Cascavel – Pode até parecer um trocadilho, diante do interesse já manifestado pela Rumo para comprar ou ter a concessão da Ferroeste, mas, diante dos debates cada vez mais focados na possível privatização da estatal, o setor produtivo do oeste está construindo uma agenda positiva para discutir com o governo o rumo e os melhores caminhos a serem percorridos nesse processo. Não quer ser novamente ignorado das decisões sem nem sequer ser consultado.
A Rumo é a empresa que faz o transporte férreo de Guarapuava a Paranaguá e responsável pelas dificuldades da Ferroeste em operar em volume maior, já que é quem autoriza a passagem dos vagões que saem da base, em Cascavel.
Em entrevista recente à Gazeta do Povo, o presidente da Ferrovia, André Luiz Gonçalves, disse que a privatização é o caminho. O governo ratificou que isso deve mesmo ocorrer, embora ainda não fale em datas.
O setor produtivo local quer informações sobre a possível privatização. Para os empresários, a privatização não é ruim do ponto de vista dos investimentos e do melhoramento da infraestrutura, já que hoje a Ferroeste opera com menos de 20% da sua capacidade – pode levar até 5 milhões de toneladas/ano, mas não chega a 1 milhão de toneladas – e há mais de 20 anos vem fechando suas contas no vermelho. Com exceção, por ora, de 2019 que vem acumulando saldos positivos, o prejuízo acumulado é de R$ 115 milhões e sua operação está muito aquém das necessidades, sobretudo no escoamento de cargas até o porto. Sem dinheiro, a renovação da frota foi ficando esquecida, assim como a manutenção dos equipamentos e a contratação de pessoal.
Representando uma das regiões mais ricas e maior produtora de grãos e de carnes do Paraná, setores como o POD (Programa Oeste em Desenvolvimento) estão aguerridos em estimular esse debate. “A privatização é o último ponto a ser debatido. Primeiro temos que entender o mapa ferroviário do Paraná em eixos”, explica o vice-coordenador da Câmara Técnica de Infraestrutura e Logística, Edson Vasconcelos.
Entre os pontos a serem debatidos estão: o econômico, com visão dos investidores, operadores, tempo de concessões, volumes de cargas; engenharia, considerando a atual malha e seus gargalos; capacidades de transporte atual e necessário para suprir as demandas do Porto de Paranaguá, bitolas adequadas; processo regulatório como tarifas, direito de passagem, tráfego mútuo, contrato de operação específico, as subconcessões ou outras modalidades.
Perguntas a serem respondidas
O vice-coordenador da Câmara Técnica de Infraestrutura e Logística, Edson Vasconcelos, adianta alguns dos dados que pretendem que sejam esclarecidos. “A demanda gerada pelo porto para 2030 será de 80 milhões de toneladas, mas na Serra do Mar só descem 10 milhões atualmente. Também temos a Ferroeste como possível contrapartida de uma solução plausível ao Estado, porém temos que saber exatamente quanto vale a Ferroeste… no papel vale menos que meio bilhão [de reais], mas de ativos vale mais de R$ 1 bilhão”, considera, ao reforçar que falar em privatização dependeria do contexto. “Irão resasolver o problema do porto com mais de 60% das cargas chegando por trilhos? Quais as chaves de segurança para não se criar um monopólio? Como a Ferroeste será concedida? Por isso estamos construindo essa agenda positiva com o governo”.
Para Vasconcelos, o importante no processo nem é saber quem será a concessionária administradora, mas não se pode ter trilhos sem ter trem. “Nosso foco é preço e capacidade de carga. Precisamos desses dois itens para o transporte”.
Envolvidos
Esse debate deverá envolver ainda federações, institutos de engenharia, o Crea-PR e o Movimento Pró-Paraná.
Apesar de não ser o foco da agenda positiva, o setor deve ainda se posicionar favorável à antecipação da licitação para as concessões ferroviárias no Estado de 2027 – quando vence a concessão da Rumo – para 2021 em vez da renovação dos atuais contratos. O caminho, nesse caso, seria incluir a Ferroeste nessa licitação. “Mas, independente se for nova concessão ou renovação, o foco é preço e carga. Em resumo, uma ferrovia eficiente com potencial para horizontalizar as cargas, não só grãos ou monocarga, precisa ser uma ferrovia que induza a economia pela eficiência do modal ferroviário”, concluiu.
Reportagem: Juliet Manfrin