Cotidiano

?Vivemos uma situação drástica?

201606011743054637_AFP.jpgRIO ? Em entrevista exclusiva ao GLOBO, o deputado opositor Luis Florido, responsável pelo pedido de ativação da Carta Democrática por parte da OEA, diz querer uma mudança constitucional, pacífica e por vias eleitorais.

Quais as razões principais para a ativação da Carta Democrática?

Vivemos uma situação drástica. Primeiro, no que diz respeito aos direitos humanos no país, onde temos hoje 115 presos políticos. Temos quatro deputados do estado do Amazonas que foram impedidos de exercer o cargo; três suplentes que estão encarcerados. Vivemos em um Estado que não garante a liberdade de opositores políticos. Além disso, mesmo que tenhamos eleições livres e justas, a soberania do povo foi violada, uma vez que a Assembleia Nacional eleita não pode tomar nenhuma decisão desde que assumiu. Também não há independência e separação entre os Poderes no país. Tudo isso representa uma ruptura da ordem constitucional. Venezuela

O senhor acredita que a Venezuela sofrerá a sanção máxima?

Não queremos isso. Queremos pressionar o Executivo para libertar os presos políticos e permitir a realização do referendo revocatório, que é nosso direito constitucional. O governo, através do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), utiliza um mecanismo paraconstitucional para atrasar o processo, faz uso de labirintos políticos. Por exemplo, a Constituição prevê que tenhamos 20% das assinaturas dos eleitores para convocá-lo, mas o CNE nos obrigou a realizar uma etapa a mais, que consistiu no recolhimento de 1% das assinaturas para iniciar o trâmite.

Maduro acusa a Assembleia Nacional de traição por ter solicitado a ativação do mecanismo. Como o senhor vê essa postura?

Todo Parlamento no mundo, como o brasileiro, o americano ou o peruano, realiza essa diplomacia parlamentar. Por um lado, Maduro precisa entender que a Carta Democrática não foi ativada por nós, apenas solicitamos sua ativação. Por outo, precisa ver que traidores são os que impedem a entrada de remédios no país, são os que levaram a Venezuela à pior crise de sua história republicana, com a inflação mais alta do mundo, os que roubaram até US$ 300 bilhões do país.

Qual a saída para esta crise?

São três fatores. O primeiro é a decisão de mudança do povo. Se Maduro continuar fechando as portas a mudanças, o povo terá que voltar às ruas. O segundo é a decisão da Assembleia Nacional de seguir adiante legislando, sem se render às pressões do Executivo. E o terceiro é a pressão da comunidade internacional. Queremos um mudança em paz, de forma constitucional e pela via eleitoral.

E como o senhor vê a atuação da comunidade internacional?

A comunidade internacional está muito mais ativa do que antes. A expressão dos países da OEA mostra que todos veem de fato que há uma crise na Venezuela, que queremos um diálogo para resolvê-la. Há mais consciência internacional da crise.