ANCARA – O ministro turco dos Transportes, Binali Yildirim, fiel aliado do presidente Recep Tayyip Erdogan, foi designado nesta quinta-feira para suceder o primeiro-ministro Ahmet Davutoglu à frente do partido no poder e do governo, uma escolha que reforça o poder do chefe de Estado. A decisão foi anunciada pelo porta-voz do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP, islâmico-conservador), Omer Celik, após uma reunião do comitê executivo do partido. Erdogan
Yildirim será formalmente designado líder do AKP no domingo, em um congresso extraordinário. Após o Congresso, Davutoglu apresentará formalmente sua renúncia na segunda-feira a Erdogan, que confiará a Yildirim a formação de um novo governo.
Yildirim, de 60 anos, trabalha com Erdogan desde que este último foi eleito prefeito de Istambul, em 1994.
É considerado um político mais dócil que Davutoglu, que se opôs ao chefe de Estado em diversas ocasiões, como nas negociações com a rebelião curda, que Davutoglu queria continuar.
Sua principal missão será conduzir o projeto de Erdogan de reforçar os poderes presidenciais.
Em Ancara, Yildirim anunciou nesta quinta-feira que está comprometido “em trabalhar em total harmonia” com o presidente Erdogan.
Esta mudança preocupa a Europa, onde Davutoglu, artesão do acordo migratório com a UE, era encarado como uma interlocutor confiável.
‘Trabalhar com e para o presidente’
A abertura da primeira Cúpula Mundial da Ajuda Humanitária na segunda-feira em Istambul, que contará com a presença da chanceler alemã Angela Merkel, pode ser a oportunidade de um primeiro contato com o seu sucessor.
Após a saída de Davutoglu, Erdogan multiplicou os ataques e críticas à Europa, mergulhando na incerteza um acordo de isenção de visto para cidadãos turcos que desejam viajar ao espaço Schengen, um elemento central do pacto para frear o fluxo de migrantes para a UE.
Yildirim rapidamente se estabeleceu como o candidato favorito do AKP, formação criada em 2001 por Erdogan.
“Na noite de domingo, a função do primeiro-ministro terá mudado de direção”, disse à AFP Fuat Keyman, diretor do think tank Istanbul Policy Center. “O presidente será o chefe do executivo. O primeiro-ministro será apenas uma peça funcional no executivo. Ele vai trabalhar com e para o presidente”, acrescentou.
A perspectiva de ver Erdogan reforçar ainda mais o seu poder preocupa seus críticos, que o acusam de autoritarismo, multiplicando os processos por “insulto” contra jornalistas e solicitando o levantamento da imunidade dos parlamentares pró-curdos.
Após o choque causado pelo anúncio da saída de Davutoglu, o AKP tentou transmitir mensagens de unidade, garantindo que não há divisões em suas fileiras.
Mas a instabilidade política refletiu nos mercados, inquietos com a perspectiva de Erdogan aumentar a sua influência sobre a gestão da economia, uma área onde tem demonstrado um intervencionismo crescente.
Sinal desta preocupação, a lira turca perdeu 5% de seu valor em relação ao dólar no último mês.