Cascavel - Mais do que recursos no orçamento, o Plano Safra precisa de mudanças significativas para atender as principais demandas da agropecuária, setor em constante expansão. Para isso, o Ministério da Agricultura tem o respaldo da Câmara Temática de Gestão do Risco Agropecuário, em que a Apepa (Associação Paranaense de Planejamento Agropecuário), é responsável pela coordenação do GT2 (Grupo de Trabalho 2), dedicado à Inovação Tecnológica, Científica e de Negócio.
O objetivo é o de propor modelos de negócios e de parcerias, visando a estabilidade do mercado de seguros agrícolas em longo prazo, além de produtos e processos inovadores.
O grupo busca ainda modernizar o sistema de informações existente, objetivando a integração com os stakeholders do governo e empresas privadas para apoiar a gestão de riscos no agronegócio. Explorar e desenvolver novas ferramentas de gestão de riscos no agro, promovendo a evolução do ZARC (Zoneamento Agrícola de Risco Climático) é outro desafio do GT2.
A Apepa e demais integrantes da GT elaboram uma proposta para melhorar o ZARC e desenvolver recursos digitais para a gestão de riscos, incluindo a criação de um modelo de inovação aberta, juntamente com o setor privado. A proposta consiste ainda em um sistema de informação centralizado para a gestão de riscos do agronegócio.
Seguro defasado
Em recente audiência na Comissão de Agricultura do Senado, em Brasília, o próprio ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, admitiu que o seguro rural no Brasil é defasado e precisa de uma modernização urgente.
Dos R$ 16,3 bilhões destinados à subvenção do crédito rural, apenas R$ 1 bilhão é reservado para o seguro rural. Essa reformulação tende a reduzir o custo das apólices para os produtores. Estimativas dão conta de que o valor poderia cair entre 0,9% a 1,3%.
A Apepa é umas das entidades paranaenses que tem contribuído para essa mudança. Nas reuniões da Câmara Temática de Gestão de Risco Agropecuário, na capital federal, ela é representada pelo diretor-técnico da entidade, o engenheiro agrônomo Lucas Schauff. A Câmara não aborda apenas assuntos relacionados ao seguro rural. No ecossistema da gestão de risco agropecuário, constam assuntos como a garantia de Proagro, ZARC e tudo o que é ligado à mitigação de risco.
A Câmara Temática de Gestão do Risco Agropecuário foi instituída em maio do ano passado. Nela, a Apepa representa os engenheiros agrônomos, empresas de planejamento e agricultores. “Na Câmara, levamos essa visão mais de ponta, do campo, de quem está na lida diária, nas diversas plataformas de gestão de risco, envolvendo o Proagro e ZARC e outros temas”.
As primeiras reuniões da Câmara foram para debater temas gerais. Na segunda, foram instituídos os grupos de trabalho, divididos por temas específicos. Na terceira reunião, foram definidos os coordenadores de cada grupo. Cada um tem a incumbência de apresentar um pré-projeto em junho e o projeto final em setembro.
OS GRUPOSO
Grupo de Trabalho 1 é focado na Política Integrada de Gestão de Riscos na Agropecuária, com a definição de questões muito além do seguro rural, contemplando também a cadeia produtiva, como riscos de mercado, tecnológicos, sanitários e logísticos.
O Grupo de Trabalho 3 é voltado à Integração Crédito e Seguro Rural, com a finalidade de propor formas de integração entre as políticas de crédito rural do mercado financeiro e de capitais com o seguro rural, visando aumentar a resiliência financeira dos produtores e melhorar o acesso a financiamentos sustentáveis.
E o Grupo de Trabalho 4 é sobre Acompanhamento e Inovações no Programa de Subvenção ao PSR (Prêmio do Seguro Rural), visando ficar atento à execução do PSR, identificando gargalos orçamentários, operacionais e tecnológicos, propondo inovações que possam otimizar a implementação do programa e expandir seu alcance entre os produtores rurais.
A Apepa coordena o GT 2 sobre Inovação Tecnológica, Científica e de Negócio, já deu início ao pré-projeto, tabulado por meio de reuniões envolvendo a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), com foco no zoneamento agrícola. Na reunião com o Banco Central, o GT abordou o Proagro e encontro com as seguradoras.
“Pouco conhecimento aplicado’“
O principal problema detectado é a baixa aplicação do conhecimento técnico agronômico nas operações de política de gestão de risco agropecuário”, aponta Lucas Schauff.
O Proagro, por exemplo, não tem reajuste de honorários aos profissionais há mais de cinco anos, provocando uma debandada dos peritos. A mesma situação é verificada com relação aos seguros. “Não estamos sentindo muito essa falta em virtude do pouco dano no campo, para a sorte do mercado segurador. Mas o dia que a situação for inversa, o mercado todo sofrerá a falta de profissionais para as perícias, expondo a operação a um risco moral”, aponta.
Sem profissionais capacitados, o mercado acaba recorrendo à mão de obra sem experiência e abrindo brecha inclusive para a ação de fraudadores. “Demoramos muito para mitigar esse tipo de situação. Foi preciso educação e capacitação”, comenta o diretor-técnico da Apepa.
Na opinião de Schauff, a desvalorização da informação técnica agronômica também prejudica produtores e as coberturas. “Não é usada a personalização das apólices e isso deixa o seguro mais caro e a cobertura baixa”.Outro ponto alarmante é a desobrigação de projetos técnicos para a contratação de financiamentos, ou seja, não há necessidade de um aval por parte do engenheiro agrônomo, gerando descrédito às operações.
Sobre o zoneamento agrícola, não existe uma personalização. “Dentro do mesmo município, há diferentes tipos de solo e o ZARC não leva em consideração se o produtor faz a rotação de cultura, se ele aplica calcário, práticas agronômicas essenciais para reduzir o risco da operação”, aponta Lucas Schauff. “O problema central atualmente é a desvalorização e a não aplicação do conhecimento técnico agronômico de ponta em que o Brasil é referência”.