uma faixa muito estreita e está bastante enlameada. O banhista poderia afundar no lodo ou ainda chegar a valas onde a profundidade é variável e muito perigosa. Por isso, chegou-se a essa decisão”, diz Zajac.
A medida terá que ser respeitada até que o nível volte a subir e placas serão instaladas informando a interdição.
Em Mercedes, a pesca esportiva também é prejudicada pela situação do lago. “O cenário fica comprometido na área de acampamento. O nível da água baixou muito, afastando muitos turistas. Esse seria o momento de atrair mais visitantes, devido às altas temperaturas, mas, com a situação do reservatório, teremos movimento menor”, afirma a prefeita de Mercedes, Cleci Loffi (MDB).
Interdição acatada em Porto Mendes
O secretário de Indústria, Comércio e Turismo de Marechal Cândido Rondon, Sérgio Marcucci, afirma que a determinação dos Bombeiros será respeitada. “Quem conhece tecnicamente os riscos é o profissional da área e eles notificaram que deveria se fazer a intervenção. A mim, cabe cumprir, pois o importante mesmo é a preservação do bem-estar dos visitantes e a vida dos munícipes”.
Segundo ele, o nível do lago está baixo já há alguns meses, mas nas últimas semanas se acentuou e baixou mais de 1,2 metro. “Para se ter ideia, os tubos que indicam o limite para a área de banho estão fora da água”.
No geral, a margem até a água já avançou cerca de 70 metros, mas em alguns lugares dá quase 100 metros. “Já houve redução do nível do lago, mas este ano está pior que no ano passado”.
Obras serão executadas para aproveitar a baixa do nível do lago. Haverá uma adequação do pavimento dos atracadouros. Foram adquiridos 240 metros cúbicos de concreto usinado, com investimento de R$ 120 mil.
Itaipu: reversão depende de chuva
Como a demanda por energia elétrica se mantém em alta, a Itaipu Binacional não pretende reduzir o consumo da água para movimentar as turbinas. A binacional justifica que o cenário se deve “à situação hidrológica desfavorável enfrentada atualmente pelas Regiões Sul e Sudeste brasileiras”, com isso a quantidade de água que chega ao reservatório de Itaipu é insuficiente para atender às demandas de energia elétrica do Brasil e do Paraguai. “Para garantir o atendimento dessas demandas, a Itaipu, autorizada por representantes de ambos os países, decidiu usar a água estocada em seu reservatório, o que causa a diminuição do nível da água que está sendo observada. A reversão desse cenário ocorrerá com o retorno das chuvas”.