Cotidiano

Queiroz Galvão operava rede de propina no exterior, diz Lava-Jato

SÃO PAULO. A Lava-Jato descobriu uma nova rede de propina no exterior usada pela construtora Queiroz Galvão para pagar diretores da Petrobras, revelada nesta terça-feira na Operação “Resta Um”. Há suspeita de que outros agentes públicos tenham sido pagos pelo mesmo canal, mas os pagamentos ainda estão sob investigação.

Líder do consórcio Quip – formado com a UTC e a Liesa para tocar a plataforma P-53 da Petrobras -, a Queiroz Galvão usou uma empresa de Zurique (Suíça), a Quadris AG, para direcionar recursos de propina relacionada a obras que tocava no Brasil. O sistema é semelhante ao criado pela Odebrecht para realizar pagamentos no exterior.

O funcionamento da rede de pagamentos da Queiroz foi revelado pelos delatores Ricardo Pessoa e Walmir Pinheiro – até então presidente e diretor financeiro da UTC – que usaram a rede da empreiteira parceira para realizar pagamentos direcionados aos ex-dirigentes da Petrobras Pedro Barusco e Renato Duque.

A Quadris era usada pelo consórcio não apenas para pagar propina, mas também para comprar insumos no exterior. O sistema funcionava da seguinte forma: quando precisava comprar um equipamento fora do Brasil, o consórcio Quip transferia valores maiores, de forma a sobrar na conta dinheiro para pagar propina.

?A Quadris se transformou em um ?caixa 2? da Quip, formado essencialmente por valores resultantes do superfaturamento de contratos firmados com fornecedores?, escreveu a delegada Renata Rodrigues no pedido de prisão dos acusados na nova fase.

No Brasil, o sistema era operado pelo diretor da Queiroz Galvão Marcos Reis – contra quem o juiz da 13ª Vara Federal Sérgio Moro pediu nesta terça-feira a prisão temporária (5 dias).

No exterior, o gestor do sistema era o suíço Stephan Muller, que viajou dezenas de vezes ao Brasil entre 2005 e 2010 durante o período em que o consórcio Quip trabalhou na plataforma P-53. Uma das reuniões teria contado com a participação de Walmir Pinheiro, diretor da UTC, que relatou o encontro em delação premiada. Pinheiro também entregou para a força tarefa uma tabela com registro de alguns pagamentos da Quadris a mando do consórcio brasileiro em 2007.

A PF identificou dezenas de empresas mantidas por Müller na Suíça, indício de que outras empresas podem ter sido usadas por ele para disfarçar a origem de pagamentos no exterior e dificultar rastreamento dos valores. Intermediário de pagamentos para Barusco e Duque, o operador e delator Mário Goes, por exemplo, apresentou à força tarefa extrato onde consta pagamento para uma de suas contas na Suíça, em valores idênticos à tabela entregue por Pinheiro à força tarefa.

Agora os investigadores tentarão juntar às peças desse quebra cabeça informações de acordos de cooperação entre países, para descobrir novos beneficiários de valores de propina paga pela Queiroz Galvão. Em depoimento, Pinheiro disse que “pagamentos de propina a servidores públicos eram decididos no conselho da Quip”, presidido na época por Ildefonso Collares, executivo da Queiroz, um dos presos desta terça-feira.