Cotidiano

Elias Toubi, médico: ?A imunologia é o mais importante campo da ciência?

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?Sou um árabe-israelense, nascido em Haifa, de uma família que vive ali há oito gerações. Meu pai acreditava que não há outra opção em Israel que não seja árabes e judeus viverem juntos e pacificamente. E é no que eu acredito. É difícil, mas me mantenho otimista: judeus e árabes vão criar muito mais, e muito melhor, juntos.?

Conte algo que não sei.

Nem os cientistas percebem como a imunologia é o mais importante campo da ciência hoje, que está tratando de várias doenças, em muitos aspectos do nosso organismo. Quanto mais governos e ministérios da Saúde entenderem como a imunologia é importante mais vão perceber como deveriam subsidiar melhor os estudos nesta área.

O sistema imunológico é a chave para estudar outras doenças?

Hoje, o estudo imunológico é o carro-chefe da pesquisa de todas as outras doenças. Doenças cardíacas, diabetes ou arteriosclerose, todas estão de alguma maneira conectadas com o conhecimento avançado do sistema imunológico, um dos mais fascinantes sistemas do nosso corpo. Há uma década, pensávamos que as doenças autoimunes eram artrite reumatoide, lúpus, síndrome antifosfolípide, esclerodermia. Hoje, a imunologia nos dá respostas para muitas outras doenças que, até agora, não sabíamos que tinham a ver com a imunologia, como a arteriosclerose e as doenças metabólicas.

É comum falar que reumatismo é ?doença de velho?…

Reumatismo é um termo leigo para mais de cem tipos de doenças. As mais comuns são artrose, ou osteoartrites, principalmente em idosos: mas também em jovens jogadores de futebol e bailarinas. É originada por uma inflamação e pelo mau uso da articulação. Mas, dentre as outras cem doenças, há inflamações autoimunes que podem afetar jovens e até crianças. E essas doenças inflamatórias autoimunes, como lúpus e síndrome antifosfolípide, atingem até mais a população jovem do que os mais velhos. As doenças reumáticas afetam uma larga faixa etária.

Como se prevenir?

?Prevenção? é a palavra mágica para uma grande variedade de doenças. Com boa dieta e exercícios, podemos prevenir doenças cardíacas, diabetes, arteriosclerose. Mas exercícios e alongamentos não vão prevenir reumatismos. Não acredito que possamos prevenir as doenças reumáticas, lúpus, nem nenhuma das doenças autoimunes. O sistema imunológico é herdado dos genes. Então, todas essas doenças têm como característica a predisposição genética – ainda não as compreendemos profundamente, e é o principal estudo ao qual devemos nos dedicar.

Qual a maior dificuldade no estudo dessas doenças?

A principal dificuldade é o lapso entre observar os sintomas e relatar uma doença reumatológica. A mais comum não é o lúpus, uma doença relativamente rara, mas a atrite reumatoide, que se manifesta até cinco vezes mais. Hoje, o conhecimento sobre doenças autoimunes é muito avançado.

As terapias evoluíram?

Há até dez anos, tudo o que podíamos receitar eram esteroides e imunossupressores. Hoje, é fascinante, pois há dezenas de terapias biológicas que estão melhorando a vida das pessoas. As mais avançadas estão relacionadas ao câncer. Até recentemente, lutávamos sem trégua na tentativa de descobrir como controlar a doença. E, nesta última década, compreendemos que o futuro será usar o sistema imunológico para matar as células malignas. Quanto mais estudamos o sistema imunológico, mais próximos estamos de tratamentos de muitas doenças. Seja qual for o gatilho – viroses, ambiente ou outra coisa -, e nosso sistema imunológico é afetado. Por conta disso, muda de comportamento. Entender esse funcionamento é a coisa mais fascinante hoje.