RIO? Os artistas Carolina Mascarenhas e Rona Neves têm mais do que a arte em comum. Ambos desenvolvem suas criações em locais que, em um primeiro momento, não tinham qualquer pinta de ateliê. Mas a transformação dos espaços inusitados trouxe uma identificação artística para o sótão de Rona Neves e para o quartinho no térreo do prédio de Carolina. Hoje, os locais são inspirações para o processo de criação dos dois.
A artista multimídia conta, entretanto, que transformar o local não foi uma tarefa das mais simples. Depois de um período de estudos em Londres e Nova York, Carolina voltou para o Brasil, começou a criar e se deu conta da necessidade de um ateliê perto de casa. Numa noite de insônia, lembrou do cômodo no térreo do seu prédio, na Fonte da Saudade. Mas o local que em sua infância abrigava uma mesa de pingue-pongue tinha virado o ?quartinho da bagunça?.
? Acho que fazia uns dez anos que ninguém entrava lá. Tinha de tudo: cama velha, colchão furado, sacolas de gibis roídas. Eu, o porteiro e minha empregada fizemos a limpeza. Foi um extreme makeover ? conta.
Mas quem entra no ateliê hoje é incapaz de imaginar toda essa bagunça. O local ganhou personalidade, com obras da artista expostas nas paredes e mesas, materiais coloridos e luzes adequadas. Carolina realiza pinturas e esculturas de cerâmica. Em sua exposição mais recente, mostrou sua preferência em lidar com questões conceituais da pintura, apresentando os painéis de azulejo como objetos dessa arte.
Hoje, o ateliê da artista é pura inspiração.
? Tem uma vista incrível para a Lagoa que me deslumbra o dia todo. Aqui também é um lugar tranquilo, só tem barulho de passarinhos ? ressalta.
Essa relação é similar para Rona Neves. O pintor trabalha no sótão do espaço de arte Z42, no Cosme Velho. O casarão de 1930 é um centro cultural que reúne ateliês de artistas, galeria de arte e até acervo de obras raras.
? Eu peguei o sótão abandonado, escuro, sem possibilidades de trabalhar. Mas quando eu coloquei os pés aqui, eu percebi que poderia transformá-lo com a minha arte. Foi uma grande identificação ? explica.
Rona conta a direção que seu trabalho seguiu no local:
? Eu comecei a escrever meus poemas nas paredes, no chão. A minha primeira reação foi a de imaginar a minha pintura ocupando o espaço. O sótão tem uma imponência muito grande. Então, o meu trabalho não pode competir, tem que dialogar. Há um respeito de um pelo outro ? afirma.
Para o artista, o sótão representa um reencontro e também surpresas:
? O sótão tem espaços que ainda estou descobrindo, onde cabem poemas, instalações. O tempo inteiro reinvento e descubro este lugar. Estar aqui foi um encontro muito feliz, ou melhor, um reencontro com a minha arte. Eu estava há um tempo sem pintar e, quando vi esse espaço tão generoso, passei a me dedicar 24 horas.