Toledo – O que era uma “simples” greve de trabalhadores pode virar escândalo nacional. A paralisação dos serviços de coleta do lixo em Toledo – feita pela empresa Transportec – entra hoje no quarto dia e, segundo os funcionários, os trabalhos só serão retomados depois que medidas eficazes forem tomadas. As principais são o conserto e a regularização dos caminhões que estavam em circulação. Só que o problema se revelou muito maior… A Polícia Militar constatou no sábado que os cinco veículos estavam com placas diferentes dos chassis, indicando serem falsas ou clonadas.
Esse era só o fio da meada… A suspeita é de que a troca das placas tenha como motivação mandados de busca e apreensão dos veículos devido a dívidas. Também foi levantada a suspeita de que alguns dos veículos sejam furtados ou roubados.
Segundo um dos representantes dos trabalhadores, Ronaldo Juan Roque, a mudança das placas vinha intrigando já há alguns meses. Ele conta que os veículos chegavam à empresa com placas de outras cidades e poucos dias depois já rodavam com identificações diferentes.
O vereador Ademar Dorfschmidt (MDB) denunciou o caso à polícia no último sábado. Ele suspeita que essa situação possa estar ocorrendo em outros municípios do País onde a Transportec Coleta e Remoção de Resíduos tem contrato.
Investigação
O vereador vai pedir a abertura de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) no Legislativo de Toledo para apurar a conduta de todos os secretários municipais ligados ao contrato do lixo desde 2017, porque desde então têm sido concedidos aditivos de preços que podem ultrapassar os R$ 200 mil por ano. “Pelo que já levantamos, a empresa tem mais de mil caminhões em todo o Brasil (…) Então, este pode ser um esquema que não ocorre só em Toledo. Talvez tenhamos desmantelado aqui uma grande quadrilha”, alerta.
A Transportec tem sede em Curitiba e faz a coleta seletiva em Toledo há pelo menos duas décadas e a renovação do contrato foi assinada em 2016, com desembolso mensal de R$ 270 mil, totalizando cerca de R$ 3 milhões por ano.
A empresa responsável pela coleta do lixo em Toledo teria sido vendida em 2018 e desde então estaria operando sob novo comando, com a locação dos caminhões. Só que os dados da empresa não foram alterados.
Omissão
Outro objetivo da CPI é apurar possível omissão. Isso porque alguns trabalhadores afirmam que a situação da Transportec foi denunciada ao Município ainda no mês de janeiro. O Município nega.
Problemas são antigos
Os trabalhadores contam que os problemas na Transportec são antigos. Em 2017 eles deflagraram greve pois há um ano reivindicavam melhores condições de trabalho. Segundo eles, apenas parte das determinações judiciais foi cumprida e que muita coisa até piorou.
O problema mais recente é o não pagamento do vale-alimentação, de R$ 500, que deveria ter sido pago semana passada. Mas as denúncias incluem ainda assédio moral, más condições de higiene do banheiro aos coletores, carteiras de trabalho e documentos e profissionais demitidos retidos e até falta de bebedouros. “A gente sai com o galão de água e enche em um posto, ou pede para os moradores encherem, porque na empresa nem bebedouro tem”, reclama Ronaldo.
Funcionários dizem que na greve passada os trabalhadores que denunciaram as más condições foram demitidos, mas garantem que, desta vez, não aceitarão retaliações: “Em 2017, depois da greve, ficou definida uma reunião 30 dias depois, mas estamos esperando até agora… A única reunião que teve foi dias atrás, quando nos avisaram do corte da quinzena, que a gente iria receber [o salário] tudo no pagamento… agora a gente espera que tenha pagamento nesta semana”.
Eles dizem que não têm como voltar ao trabalho: “Os caminhões da empresa não têm condições de circular… Um deles não tem freio, a gente usa uma pedra para calçar… são dois deles parados com problemas mecânicos… não tem luz para a gente enxergar os degraus à noite. Tem posto que não abastece mais porque não recebe, tem borracharia nas mesmas condições, um monte de coisas erradas”.
Hoje há cerca de 50 coletores em Toledo que dividem o trabalho em dois turnos e que recebem, em média, R$ 1.270 de salário mais o vale-alimentação, que está atrasado. No sábado, quando a coleta já havia sido interrompida, o grupo se reuniu para retirar o lixo hospitalar: “Fizemos isso para não deixar os hospitais sem a coleta e pedimos a compreensão da população porque estamos lutando para que as coisas sejam corretas”, justificam.
Secretário pede para Justiça liberar caminhões
O secretário de Meio Ambiente, Neudi Mosconi, garante que o Município não tinha conhecimento das irregularidades na Transportec. “Queremos tranquilizar a população… a coleta vem sendo feita pelos oito caminhões do recolhimento do lixo reciclável [que pertencem ao Município] por profissionais do Município. Vamos manter assim até tudo ser esclarecido”, afirmou.
Mosconi diz que o Município não descarta a possibilidade de rompimento do contrato por se tratar de uma concessão. “A Transportec foi notificada ontem [no domingo] para regularizar a situação e prestar esclarecimentos (…) o rompimento do contrato é uma das medidas que é analisada”.
Mosconi solicitou à Justiça a liberação dos caminhões da empresa para voltarem a rodar, e, para isso, seria “fiel depositário”. Já o vereador Ademar Dorfschmidt lembra que os veículos estão em situação irregular – ao que tudo indica fraudulenta – e que necessitam do conserto.
Outro aspecto que vem sendo negociado é que o pagamento à Transportec que será feito nesta semana seja direcionado para a cobertura da folha de pagamento.
A Transportec
A reportagem procurou a empresa Transportec. Um rapaz chamado Vilson afirmou que o gerente José Galdino Junior saiu de Curitiba com destino a Toledo para tratar da situação. Na sede da empresa em Toledo a informação era que ele estava na prefeitura, mas o Município negou ter agendado encontro com o representante da Transportec ontem.
Reportagem: Juliet Manfrin