Cotidiano

Governo interino avalia que Venezuela atrapalha negociações do Mercosul

2016 913126568-201605311810084461_RTS.jpg_20160531.jpgBRASÍLIA – O governo do presidente interino Michel Temer tem como nova orientação de política externa isolar a Venezuela nas negociações de acordos comerciais entre o Mercosul e outros mercados. Temer conta com o apoio do presidente da Argentina, Maurício Macri, que recebeu há cerca de dez dias, em Buenos Aires, o ministro das Relações Exteriores, José Serra. O ministro deverá se reunir, esta semana, com o chanceler do Paraguai, Eladio Loizaga, quando tratará do assunto.

? Ele (Serra) vai tentar trazer o Mercosul para o Brasil e depois isolar a Venezuela, já que tem a Argentina por perto. A gente se entenderia com Argentina, Uruguai e Paraguai. A Argentina de Cristina Kirchner (ex-presidente argentina) sempre atrasou as negociações ? afirmou um diplomata.

A avaliação interna é que a Venezuela passou a ser um vizinho incômodo e tem usado o Mercosul apenas para disseminação de propaganda ideológica, já que as exportações do país são basicamente de petróleo. A tendência agora é fazer justamente o caminho contrário: voltar a negociar com os Estados Unidos sem amarras ideológicas e, enfim, fechar um acordo com a União Europeia.

Essa nova linha de ação não afeta a resolução 32 do bloco, que proíbe que os membros plenos do Mercosul negociem acordos de livre comércio em separado. Um dos motivos é que a Venezuela ainda não se adequou totalmente às regras do bloco. Essa é a mesma interpretação do vice-presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), Luiz Augusto de Castro Neves.

? A Venezuela não está preparada para negociar um acordo comercial com os demais membros do Mercosul. Ela é mais um membro político do bloco. Entrou para o Mercosul porque o então presidente Hugo Chávez queria se projetar ? disse Castro Neves.

Deixar de lado os venezuelanos não é tão difícil assim, disse uma fonte. A Venezuela já está de fora no acordo entre Mercosul e Israel e atua como observadora nas negociações entre o bloco sul-americano e a União Europeia.

Nos bastidores, o governo brasileiro conta, ainda, com a ajuda do Uruguai. A expectativa do Brasil é que o país vizinho apresente uma proposta de flexibilização da resolução na próxima reunião do Mercosul, em meados deste ano. O governo paraguaio, que recebeu bem o governo Temer, também deverá ajudar.

O vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), Mauro Laviola, confirma a expectativa do mercado por uma mudança. Conta, inclusive, que há estudos para defender a não validade jurídica da resolução, que não foi internalizada pelo bloco econômico.

? Tecnicamente, é possível fazer. Não é difícil encontrar arranjos. O problema é uma saída política ? disse ele.

APOIO À GUIANA, DESAFETO DA VENEZUELA

Sem romper de forma explícita a ponte diplomática, Temer mostra com gestos claros a indisposição com o governo de Nicolás Maduro. Na última quarta-feira, o presidente interino enviou como seu representante às comemorações dos 50 anos de independência da Guiana Inglesa o ministro Sergio Etchegoyen (Gabinete de Segurança Institucional), que é general do Exército. A escolha, segundo um auxiliar presidencial, foi cuidadosamente pensada. Primeiro, era importante marcar presença do Brasil num evento que parece tão insignificante. No entanto, o fato de Temer mandar um representante demonstra claramente seu lado a favor da Guiana e contra a Venezuela na disputa histórica por terras que os dois países travam. Há mais de cem anos, a Venezuela reivindica quase dois terços do território da Guiana Inglesa.