Após cinco anos da gravação de um vídeo que mostra o ex-vereador João Paulo de Lima recebendo dinheiro do ex-secretário municipal Luciano Fabian, o MP (Ministério Público) está prestes a concluir o inquérito civil aberto ano passado para investigar suposto pagamento de propina.
Testemunhas convocadas pelo MP foram ouvidas ontem: o ex-vereador Rui Capelão, presidente de uma CP (Comissão Processante) que apurava denúncias contra o ex-vereador Paulo Bebber – absolvido pela Câmara, mas preso e condenado pela Justiça; o vereador Paulo Porto, que na época presidiu a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) das Pedras – sobre a retirada de pedras da BR-163 pelo ex-prefeito Maurício Theodoro também absolvido pela Câmara; o radialista Valdomiro Cantini, que teria recebido proposta para comprar o vídeo do investigador particular Isac Lira, também interrogado pelo MP.
Na gravação tornada pública em 2017 pelo próprio MP, o ex-secretário pedia que o ex-vereador garantisse o apoio dele ao governo do ex-prefeito Edgar Bueno (PDT). Fabian também explica o que espera de João Paulo e promete vantagens para o então vereador se ele cooperasse com os interesses da prefeitura. "Você vai ter carta branca com tudo. Onde tiver obra tua [será] beneficiado", dizia o ex-secretário na gravação feita por ele mesmo e, segundo o MP, para pressionar o vereador caso ele não apoiasse a administração nas votações.
Uma das votações em que o posicionamento de João Paulo teria sido influenciado foi a que tratou do processo de cassação de Bebber. João fazia parte da comissão que investigava o parlamentar flagrado em outra gravação pedindo “500 paus” para aprovar o Conjunto Riviera (zona norte). Por 11 votos a oito, Bebber foi mantido no cargo.
A reportagem tentou contato com João Paulo que hoje atua em hospital particular da cidade, mas as chamadas foram atendidas pela secretária que não conseguiu transferir a ligação.
A origem
O investigador particular Isac Lira respondeu questionamentos sobre possível tentativa de vender o vídeo ao comunicador Valdomiro Cantini. Lira negou ter procurado o jornalista e disse que o caso o “abalou profundamente e dificultou o trabalho”. Apesar da insistência do MP, Lira negou participação na gravação da conversa entre Lima e Fabian.
A publicação
O radialista Valdomiro Cantini relatou como se deu o contato com Isac Lira, afirmando inclusive que o investigador havia pedido R$ 50 mil pela gravação, mas que ele aceitaria pagar apenas R$ 20 mil. Quando lhe entregaria o dinheiro, Lira desconversou e jamais entregou a gravação. “Tinha um notebook e apresentou a gravação – imagens onde atestava uma negociação envolvendo esses assuntos. Tinha, no conteúdo, relato do o ex-prefeito, vice-prefeito”.
Um dos advogados de defesa de Lima chegou a declarar que Cantini faltou com a verdade sobre o vídeo – a divergência se tratava da cor da camisa de Fabian na gravação.
A investigação
O depoimento do ex-vereador Rui Capelão é o mais longo, com 21 minutos e 58 segundos. Capelão era presidente da Comissão Processante contra Paulo Bebber, formada ainda pelos vereadores Jaime Vasata e João Paulo. O promotor Sérgio Machado insistiu para saber a postura política de João Paulo, se apoiava ou não Edgar Bueno. Capelão disse que João era propenso a aprovar os projetos do Executivo. Sobre a investigação contra Bebber, o ex-vereador disse que o relatório apresentado por João Paulo e Vasata era inconclusivo e por isso apresentou relatório paralelo.
As pedras da 163
O atual vereador Paulo Porto presidiu a CPI das Pedras que investigava o ex-vice-prefeito Maurício Theodoro. Sobre a ligação de João Paulo com o Executivo municipal, Porto disse que “João Paulo era um parlamentar ‘solto em tom de cinza’. Um voto mais solto”.
Já sobre a investigação das pedras, Porto alegou que os membros da CPI (Paulo Bebber e Cláudio Gaiteiro – ambos da base governista) estavam “resistindo” a conduzir adequadamente a investigação. “O relatório pedindo a cassação de Maurício não foi aceito pelos demais membros. Na época, fizeram uma manobra: Gaiteiro e Bebber apresentaram relatório paralelo”.
Veja os vídeos dos depoimentos: