Cotidiano

Serra rebate previsão negativa da OCDE sobre economia brasileira

PARIS ? O ministro das Relações Exteriores, José Serra, rebateu os prognósticos negativos sobre a economia brasileira feitos pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgados no relatório semestral da instituição nesta quarta-feira. O chanceler preparou um documento de resposta, entregue ao secretário-geral da OCDE, Angel Gurría.

Nas estimativas da OCDE, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deverá registrar uma queda de 4,3% este ano, e de 1,7% em 2017. A análise dos economistas do órgão prevê que a ?recessão profunda? continuará no país até o final do ano que vem, num contexto de ?grande incerteza política e de revelações contínuas de casos de corrupção que pesam sobre a confiança dos consumidores e das empresas, e provocam uma contração persistente da demanda interna?.

Serra disse ter uma ?visão menos pessimista ou mais otimista? daquela apresentada pela OCDE.

? A OCDE está especulando em relação a algumas poucas informações de que dispõe. Eu apresentei uma visão alternativa, aí não é uma questão de ponto de vista, mas de conhecimento ? justificou.

Entre seus argumentos, o ministro apontou a redução da inflação como fator para a ?retomada de investimentos, da estabilidade de expectativas e uma futura redução de juros?. Citou ainda o desempenho de crescimento da agricultura, ?em torno de 4%?, aumentos da demanda da China por produtos alimentares e da exportação brasileira de manufaturados, e previu uma taxa de câmbio ?em níveis competitivos?.

? O relatório da OCDE não tem esta sofisticação de análise ? resumiu.

Apesar dos ?sinais otimistas?, Serra admitiu que ?isso não significa que a economia vai bombar no ano que vem?.

? O mais importante é sair da trajetória depressiva. A economia brasileira está em depressão. A simples inversão deste processo já representa algo bastante significativo. E eles (OCDE) ficaram bastante persuadidos e impressionados com a argumentação a partir de pontos que eles desconhecem, porque trata-se de um relatório geral ? assegurou.

Em seu relatório, a OCDE insistiu na importância do incerto e conflituoso quadro político brasileiro como entrave para a retomada do crescimento, dificultada pela incapacidade de promover reformas em curto prazo. Neste item, o chanceler também discorda:

? Como a tensão política já diminuiu, comparativamente ao que estava acontecendo há algum tempo, a tendência, com problemas aqui e ali, é na direção de normalização. A incerteza não desapareceu, mas diminuiu bastante. Posso garantir que não é algo para fazer o título: ?OCDE e governo brasileiro divergem?, isso é uma bobagem homérica, até porque eles não têm as informações a respeito do que estava acontecendo.

ACORDO TRIBUTÁRIO

Serra anunciou a ratificação do acordo entre o governo brasileiro e a OCDE sobre a troca de informações tributárias, para evitar a sonegação de impostos, previsto para entrar em vigor em 2018.

? A Receita abre tudo, e eles (OCDE) abrem tudo para o Brasil que nos interessa. É um acordo de extrema importância, uma vez que a OCDE reúne todo o bloco dos países mais desenvolvidos, e boa parte das questões tributárias que nos interessam circulam por dentro dela. Neste mundo internacionalizado, digitalizado, a administração tributária se tornou mais difícil, há mil movimentos possíveis que levam a pagar menos imposto de maneira indevida.

HIDROVIA DO MERCOSUL

Em um encontro com a chanceler argentina, Susana Malcorra, o ministro disse que encaminhou a proposta de um encontro entre países da América do Sul para o combate do crime nas fronteiras, e também a retomada do projeto de uma hidrovia nos limites do Mercosul.

? Vamos trabalhar na direção de criar uma autoridade supranacional sobre a hidrovia, que tem o maior potencial de transportes, e está empacada por fatores absurdos, inclusive por questões de legislação trabalhista na Argentina. O governo argentino passado não tinha nenhum entusiasmo e só fez boicotar. Agora vamos tomar este empreendimento como algo sério, será um grande investimento econômico.

PROTESTO CONTRA TEMER

Pela manhã, um grupo de 15 pessoas fez uma manifestação de protesto pela presença de José Serra na reunião da OCDE, acusando, por meio de cartazes, o ministro de ?golpista? e o governo Michel Temer de ?ilegítimo?. O protesto foi disperso pela polícia, e um dos manifestantes disse à Radio France Internationale (RFI) que as autoridades francesas relataram termos sido advertidas pela assessoria do ministro.

? Eu não pedi, não falei nada. Eles mentiram. Nem soube desta manifestação, foi de oito ou dez pessoas, por aí, e não creio que mereça a menor importância para ser analisada ou falada ? replicou Serra.

IMPACIÊNCIA

Serra não quis comentar as declarações do ex-assessor de Assuntos Internacionais de Dilma Rousseff Marco Aurélio Garcia, que definiu a visão de política externa do novo chanceler como ?medíocre e submissa?.

? Não vou comentar o Marco Aurélio, tenha paciência ? disse em encontro com jornalistas brasileiros na sede da OCDE.