Cotidiano

Copel inicia PDV após privatização e clima entre profissionais ainda é de “incertezas”

Copel inicia PDV após privatização e clima entre profissionais ainda é de “incertezas”

O som do toque da campainha simbolizando o encerramento da oferta das ações iniciais no processo de privatização da Copel no dia 14 de agosto, pelas mãos do governador do Paraná, Ratinho Jr, ainda ecoa nos ouvidos de cerca de 6 mil colaboradores da companhia. Em meio a muitas incertezas, efeito comum nos processos de privatização, a APC (Associação dos Profissionais da Copel) se mobiliza para esclarecer os colaboradores sobre os próximos rumos a serem tomados. Entre os colaboradores, o clima é de apreensão.

Há mais de uma década prestando serviço à Copel, um colaborador ouvido pela reportagem do O Paraná, que prefere não ser identificado, confirma o momento de incógnita pairando sobre os funcionários no que tange ao futuro profissional. Muitos demonstram temeridade com os rumos a serem tomados a partir de agora. “O pessoal de trabalho sente muito receio de como será conduzida a Copel”, diz o colaborador. Segundo ele, vários pontos são abordados por eles todos os dias.

A Fundação Copel faz parte destes questionamentos. Ela é responsável pela previdência privada e planos de saúde dos colaboradores. Os aposentados são dependentes dessa complementação de recursos. Para o contribuinte, significa um “porto seguro”. Essa insegurança surge mesmo sob a garantida de não promover alterações na Fundação Copel, por parte da diretoria. “Caso haja mudanças na Fundação Copel, todos precisam ser avisados com três anos de antecedência”, lembra o colaborador.

PDV EM SETEMBRO
O PDV (Programa de Demissão Voluntária) já está previsto para iniciar neste mês de setembro, segundo o colaborador da Copel. “São valores elevados de incentivo, de até 30 salários sem incidência de impostos, para todo e qualquer funcionário que queira sair da Copel”. Conforme ele, está prevista uma escala cronológica de saída, sem ainda ser possível mensurar o número de colaboradores.
Atualmente, são 5,8 mil colaboradores da Copel. “Os que ficarem estarão sujeitos a um aumento ainda maior de empresas terceirizadas em atividades críticas, altamente exigentes, onde treinamento, qualidade e principalmente experiência conta muito, para que a segurança seja garantida”. Sobre a contratação de novos funcionários por conta da privatização, os benefícios tendem a ser inferiores, a exemplo do que ocorreu na Eletrobrás, com as contratações pós-privatização, segundo relata o colaborador. “Então quem permanecer na empresa ficará sujeito a uma responsabilidade de fiscalização de contratos e cuidados com possíveis novos empregados. A demanda não diminui no setor elétrico, pelo contrário, aumenta a cada ano. A cada dia que passa, eletricistas de distribuição de empresas terceirizadas estão mais envolvidos em acidentes graves e fatais na região, infelizmente. Conviver com essa condição não é agradável e muitos têm sofrido psicologicamente com essa pressão”, relata.

Desabafo e insegurança
A reclamação dos colaboradores da Copel também envolve as abordagens da alta direção. “Virou praticamente um arma de empoderamento da alta direção, dizer que agora tudo será diferente na corporação. A Copel apresenta ano após ano, lucros extraordinários, e seguindo o modelo de trabalho que já existia, não afetariam em nada os resultados da empresa. Parece que o desânimo do pessoal precisa neste caso ser impulsionado por atitudes e palavras desnecessárias, onde os empregados acabam por se curvar através do medo, e não mais do incentivo natural de um ambiente de trabalho, como sempre foi”, desabafa.
“Trabalhar assim incentiva a saída daqueles mais experientes, na prerrogativa de renovar quadros mais baratos e pessoas que não foram, de certa forma, atingidas por determinada pressão psicológica”.
Conforme o colaborador da Copel, todos sentem insegurança na evolução de carreira, da manutenção sequer das conquistas já absorvidas historicamente. “Já se escuta nos bastidores, que empregados da Copel possuem salários maiores que as médias de mercado. Isso pode gerar equiparação com grupos sempre com salários menores e não maiores, enfim, gera medo se ao longo do tempo aqueles que conquistaram por meio do seu trabalho salários maiores, evoluções na carreira, se podem em três, quatro anos, serem dispensados sem justa causa para serem substituídos”.

