
Cascavel e Paraná - Apesar do anúncio de cessar-fogo entre Irã e Israel ser tão firme quanto um fio de cabelo, suscitaram debates em torno das consequências sobre o provável bloqueio do Estreito de Ormuz, uma passagem marítima estratégica localizada entre o Golfo Pérsico e o mar de Omã. A passagem é fundamental para o transporte de petróleo e gás natural para o mundo.
São apenas 39 km de seu ponto mais estreito. O canal é vulnerável a ataques de mísseis marítimos. Entre as consequências, estão o fornecimento de energia e a disparada no preço do petróleo. A disruptura logística global atribuída a um possível bloqueio do estreito, faria com que os navios fossem obrigados a contornar longas rotas alternativas, elevando o tempo e o custo do transporte. Além disso, afetaria o frete marítimo de fertilizantes e insumos agrícolas. Por sinal, o Brasil é responsável por uma importação considerável desses produtos.
Em entrevista a equipe de reportagem do Jornal O Paraná, o técnico do Departamento de Economia da FAEP (Federação da Agricultura do Estado do Paraná), Anderson Sartorelli, disse que a entrada dos Estados Unidos diretamente no conflito, ao atacar as bases nucleares do Irã, mexeu com alguns elementos que historicamente estavam parados. “O que antes era uma possibilidade, com cenários de causa longa, agora, passa a figurar no campo da probabilidade”. O Estreito de Ormuz sempre foi uma ferramenta teórica e geopolítica daquela região. No fim de semana, antes desse anúncio de cessar-fogo, o parlamento iraniano já havia se manifestado favorável ao bloqueio, restando apenas um aceno favorável por parte do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã. “O Estreito de Ormuz é a jugular do comércio global de energia. É um ponto de estrangulamento marítimo mais importante do mundo”.
Temor por colapso logístico
Pelo menos 20% do consumo global de petróleo são escoados ao mundo por esse estreito. A Ásia também muito desse canal, pela dependência do petróleo. China, Índia, Japão e Coreia vão à reboque. O colapso logístico é algo inevitável se o Estreito de Ormuz realmente for bloqueado, cenário até então controlado a partir do cessa-fogo anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump e confirmado por Israel e Irã.
Apesar do fechamento do canal não se confirmar, já há reflexos em torno de toda essa movimentação. “Já estão ocorrendo aumentos nos custos do seguro das empresas que operam no local. A guerra levou as seguradoras a elevarem o valor dos prêmios do seguro, fazendo subir as custas operacionais”, destaca Sartorelli.
O conflito ocasionou a redução do tráfego de navios pelo canal, na chamada zona cinzenta, conhecida pela interferência de sinal e bloqueio de GPS.
O Brasil, como um dos maiores importadores mundiais de fertilizantes, seria um dos primeiros a sentir essa disruptura logística. O aumento de custos ao produtor seria notório, refletindo inclusive na exportação e comprometendo a competitividade em relação ao mercado externo, na ótica do técnico de Economia da FAEP.
O Brasil gastou US$ 13,6 bilhões em fertilizantes importados em 2024 e depende de fornecedores externos para 85% dos 44,3 milhões de toneladas consumidas no ano. Para a safra 2025/26, a previsão é de uma demanda ainda maior, na casa de 47,2 milhões de toneladas, impulsionada pela expansão da área plantada e pela intensificação do uso de tecnologias. Em média, os fertilizantes representam, em média, 30% a 50% dos custos operacionais das lavouras de grãos no Brasil, dependendo da cultura e da região. Na prática, isso significa que qualquer oscilação no mercado global impacta diretamente a rentabilidade do produtor.