RIO – O número de brasileiros que estavam pagando algum tipo de parcelamento em fevereiro deste ano chegou a 40%, alta de quatro pontos percentuais em relação ao mesmo mês de 2015, segundo a pesquisa Perfil Econômico do Consumidor da Fecomércio-RJ/Ipsos. Entre os endividados, 54% escolheram o cartão de crédito como opção de parcelamento, com alta de oito pontos percentuais. No mesmo período de comparação, o total de consumidores que recorreram ao cheque especial também cresceu três pontos percentuais; em 2015 o índice não atingiu 1%. Somadas, as duas fontes de crédito tiveram em um ano aumento de 11 pontos percentuais, o maior da série histórica, iniciada em 2009.
O carnê aparece como a opção de 43% dos consumidores com algum tipo de financiamento, com baixa de seis pontos percentuais em relação a fevereiro de 2015. Vestuário (29%), eletrodomésticos (23%), alimentos (18%) e eletrônicos (17%) foram os grupos mais parcelados no período. As maiores altas foram nos itens móveis de cozinha e moto, com crescimentos de seis e cinco pontos percentuais, respectivamente.
A pesquisa mostrou, no entanto, que a inadimplência diminuiu. Em fevereiro deste ano, 12% dos endividados estavam com parcelas atrasadas frente a 17% no mesmo mês do ano anterior. O número de consumidores com orçamento equilibrado e com sobra também cresceu três pontos percentuais em fevereiro de 2016 em relação ao mesmo período de 2015, subindo de 81% para 84%. Já o índice de consumidores com orçamento familiar insuficiente caiu de 18% em fevereiro de 2015 para 16% em igual mês deste ano.
O estudo mostra que estamos vivendo um momento de dificuldade, mais consumidores precisam fazer financiamento, usar o cartão de crédito. No entanto, aponta também que isso está sendo feito de forma planejada, o que reflete no número de inadimplentes, que diminuiu avalia Christian Travassos, economista da Fecomércio-RJ.
PÉ NO FREIO
Ele ressalta que o crescimento de quatro pontos percentuais de endividados em um ano, em meio à recessão, não é algo desenfreado. Segundo ele, há um receio em relação ao futuro da economia do país. O número de consumidores que não pretendem comprar algum bem durável, por exemplo, como geladeira e fogão, aumentou de 74% para 78%; e de pessoas com sobra no orçamento, mas que estão optando por poupar, cresceu de 65% para 66%.
Devido à recessão, o consumidor colocou o pé no freio, o que é ruim para a economia do país porque ela também freia. A pesquisa revela que 60% da população não possuem nenhum parcelamento, ou seja, fazem pagamento à vista. Isto é, temos um cenário ruim, mas não é algo galopante pondera.
A costureira Maria Tereza Araújo está no grupo de consumidores que prefere pagar à vista, mesmo que isso signifique esperar um pouco mais para realizar a compra. Há quatro meses, sua panela de pressão explodiu e danificou seu fogão. Mesmo com o funcionamento prejudicado, Maria Tereza continuou usando o eletrodoméstico até juntar dinheiro suficiente para adquirir um novo.
Meu marido e eu ganhamos pouco, não posso ficar fazendo dívidas, por mais que eu precise. Durante esse tempo, aproveitei para pesquisar e ver se diminuía mais o valor, e foi o que aconteceu. Além de não ficar com parcelamento, vou levar o fogão por um preço melhor comemora a costureira.
Assim como Maria Tereza, a empresária Mariana Machado também foge de qualquer tipo de financiamento. Ela destaca que, com o pagamento em dinheiro, na maioria das vezes, ela consegue um bom desconto. Foi o que ocorreu quando a empresária foi trocar seu colchão. Diagnosticada com problema na coluna, a compra não estava em seus planos, ainda assim o parcelamento não foi uma opção.
Eu estava disposta a apagar R$ 1.500, era o que eu tinha. O colchão pelo qual me interessei, no entanto, era R$ 2.900. Mas o vendedor fez de tudo para eu não sair da loja sem comprar e baixou para R$ 2 mil, me dando ainda um travesseiro e uma saia para o colchão. Minha mãe me emprestou o que faltava e eu acabei levando tudo por um ótimo preço conta.