RIO – Mensagens interceptadas no celular de Carlos Miranda, réu na Lava-Jato e apontado como operador financeiro do ex-governador Sérgio Cabral, revelam mais um de tantos desmandos expostos pelas investigações: a história de um funcionário fantasma do governo do Rio que sequer sabia onde deveria trabalhar.
Relatório da Polícia Federal feito no âmbito da Operação Calicute mostra que, no dia 5 de fevereiro de 2016, Thiago Pessoa de Carvalho Campos procurou Miranda em busca de informações sobre o órgão em que havia sido nomeado anos antes. ?Oi, Carlos, beleza? Preciso de uma ajuda. Naquela época em que eu tinha uma matrícula do estado, era de onde??, questiona Campos.
Miranda diz não saber que ele havia ocupado um cargo comissionado e pergunta se há algum contracheque disponível. ?Tinha. Não sei se tenho mais. Mas eu não aparecia. Então nem sabia onde era. Só sei que era no Palácio (Guanabara)?, afirma Campos.
Em outro trecho da conversa, o funcionário fantasma expõe o motivo da busca pela informação: quer saber se tem direito a receber o triênio, um pagamento adicional feito aos servidores públicos em função do tempo de serviço. Miranda diz achar que o benefício só é dado para funcionários concursados. ?Eu também acho, mas queria ter certeza. Vai que rola, sei lá. Mas também fica feio eu solicitar e nem saber onde trabalhava na época?, argumenta Campos.
Miranda promete resolver o assunto depois do carnaval, mas não há, nos documentos, referência sobre o andamento do pedido. Em outras conversas, Campos pede a Miranda ingressos para o Rio Open, torneio de tênis que acontece anualmente no Rio.
CONTRA A CORRUPÇÃO
Hoje inspetor da Polícia Civil, onde entrou em 2014, via concurso público, Campos tem ido a manifestações de servidores e se pronunciado no Facebook contra a corrupção que levou as finanças do estado à ruína. ?Essa conta não é minha?, escreveu no dia 1º de fevereiro. Em dezembro, fez uma reclamação legítima sobre o atraso de salários: ?Depois de três anos de efetivo serviço, conquisto hoje a minha estabilidade nesse estado falido, que sucateia seus serviços e não faz o básico: pagar salário?, publicou.
No período em que recebeu salário sem prestar serviços efetivos, Campos ganhou R$ R$ 2.350 mensais, em um total de R$ 51.700, em valores brutos. De acordo com a Secretaria estadual de Fazenda e Planejamento, Campos permaneceu no governo entre maio de 2005 e dezembro de 2006, no governo de Rosinha Garotinho, então no PMDB e aliada de Cabral à época. Ele foi nomeado como assessor da Diretoria Executiva da Fundação Cide, que foi extinta posteriormente e substituída pela Fundação Ceperj.
Procurado por telefone, Campos preferiu não responder às perguntas.
? O Carlos (Miranda) já tem problemas demais, eu já tenho os meus. Não quero falar sobre o assunto ? afirmou.