Cascavel – É preciso voltar a oferecer assistência técnica e extensão rural aos produtores brasileiros. A avaliação é feita pelo chefe-geral da Embrapa Milho e Sorgo, Antonio Alvaro Purcino, durante visita a Cascavel nesta terça-feira (20) para o lançamento da primeira tecnologia microbiológica desenvolvida no Brasil para a solubilização (dissolução) de fósforo no solo.
Para ele, a falta de assistência técnica coloca em risco o futuro das tecnologias no campo sob a ótica de que os produtos e as tecnologias existem, avançam no mercado, mas nem sempre o produtor tem conhecimento, sobretudo os da agricultura familiar, para a aplicação adequada, o que poderia lhe conferir aumento da produtividade e a própria sobrevivência no campo.
A fala de Purcino está pautada em um dado que revela a face da agricultura brasileira. Das mais de 5 milhões de propriedades, apenas 1%, ou seja, cerca de 50 mil delas, conseguem caminham sozinhas no sentido de aplicação de recursos próprios, tecnologias e conquista de mercados, os considerados grandes produtores.
Ocorre que milhões que estão no meio do caminho e dependem das políticas públicas de financiamento e de conhecimento técnico aplicado estão alijados dessa assistência e da extensão rural.
Isso pode ser ainda mais prejudicado com o processo pelo qual passa o País e o mesmo ocorre neste momento no Paraná, com a fusão das extensionistas, como Instituto Emater, com as empresas de pesquisa, no caso do Iapar (Instituto Agronômico do Paraná).
Para o chefe-geral da Embrapa Sorgo e Milho, é imprescindível que os governos busquem não deixar desassistida uma gama tão elevada de produtores.
Tudo isso vai ao encontro da realidade vivida no campo paranaense, considerado o estado que mais investe em tecnologia no segmento e figura entre os maiores produtores do Brasil.
Segundo o secretário de Agricultura e Abastecimento, Norberto Ortigara, metade das propriedades rurais paranaenses não conta com assistência técnica e extensão rural, ou seja, são mais de 150 mil propriedades que não recebem orientação, algo considerado extremamente preocupante do ponto de vista do desenvolvimento.
Meio ambiente vai afetar mercado
Outro ponto abordado pelo chefe-geral da Embrapa Milho e Sorgo, Antonio Alvaro Purcino, trata do mercado internacional do milho. Hoje o Brasil produz pouco mais de 100 milhões de toneladas do grão por ano, consolida-se como o terceiro maior produtor mundial e começa a ampliar mercados para a exportação.
O País triplicou a produção em poucos anos. Com uma demanda interna de cerca de 65 milhões de toneladas, o excedente é disputado pelo mundo.
Contudo, Purcino lembra que os mercados precisam ser cativados e mantidos, com abertura constante diante das dificuldades de se firmar como fornecedor de produtos na balança comercial. “O governo brasileiro, as trades, as cooperativas deveriam ser mais agressivos no mercado internacional. Se olharmos o número de grandes compradores de milho no Brasil, são poucos. É preciso trabalhar para abrir novos mercados”, sugere.
Purcino afirma “não ter a menor dúvida” de que as recentes polêmicas ambientais vão impactar no cenário internacional. “Temos que prestar atenção no meio ambiente. O mercado europeu é extremamente sofisticado e compra o que quer, com qualidade, quer saber onde você produziu a soja, o milho, se usa trabalho escravo, de crianças… enfim, está atento a isso. Eles [os europeus] compram o que querem não o que a gente quer vender para eles, mas acredito que o agro brasileiro também está atento a isso e sabe que as barreiras não alfandegárias estão impostas”, reforçou.
Quanto ao embate mais recente acerca da preservação da Amazônia, Antônio faz uma ressalva: “Mercado é mercado e guerra é guerra. Há muitos interesses para se falar mal do Brasil porque vão perder mercado para o produto brasileiro, precisamos saber tratar dessas informações, existem muitas fake news, notícias fabricadas. Precisamos prover os governos e o público internacional com informações verdadeiras e sólidas sobre o que está se fazendo em termos de sustentabilidade”, sugere.