RIO – O costume vem de tempos atrás: quase diariamente, Dalva Crispino de Oliveira,
de 82 anos, posta-se numa cadeira na frente de casa para espiar o movimento. E é
assim que a moradora da Vila Autódromo, na Barra, vê um vasto terreno cheio de
escombros. Das cerca de 700 famílias locais, a de dona Dalva foi uma das 20 que
resistiram. E só agora, a menos dois meses da Olimpíada do Rio, ela enxerga o
que parece uma solução para o lugar. Chegou-se a um acordo, e a prefeitura
confirma para o fim de julho o término da construção de casas para os
remanescentes, na própria área da comunidade.
São 20 unidades, com aproximadamente 60 metros quadrados cada, dois quartos,
sala, cozinha, banheiro e espaço externo para garagem e quintal. As moradias
estão sendo erguidas perto do traçado da rua principal da Vila Autódromo, a
Nelson Piquet, próximo à igreja católica da favela, que continuou de pé. Em
algumas delas, as paredes já começaram a subir. Outras ainda estão na fundação.
Mas o município promete entregá-las antes da cerimônia de abertura dos Jogos
Olímpicos, em 5 de agosto.
Orçadas em R$ 2,9 milhões, as obras incluem a urbanização da comunidade, além
de equipamentos como escola, centro social e quadra de esportes.
? Desde o início das remoções (no fim de 2013), diziam que o miolo da
comunidade ficaria para a gente. Mas as pessoas se assustaram. Começou a faltar
água, luz. Os vizinhos, que deixavam suas cadeiras do lado de fora para
conversar, foram embora. Fiquei praticamente sozinha. Felizmente estão
construindo essas casas. Estou na expectativa. Vai compensar ter resistido tanto
? diz ela.
Entre as famílias que deixaram a favela, segundo a
prefeitura, 268 estavam no traçado de obras ou em áreas de proteção ambiental e
receberam indenizações ou apartamentos no condomínio Parque Carioca,
empreendimento do Minha Casa Minha Vida sob tutela do município, na Estrada dos
Bandeirantes, em Jacarepaguá. As demais aceitaram indenização ou pediram
reassentamento à prefeitura em outros locais.
Para que as novas casas fossem erguidas, nove famílias foram transferidas
para moradias provisórias, em contêineres de apenas um cômodo, na área da Vila
Autódromo ? outras 11 continuam em seus imóveis.