Pesquisa mostra profissionais indecisos
sobre permanência e futuro na Copel

No dia 13 de setembro, vai ocorrer uma reunião presencial na sede da associação, em Curitiba, com transmissão ao vivo pelo canal da APC (Associação dos Profissionais da Copel )no YouTube. A pauta principal do encontro será a transformação da Copel em corporation. “Identificamos em pesquisa realizada com empregados da Copel, que essa mudança suscita diversas preocupações e questionamentos, colaboradores e entusiastas dessa empresa que tanto representa para todos”, destaca o presidente da APC, Noel Noel Massinhan Levy. “Será uma oportunidade única para debatermos abertamente sobre os impactos, desafios e oportunidades dessa transformação, e, acima de tudo, ouvirmos a voz de cada um dos colaboradores”.
Para medir o impacto da privatização da Copel entre os colaboradores e aposentados, a APC realizou uma pesquisa sobre a transformação da companhia em true corporation. A pesquisa foi direcionada sobre a intenção dos colaboradores em aderir ao PDV (Programa de Demissão Voluntária). “Os resultados da pesquisa refletem a diversidade de pensamentos e sentimentos dos colegas e companheiros de trabalho em relação à possibilidade de aderir ou não a um PDV/PDI no contexto da transformação da Copel”, enfatiza Noel.
Dos consultados, 38,24% pretendem aderir ao PDV e 31,83% vão decidir permanecer na companhia. Colaboradores em dúvida se aderem ou não são 29,93%. Entre as motivações para aderir ao PDV, constam o risco de demissão futuro para 29,86%; aposentado, aposentadoria próxima e idade mais avançada: 28,05%; falta de reconhecimento, promoção e perspectivas futuras: 17,65%; PDV/PDI compensa e deve ser inferior no futuro: 14,48%; oportunidade fora com respaldo econômico: 10,86%; ambiente de trabalho ruim ou perspectiva de piora: 9,95% e incertezas dentro da empresa e perspectiva de resultados piores: 7,69%.
A pesquisa também mostra as motivações para não aderir ao PDV. Em primeiro lugar, com 28,26%, pouco tempo de trabalho ou não tem tempo de contribuição para aposentadoria. Na sequência, as motivações para não aderir ao PDV, de acordo com a pesquisa, são: 19,57% gostam de trabalhar na Copel; 16,85% por falta de oportunidade no mercado; para 13,59% o PDV não compensa e para 12,50%, por oportunidade de realização e crescimento profissional na empresa.
“Estamos comprometidos em ser uma fonte de apoio e orientação para todos os empregados da Copel neste momento tão crucial de transformação”, destaca o presidente da APC.

Visão dos aposentados
A pesquisa também buscou saber dos aposentados da Copel a visão sobre a privatização. A pergunta feita em julho de 2023 foi: Você é a favor dessa iniciativa do Governo do Paraná? A pesquisa buscou comparar as respostas de empregados da Copel em pesquisas anteriores, realizadas em dezembro de 2022 e junho de 2023. A análise revelou tendências interessantes. Em relação à iniciativa estatal, a APC percebeu que a porcentagem de aposentados que são a favor da iniciativa está relativamente abaixo do percentual dos empregados em junho de 2023. Ou seja, os aposentados apresentam uma visão mais cautelosa ou crítica com relação à privatização, em comparação com os colaboradores em atividade. “No entanto, é importante destacar que, embora a porcentagem de aposentados favoráveis à iniciativa seja menor, ainda é significativa. Isso indica que há aposentados que veem benefícios potenciais na iniciativa do governo do Estado”.

A privatização
A privatização da Copel foi feita nos mesmos moldes do que ocorreu com a Eletrobras, com mecanismos como a limitação a 10% do poder de voto de acionista ou grupo de acionistas e o chamado “golden share”, que dá ao governo do Paraná o poder de veto em determinadas situações.
Assim como aconteceu na privatização da Eletrobras, o negócio envolveu a renovação de concessão de hidrelétricas. Com isso, a União, como poder concedente das usinas, também receberá recursos com o processo de privatização. Trata-se da primeira privatização com oferta de ações em bolsa desde a Eletrobras, no ano passado, operação que movimentou R$ 34 bilhões.
A privatização da Copel era uma promessa da atual gestão paranaense. A Copel é hoje uma empresa de economia mista, com parte das ações já ofertada na bolsa, mas que tem o controle do governo estadual.
Antes da nova oferta de ações, o estado do Paraná detinha quase 70% das ações ordinárias (que dão direito a voto) na Copel, enquanto o BNDESPar possuía outros 12,4%.
A Copel informou que a participação do governo do Paraná na empresa caiu para 32,32%. Ela ainda pode ser reduzida para 29,96%, com a inclusão do lote suplementar de ações.

FONTE: DA REDAÇÃO