RIO ? Entra ano, sai ano, as mulheres são celebradas em seu dia com o mesmo roteiro de sempre: enaltecem sua delicadeza, feminilidade, dedicação e esforço. Não faltam caixas de bombons e arranjos de flores ? o que, na verdade, não é o foco do problema. Neste 8 de março, perguntem às mulheres se elas não desejam e precisam conquistar muitas coisas antes (respeito, por exemplo).
As garotas querem, além de diversão, parafraseando o clássico de Cyndi Lauper, direitos iguais. Nesse sentido, o circuito SOMAS, comandado por um time de mulheres de diversas áreas, criou uma programação em que o laços femininos serão, sim, exaltados, mas com o propósito de formar uma rede de debates, shows, exibição de curta, exposição, apresentação burlesca, DJs, oficina de zine e de montagem de palco e som. Tudo feito por meninas.
Idealizadora do evento, Larissa Conforto contou, em um bate-papo de mulher para mulher, como surgiu a ideia de criar o evento que acontece nesta quinta e vai até a domingo nas zonas norte, sul e centro.
? No início do ano, voltei do Girls rock camp (acampamento de meninas que acontece em Sorocaba), onde fiquei, junto com 76 voluntárias, ensinando e tocando música para 90 crianças. Vivi de perto muitas experiências com outras mulheres, aprendi na prática a lidar com sororidade e isso mudou minha vida ? disse ela, que também toca bateria na banda Ventre. ? Quando voltei ao Rio, estava cheia de ideias na cabeça. Fui a vários lugares, conversei, fui chamando outras manas e comecei a costurar o que virou o SOMAS. É uma sementinha plantada, mas quero que seja um circuito que aconteça todo mês.
Para além do circuito SOMAS, Larissa também ministra um curso de bateria voltado apenas para meninas no estúdio Polo Norte, em Vila Isabel. A aposta é mais um dos meios que ela encontrou para empoderar mulheres.
? A bateria sempre foi um instrumento muito masculinizado, então eu sempre estive nessa militância. O curso se chama “Bateria intuitiva para mulheres poderosas” ? afirmou ela, que não é fã da palavra empoderamento. ? Não gosto muito, porque o poder envolve um subordinado, então eu prefiro “potência”, prefiro “potencializar” mulheres ? completou.
A influenciadora Nuta Vasconcellos, que toca o espaço GWS junto com Marie Victorino, no Flamengo, é uma das colaboradoras do SOMAS. Na sexta-feira, ela vai apresentar a palestra “Chá de autoestima”, em que falará sobre suas experiências pessoais e o lado místico entre o feminino e o poder dos chás.
? O GWS faz eventos focados no empoderamento feminino e na autoestima. Quando a Larissa veio com essa ideia, ela só juntou o que a gente já fazia. Como a pegada dela é mais artística, a gente veio pra somar com outro foco. Encaixou bem ? declarou Nuta, que trabalha na palestra há um ano. ? Será a primeira vez que vou apresentá-la. Coloquei nesse workshop o que eu mesma vivenciei. Conto um pouco da minha história e como eu aprendi com os chás e ervas. Tudo isso tem uma ligação com o feminino muito forte.
Sobre o Dia Internacional da Mulher, comemorado nesta quarta-feira, Nuta aponta para a importância de refletir o motivo dessa data, que não é apenas para “comemorar o ser mulher”.
? Muitas não sabem que o dia é celebrado pela luta da mulher, por tudo que já passamos. Acho que é uma boa data para lembrarmos o que já conquistamos, e o que temos que conquistar. Para reforçar o amor por nós mesmas.
Já para Larissa, é importante dar o mesmo foco para outras datas, como o Dia Internacional da Não-Violência contra a Mulher, que acontece dia 25 de novembro.
? O dia da mulher é todo dia, né? Temos que pensar constantemente na questão de gênero, em como tratamos as mulheres. Essa ideia de “mulher princesa e frágil” já passou. Desde o ano passado estamos discutindo isso nas redes ? ressaltou ela, que acredita que, apesar da mobilização na web, ainda há muito espaço para o fundamentalismo religioso e o preconceito.
Confira a programação completa do circuito aqui.