Entenda o mercado de grãos e como a safra americana impacta Cascavel e os preços globais no último trimestre do ano - Foto: CNA
Entenda o mercado de grãos e como a safra americana impacta Cascavel e os preços globais no último trimestre do ano - Foto: CNA

Cascavel e Paraná - O mercado de grãos entra no último trimestre do ano sob um cenário de estabilidade nos preços e com a confirmação de uma safra americana robusta. Em entrevista à equipe de reportagem do Jornal O Paraná, o consultor de riscos da StoneX, Leonardo Martini, avalia que os fundamentos atuais apontam para um ambiente de abundância de oferta global e pouca margem para altas expressivas, ao menos no curto prazo. “Setembro terminou com a confirmação da safra americana, iniciando a colheita por lá de soja e milho, uma safra com poucos problemas. É novamente uma colheita muito boa vinda dos Estados Unidos. Agora é ver se o grão no silo vai refletir o que o mercado esperava”, observa.

Segundo ele, embora as cotações tenham oscilado nas últimas semanas, os reflexos no mercado físico foram moderados. “A gente viu o mercado oscilando, mas sinceramente o reflexo no físico não foi tão grande assim, porque tivemos Chicago caindo e o prêmio subindo, depois Chicago subindo e o prêmio caindo. Então, o preço em si não refletiu tanto assim. O dólar é que vem pesando mais e trazendo um reflexo negativo, fazendo o produtor segurar o grão, tanto de soja quanto de milho”, explica Martini.

O especialista lembra que o momento também é marcado por um comportamento sazonal do produtor brasileiro, que tende a reter o produto no armazém no fim do ano. “É o período em que o produtor segura mais, até por conta de imposto de renda e porque o foco agora é o plantio. A comercialização vem acontecendo mais lentamente”, analisa.

Volatilidade menor do que o esperado

Apesar das incertezas externas e das oscilações diárias nas bolsas, o comportamento do mercado ao longo de 2025 tem sido mais estável do que se imaginava. “É um ano de volatilidade, sim, mas talvez menos do que esperávamos. Se você olhar o preço do balcão ao produtor, ele está basicamente no mesmo nível do começo do ano. Oscilou, oscilou, mas o saldo é um preço mais lateralizado do que imaginávamos diante de tanta volatilidade”, explica.

Com o plantio em andamento, a atenção do produtor agora se volta às condições climáticas. “A nossa expectativa é colher novamente uma safra gigantesca, na casa dos 180 milhões de toneladas no Brasil. Estamos com um começo de safra muito bom, apesar desses dias mais quentes e secos. Se você olhar, é uma safra que começa melhor que a do ano passado, porque tivemos mais umidade e as chuvas se alongaram mais”, afirma Martini.

Segundo ele, os mapas climáticos indicam o retorno das precipitações nas próximas semanas, o que tende a favorecer o desenvolvimento das lavouras. “Os mapas até janeiro e fevereiro mostram muita chuva acumulada, o que é ótimo para soja e milho. A gente não vê problema, a não ser que esses mapas mudem. O produtor está fazendo a parte dele, está plantando, e temos tudo para que o cenário se concretize”, completa.

Entre as notícias recentes que movimentaram o mercado, Martini destaca o relatório trimestral de estoques dos Estados Unidos, que veio abaixo do esperado. “Os estoques americanos ficaram um pouco aquém do que o mercado projetava, e isso trouxe um reflexo positivo para os preços em Chicago. Mostra que a demanda interna americana pela soja para esmagamento segue muito forte, impulsionada pela produção de biodiesel”, comenta.

Esse fator tem ajudado a equilibrar a relação entre oferta e demanda no mercado interno americano, mas não muda o quadro estrutural de perda de espaço dos Estados Unidos nas exportações. “O Brasil vem ganhando terreno, com uma relação mais próxima da China, enquanto os Estados Unidos perdem espaço. Eles precisam encontrar uma alternativa para essa soja que está sobrando lá, porque vêm de uma sequência de boas safras e isso tem deixado mais soja disponível do que o normal”, avalia.

Martini alerta que, sem um “plano B”, os preços internacionais podem enfrentar novas pressões. “Se eles não tiverem uma saída para esse excedente, já os preços da soja estarão mais baixos”, observa.

Olho nas oportunidades

Para o consultor da StoneX, o produtor brasileiro deve manter a atenção às oportunidades pontuais de mercado, especialmente no momento de travar custos. “O cenário de produção é muito bom e temos bastante grão disponível. Se tudo der certo, virá uma excelente safra novamente. Por isso, o produtor tem que ficar ligado nas oportunidades que tiver para fixar pelo menos os custos”, recomenda.

Martini reforça que esperar a “boca de safra” para definir preços é um risco. “Não é o ideal. Essas movimentações que estamos vendo são fatores de fundamentos, fatores externos. O mercado de grãos é dinâmico, e o produtor precisa ir aproveitando as janelas que aparecem”, conclui.

Preços sem espaço para grandes movimentos

Na avaliação do consultor da StoneX, o mercado de soja e milho deve seguir com preços estáveis até o fim do ano, com variações limitadas por uma conjuntura global de ampla oferta. “Sinceramente, eu não vejo muito espaço para grandes reflexos de preço nos próximos meses, a não ser que falte chuva e o mercado entenda que o Brasil possa ter algum problema. Mas o mundo está muito bem abastecido, tem bastante grão disponível”, diz.

Martini reforça que um eventual aumento expressivo nas cotações dependeria de uma quebra de safra relevante. “A única forma realmente de vermos uma alta brusca dos preços seria uma quebra de safra, seja no Brasil ou na Argentina. Mas é preciso ter cuidado quando se torce por isso, porque pode quebrar na sua região e você não ter o grão para aproveitar o movimento”, adverte.

O câmbio, por sua vez, segue sendo um dos principais fatores de influência. “O dólar é um dos responsáveis por esses preços mais achatados. Se ele continuar nesses níveis, dificilmente veremos grandes puxadas de preço apenas em função do câmbio”, acrescenta o consultor.