RIO – No primeiro fim de semana após a divulgação da descoberta de irregularidades em frigoríficos e indústria de carnes pela Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, consumidores do Rio se demonstraram preocupados com a qualidade dos aliementos de origem animal que consomem, mas não deixaram de sair de casa para o tradicional churrasco de domingo. A reportagem do GLOBO percorreu churrascarias de quatro bairros da cidade (Copacabana, Botafogo, Gávea e Tijuca), entre às 12h30 e 16h30 desde domingo, e todas estavam cheias e até com fila de espera. Uma surpresa para os próprios donos de churrascarias que, depois das notícias divulgadas na sexta, temiam um boicote por parte dos clientes.
É consenso entre os consumidores a necessidade de ficar mais atento à origem da carnes que consomem. A maior preocupação é com os embutidos. Estes, a maior parte diz que irá cortar das refeições. Para o consumo das demais peças e cortes, a saída será recorrer apenas aos estabelecimentos, seja supermercado ou churrascaria, que já têm confiança.
? Mesmo antes da operação a gente já imaginava como nuggets e salsichas eram feitas. Dá até para evitar, mas sempre vai ter aquela festa onde vão servir cachorro quente e é quase inevitável ficar sem comer. Meu sogro é chef (de cozinha). Já disse que pelos próximos seis meses não faz mais carne e frango. O petisco vai ser abobrinha? ? brinca Luana Martins, de 44 anos, antes de entrar em uma churrascaria de Copacabana para almoçar com o marido e os dois filhos.
Na Gávea, um casal na fila de espera de um outro restaurante disse que, a partir de agora, só consome carne onde confia.
? Carne agora só onde já compramos e nunca deu problema. E embutidos nem pensar. Esses vamos cortar ? explicaram Wagner e Priscilla Ferreira.
De acordo com a operação da PF, as irregularidades iam desde reembalagem de produtos vencidos e excesso de água para aumentar o peso das mercadorias até uso de cabeça de porco na produção de linguiça, o que é proibido. Ao menos um frigorífero também usava substâncias para ?maquiar? carne estragada e dar impressão de que ela estava própria para o consumo. A PF também identificou carnes contaminadas com salmonela em sete contêineres da companhia BRF Foods, assim como adição de papelão ao processamento de frango.
Luiza Mallet, que comemorara o aniversário de 33 anos com a família e amigos em uma churrascaria da Tijuca disse que sua maior preocupação é com qualquer tipo de carne processada, que vai evitar consumir. Mariana Defilippo e Danilo Jeolás acompanham as notícias divulgadas na sexta com perplexidade, mas se sentem privilegiados por morarem em uma cidade de apenas 12 mil habitantes do interior de Minas Gerais, Astolfo Dutra, onde praticamente toda a carne consumida é produzida por pequenos produtores locais.
? Sabemos a origem da carne consumimos, que é sempre fresca. As verduras e frutas orgânicas que chegam aqui ao Rio com preços altos, para nós são comuns e pagamos um preço baixa por elas porque é tudo direto do produtor ? conta Mariana que, em passeio ao Rio neste fim de semana, não exitou em ir a uma churrascaria almoçar.
Os gerentes de churrascarias estavam temorosos com a possibilidade de boicote ao que é o carro-chefe de seus estabelecimentos. Encerrado o domingo, a sensação era de alívio. Ressaltaram, ainda, que parte da responsabilidade pela qualidade do alimento que chega ao consumidor final é deles, já que, ao receberem as encomendas dos frigoríficos, também adotam procedimentos de fiscalização.
? Quando o caminhão frigorífico encosta aqui na frente não desse uma peça antes de eu ir lá verificar se estão dentro do padrão, bem embaladas e em estado adequado de conversação. Vários problemas que foram detectados pela polícia federal podem ser identificados por nós, varejistas, quando recebemos as carnes ? conta Maykon Rodrigues, supervisor dos garçons de uma churrascaria de Copacabana.
Na Tijuca, o gerente de outro estabelecimento teve de responder a muitos questionamentos sobre a origem da carne que serve aos clientes neste domingo.
? As pessoas estão precupadas, mas não deixaram de vir à churrascaria. Pensei que o movimento não seria tão grande como foi. Vamos redobrar os cuidados com a fiscalização das peças que chegam para nós, mas estamos tranquilos pois temos fornecedores de muitos anos e somos muito exigentes ? disse Andori Petry.