RIO Minúsculas partículas de plástico, com diâmetro de até um milímetro, são uma grande ameaça à fauna marinha, aponta estudo publicado nesta quinta-feira na revista Science. Pesquisadores da Universidade Uppsala, na Suécia, demonstraram que larvas de peixe, quando expostas a esses elementos, apresentam mudança de comportamento e têm o crescimento atrofiado, com aumento considerável nas taxas de mortalidade. E tudo por causa de uma preferência alimentar: elas ignoram o zooplâncton e comem apenas o microplástico.
É a primeira vez que pesquisadores conseguiram demonstrar o mal causado por esse tipo de poluição, que vem aumentando muito nos últimos anos, sobretudo por causa da indústria de cosméticos. Os microplásticos podem ser derivados da fragmentação de pedaços maiores, mas também são encontrados em esfoliantes, pastas de dente, esmaltes e outros produtos de higiene e beleza.
Peixes criados em diferentes concentrações de partículas de microplástico tiveram redução nas taxas de eclosão e comportamentos anormais. Os níveis de partículas testados no estudo são similares aos encontrados em muitos habitats na Suécia e em outras partes do mundo disse Oona Lönnstedt, líder da pesquisa.
Por terem preferência pelo plástico em relação ao alimento, as larvas expostas ao microplástico apresentaram problemas no crescimento em relação ao grupo de controle, livre de poluição. Além disso, foi observado uma mudança no comportamento contra predadores. Os alevinos ficaram lerdos e, quando um predador natural foi colocado no criadouro, eles foram capturados mais de quatro vezes mais rápido que o normal, com todos os peixes expostos ao microplásticos sendo devorados em menos de 48 horas.
É a primeira vez que encontramos um animal que prefere se alimentar de plástico, e isso traz grande preocupação disse Peter Eklöv, coautor do estudo.
A pesquisa avaliou o comportamento de larvas de uma espécie de perca, mas o temor é que o mesmo aconteça com outras variedades de peixe.
Se os primeiros estágios de outras espécies forem similarmente afetados por microplásticos, e isso se traduza em aumento das taxas de mortalidade, os efeitos nos ecossistemas aquáticos será profundo disse Oona Lönnstedt.