Reportagem: Silmara Santos
Toledo – Natal é tempo de viver em paz, de estar com a família e compartilhar as experiências vividas durante o ano. Essa nem sempre é a realidade de muitos refugiados que buscam um lar no Brasil. E, para quem está longe da família, essa é uma época em que a saudade aumenta ainda mais.
Mive-Kerline Emmanuel tem 23 anos, é católica e mora em Toledo. A jovem nasceu em Cabo Haitiano, no Haiti, e, para ela, comemorar o Natal hoje é muito diferente de há cinco anos, quando saiu de seu país para estudar.
Se estivesse em casa, estaria se preparando para uma festa em família, mas, agora, ela e amigas vão se reunir e fazer um jantar no Natal entre amigos. “O Natal é a época em que mais me lembro da minha família… Há alguns dias até chorei por pensar em passar mais um Natal longe do meu pai e da minha mãe”, revela, emocionada.
Mive-Kerline passou dois anos no Equador aguardando visto para entrar no Brasil para cursar medicina, mas sua vida mudou drasticamente. Ela teve um relacionamento e teve um filho, que hoje tem três anos. A jovem trabalha como auxiliar de produção em um frigorífico e sonha em voltar para seu país de origem. “Eu quero ir para o Haiti, mas a passagem é cara, então eu tenho que me programar e guardar dinheiro durante um ano para visitar minha família”.
Nova casa
Ulisse Sanon tem 37 anos e viu sua casa ser destruída por um terremoto no Haiti. Por isso, veio ao Brasil com a intenção de reconstruir a vida. Aqui ele encontrou emprego, formou uma família e teve um filho. No Haiti, ele deixou uma filha do primeiro casamento e uma irmã.
No Haiti, Ulisse era católico, mas, no Brasil, encontrou na igreja evangélica um abrigo para sua fé. Mesmo assim, celebra o Natal. “Dia 25 reunimos a família, às vezes em casa ou na casa dos amigos, e fazemos um jantar para celebrar o Natal” explica.
Sobre a falta dos amigos e a saudade de passar o Natal no Haiti, Ulisse revela que hoje prefere o Brasil: “No começo foi difícil, mas agora está melhor… o Brasil é bom, me ajuda a ter trabalho, tudo o que os brasileiros fazem eu também posso fazer… já no Haiti, pelos problemas políticos, não é um bom lugar para se morar”.
Muçulmanos
Em busca de encontrar melhores condições de trabalho, o senegalês Mamadou Ndoye, de 42 anos, deixou esposa, duas filhas, pai, mãe e cinco irmãos no Senegal e se mudou para Toledo, em 2015.
Mamadou é muçulmano, trabalha como auxiliar de produção em um frigorífico e preside a Associação dos Senegaleses de Toledo, que tem cerca de 110 senegaleses.
Os muçulmanos não celebram o Natal. Eles praticam o Islã, uma religião baseada nos ensinamentos do profeta Maomé. Dão prioridade às orações e ao jejum no mês do Ramadã, de 23 de abril a 23 de maio (pode variar conforme o calendário lunar).
Apesar de não celebrar o Natal de forma religiosa como na fé cristã, os muçulmanos se reúnem entre amigos em apoio aos cristãos. “Não comemoramos o Natal como festa, mas comemoramos com apoio… no Senegal, todas as festas são comemoradas juntas… as famílias jantam entre amigos, todos levam suas famílias e comemoram juntos”, conta.
Desde que chegou ao Brasil, distante da família, Mamadou confessa que praticamente nada celebra, mas que acontece de algum amigo o convidá-los nessas ocasiões. “Ano passado um colega me convidou para passar o Natal na casa dele e eu fui almoçar com a família dele”, conta, e acrescenta: “As duas grandes comemorações que nós celebramos, na nossa religião, são o Magal, em outubro, e a principal é o Tabaskin, em julho”.
O Grande Magal de Tuba é uma peregrinação religiosa em homenagem ao líder muçulmano Cheikh Ahmadou Bamba Mbacké, que lutou pela liberdade religiosa no Senegal durante a colonização francesa. O Tabaskin é a principal festa religiosa para os muçulmanos, conhecida como a festa do sacrifício, com duração de quatro dias. As duas comemorações são celebradas conforme o calendário islâmico.