O mercado de fertilizantes movimenta US$ 25 bilhões todos os anos no Brasil, isso somente em importação do produto de outros países. No começo deste ano, a expectativa era das mais animadoras em relação à aquisição de fertilizantes. Entretanto, em algumas regiões do país, o fator climático alterou totalmente a rota dos produtores rurais, obrigando-os a colocar o pé no freio e postergar a compra desses importantes insumos.
Em contrapartida, o reflexo da seca verificado em outros estados, levando o produtor a ser mais cauteloso na aquisição do fertilizante, é oposta no Paraná e na região Oeste. Por aqui, as vendas se mantêm dentro do esperado.
Pelo lado das empresas de revendas em outras regiões produtoras, a preocupação é com a logística de entrega desses insumos. As margens estranguladas, muito em virtude da baixa cotação das commodities, tem atrasado a comercialização de fertilizantes para o plantio da safra 2024/25 em algumas regiões do Brasil.
Já o Paraná é responsável pelo avanço do plantio, fazendo a diferença dentro do contexto nacional, levando o país a chegar a um percentual de 1,9% de plantio.
O ‘básico’
Para algumas empresas do setor, os produtores têm optado pelo básico e deixando para fazer compras mais volumosas no “prazo final”. Costumeiramente, a demanda sempre é maior nesta época do ano, muito em virtude de o preço ser mais atrativo. O produtor tende a negociar o adubo a ser utilizado no plantio de milho safrinha, porém, não é isso que vem ocorrendo. Depois de um cenário de prosperidade de 2020 a 2023, o momento é de queda no preço das commodities, com os custos de produção não acompanhando esse processo.
O jornal O Paraná conversou com o analista da StoneX, Marcelo Mello, e diferentemente do que tem se falado, o plantio da Safra de Verão 2024/25 não está atrasado. “Talvez essa realidade é verificada um pouco nos municípios do Rio Grande do Sul, severamente afetados pelas enchentes, meses atrás, mas fora isso, no centro-oeste está tranquilo, talvez até um pouco mais adiantado que no ano passado”, descreve. Um atraso pontual deve ocorrer no Mato Grosso, por conta da escassez hídrica, com o plantio devendo começar naquela região no início de outubro, comenta Mello.
O analista também admite uma possibilidade de “enrosco” nas entregas. “Mas não temos observado problemas recorrentes sobre isso, então, a logística se mantém sob controle”.
Soja x fertilizantes
Marcelo Mello também falou sobre a relação de troca “fertilizantes x soja”. É preciso dois fertilizantes importantes para a soja. Do fósforo de alto teor, mais conhecido como MAP (fosfato monoamônico) e também do potássio. “A relação de troca com o MAP está péssima, ruim, principalmente para o milho. Para se ter ideia, está pior do que durante a guerra Ucrânia x Rússia, porque o preço do milho caiu abaixo da metade do que estava em 2022 e o preço do fósforo está mais alto”, explica. O valor do MAP era o dobro do praticado hoje. Contudo, a soja chegava a US$ 18 por bushel (1 bushel de milho = 25,401kg; 1 bushel de soja ou de trigo = 27,216kg), enquanto hoje está cotada entre US$ 9 e 10.
O mercado de fósforo está estreito no mundo, com a China reduzindo substancialmente as exportações do item, utilizado no cultivo dos grãos. Diante do cenário, os produtores podem recorrer à estratégia adotada em 2022, quando o preço do insumo disparou por consequência da Guerra da Ucrânia. Na oportunidade, os agricultores reduziram a utilização dos fosfatados, contando com o estoque da substância já existente no solo.
Um indicador mostra que está mais difícil para o produtor comprar adubos. O Índice de Acessibilidade para a compra de fertilizante varia entre -1 e 1. Quanto mais próximo de -1, menor o poder de compra dos produtores e quanto mais próximo de 1, melhor. Atualmente, o índice no país está em 0,01, próximo da neutralidade, o que sugere que o poder de compra dos produtores é limitado, mas não crítico. Globalmente, o índice é de 0,02, refletindo uma condição semelhante, porém um pouco mais favorável em termos de acesso aos fertilizantes.
O Rabobank já projeta uma diminuição de 1 milhão de toneladas na entrega de fertilizantes aos consumidores finais no Brasil este ano, para 45,5 milhões de toneladas. A redução se deve, sobretudo, à alta do preço dos fosfatados.
Pelos cálculos do banco holandês, os custos gerais de fertilizantes devem apresentar uma redução de cerca de 7% na safra atual em comparação com a temporada 2023/24. Mas o aumento de 6% do MAP limitou essa queda.