A liberação de crédito rural no início da safra 2025/2026 acendeu o sinal de alerta entre produtores e líderes do agronegócio - Foto: IA Gemini
A liberação de crédito rural no início da safra 2025/2026 acendeu o sinal de alerta entre produtores e líderes do agronegócio - Foto: IA Gemini

Cascavel e Paraná - A liberação de crédito rural no início da safra 2025/2026 acendeu o sinal de alerta entre produtores e líderes do agronegócio. O Engenheiro Agrônomo Daniel Galafassi, presidente da Apepa (Associação Paranaense das Empresas de Planejamento Agropecuário), aponta uma retração expressiva nos recursos liberados e o comprometimento do ritmo de produção e de investimento no campo.

“Realmente houve uma redução significativa na liberação de recursos no primeiro trimestre da safra 2025/2026, sendo de 23% para custeio e de 44% para investimentos”, destaca Galafassi. Ele explica que, além dos valores mais baixos, existe um descompasso entre o que foi anunciado pelo governo e o que, de fato, está sendo colocado à disposição dos produtores.

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“Os recursos anunciados e os efetivamente disponibilizados estão muito abaixo do esperado, e grande parte deles não é de origem pública, ou seja, vem com juros não controlados”, aponta.

De acordo com o presidente da APEPA, essa mudança no perfil do crédito tem pesado no bolso dos produtores. “Enquanto a taxa de crédito controlado está em 1,86%, os juros de mercado chegam a 9,35%, o que torna o financiamento bem mais caro e inviabiliza muitos projetos”.

Outro fator que vem dificultando o acesso ao crédito é o aumento da inadimplência registrado na safra anterior. “Com o crescimento da inadimplência, os agentes financeiros endureceram as exigências, passando a exigir garantias reais para liberar os recursos”, observa Galafassi.

Para ele, o cenário requer atenção e diálogo entre o setor produtivo e o governo, a fim de evitar gargalos no financiamento da atividade agropecuária. “É preciso restabelecer condições mínimas de acesso ao crédito rural, especialmente para o pequeno e médio produtor, que dependem fortemente dessas linhas para manter a produção e investir em tecnologia e sustentabilidade”.

Galafassi reforça que a retração do crédito pode ter efeitos diretos sobre a economia rural e o abastecimento. “Se o produtor não consegue financiar o custeio e o investimento, a produção diminui, o que impacta toda a cadeia. O crédito é o combustível da agricultura — e, neste momento, ele está ficando escasso e caro demais”, conclui.

“Ainda não chegamos ao ápice da crise”

A Farsul (Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul) também compactua com a postura da Apepa. Há um movimento de retração nos recursos fazendo este ser o pior momento da história desde o Plano Real, em 1995, indica levantamento apresentado pela entidade. E o alerta dado pela Federação é de que ainda não chegamos ao ápice da crise. “Estamos vivendo uma crise de crédito no Brasil, a maior da história, seguramente”, comenta o economista-chefe da Farsul, Antonio da Luz. Além disso, o crescimento da inadimplência agrava a situação: em julho de 2025, a taxa geral atingiu 5,14%, a maior já registrada, com 1,86% referente a crédito controlado e 9,35% a juros livres de mercado. A previsão da Farsul é de que 194 mil produtores fiquem sem acesso a crédito rural ao longo deste ciclo.

A escassez de crédito, seguro rural e a alta inadimplência sinalizam a necessidade de políticas públicas e estratégias do governo que enfrentem simultaneamente o acesso a recursos e o risco de inadimplência, garantindo segurança e sustentabilidade à agricultura brasileira.

O volume de recursos liberados no Plano Safra 2025/26 somou R$ 105,37 bilhões entre julho e setembro, conforme dados do Sistema de Operações do Crédito Rural e do Proagro (Sicor/BCB), do Banco Central. O valor representa 26% do total de R$ 405,9 bilhões previstos para esta safra, desconsiderando as operações com Cédulas de Produto Rural (CPRs).

Na comparação com o mesmo período do ciclo anterior, o montante liberado caiu 18,5%. No primeiro trimestre da safra 2024/25, os financiamentos haviam alcançado R$ 129,22 bilhões. Também houve redução no número de contratos firmados: foram 616.653 operações em todas as modalidades de crédito, 7,84% a menos do que as 669.116 registradas no mesmo intervalo do ano passado.

O desempenho mais fraco do crédito rural se repete desde o início da nova temporada, justamente em um dos períodos que tradicionalmente concentram o maior volume de contratações. É nesse momento que produtores de diferentes portes buscam financiamento para o custeio e os investimentos da nova safra.

Ao considerar também os financiamentos via CPRs direcionadas – títulos emitidos por produtores e financiados por bancos com recursos obtidos por meio das Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) –, o volume total desembolsado chega a R$ 156,05 bilhões nos três primeiros meses do ciclo atual, segundo levantamento do Ministério da Agricultura.

Desse total, R$ 55,85 bilhões correspondem às operações com CPRs realizadas entre julho e setembro. Com a inclusão desses recursos, a queda no volume de crédito rural efetivamente liberado é menor: 12% em relação à safra passada. Mesmo assim, os números indicam uma desaceleração no ritmo de contratações, o que pode refletir tanto a cautela dos produtores diante do cenário econômico quanto à limitação de recursos disponíveis nos bancos para novas operações.