Esportes

O melhor aperitivo para os Jogos do Rio

“No avião com destino a Paulo Afonso, na Bahia, onde participaria do revezamento da tocha olímpica, algumas coisas não saíam do meu pensamento:

1. Que a tocha não poderia apagar justamente na minha mão;

2. Não queria passar vergonha se ficasse emocionada (quando o avião com a chama olímpica chegou ao país, vindo da Suíça, fiquei um pouco, confesso);

3. O uniforme para os condutores da tocha não poderia ficar pequeno nem um saco de batatas;

4. Correria ou andaria?

Fiquei no meio do caminho: andei e corri. Fui alternando porque queria que essa experiência durasse um pouco mais.

No fundo, no fundo, martelava na minha cabeça o conselho de Maria Esther Bueno, ex-tenista campeã de 19 Grand Slams e número 1 do ranking mundial entre 1959 e 1966. Ela participará do revezamento em São Paulo e havia me dito, em uma entrevista anterior, que apesar da idade, 76 anos, jogava tênis todos os dias. Mas que não vai correr porque tem a intenção de prolongar esse momento.

O meu momento durou 2m43, desde o beijo inicial ao final (o beijo é quando um condutor passa a chama para o outro). E foi muito divertido. Mesmo numa cidade diferente, longe da minha casa, sem a presença da minha família. Fiz questão de ter fotos e vídeo. Contei com a ajuda de colegas da organização para os registros.

Antes de chegar no meu posto, eu era a número 94 de 97. E recebi instruções da equipe do revezamento, ao lado dos outros condutores daquela etapa: ‘Quando chegar ao seu posto, não saia do lugar de jeito nenhum! Não abre a tocha antes da hora, só na hora do beijo! E não a empreste para ninguém!’ Achei a instrução número três um tanto exagerada até chegar lá…

Já comecei a ficar nervosa na “viagem” no micro-ônibus até o local exato da passagem. Os condutores eram deixados a conta gotas, um de cada vez, no seu exato ponto no revezamento. E a cerca de 5 minutos do início da passagem. O motorista avisava quando ia parar: ‘Próóóximo!’

Pela janela, vi centenas de pessoas. Famílias sentadas à porta, fazendo churrasco, levantando os bebês e tirando fotos ininterruptamente. Teve gente que levou faixa de protesto, pedindo mais leitos de UTI na cidade. Mas a maioria gritava: ‘Olha a tocha’, ‘Cadê a tocha?’, ‘Quero ver a tocha!’.

Chegou o meu ponto. Desci, e um monte de gente começou a me cercar. Eles pediam fotos, repetiam fotos, queriam tocar e pegar a tocha (e puxam mesmo).

A corrida em si, quando o fogo olímpico esteve comigo — e somente comigo em todo o planeta —, foi muito rápida. Fiquei contente, honrada, e queria repetir tudo de novo. Tive ainda mais certeza da minha empolgação com a Olimpíada no meu país. A verdade é que sempre gostei da cobertura esportiva e principalmente do convívio com os atletas olímpicos. E, desta vez, os Jogos começaram de forma diferente para mim. E se eu já havia achado tudo aquilo especial, imagina a emoção de quem acender a pira no Maracanã.

E pensei, claro, que se fosse possível guardar a chama para acender a churrasqueira lá em casa… Seria um churrasco olímpico!

Vem logo, 5 de agosto!”

A repórter viajou a convite do Bradesco*