NO AGRO

Setor frigorífico reverte boicote e paralisa a entrega de carnes à multinacional francesa

Foto: Divulgação
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Cascavel – O feitiço virou contra o feiticeiro. Após a declaração de Alexandre Bompard, CEO do Carrefour, de parar de vender a carne sul-americana dos supermercados da rede na França, em solidariedade aos pecuaristas franceses, contrários ao acordo comercial entre União Europeia e Mercosul, os principais frigoríficos brasileiros devolveram na mesma moeda e decidiram paralisar o abastecimento de carne às 150 lojas do grupo existentes no Brasil. Além dos Carrefour, outras redes do grupo afetadas são Atacadão e Sam´s Club.

Até mesmo o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, reagiu positivamente à postura do setor frigorífico nacional de interromper o fornecimento de carnes à gigante do varejo mundial. Ele classificou o embargo de “protecionismo desproporcional”. Na ótica do ministro, o Brasil tem uma agricultura de larga escala, de volume e segurança de fornecimento. “A reação é desproporcional. Tanto que todos os outros países da comunidade europeia já compreenderam a situação e são favoráveis ao acordo”.

A equipe de reportagem do Jornal O Paraná vem acompanhando de perto a questão desde a semana passada. Inclusive, o boicote da gigante francesa rendeu manchete na edição de sexta-feira. Esse revés nos levou a apresentar alguns questionamentos para a Abrafrigo (Associação Brasileira de Frigoríficos), que encaminhou para a Redação uma Carta Aberta, assinada de maneira uníssona por 44 representantes da cadeia produtiva. Diz o trecho inicial do documento: “Manifestamos profundo repúdio às declarações recentes sobre a suspensão da compra de carnes do Mercosul pelas lojas Carrefour na França. Consideramos esta posição não apenas infundada, mas também desprovida de coerência com os princípios do livre mercado, da sustentabilidade e da cooperação internacional”. E segue: “Tal posicionamento, além de desvalorizar a qualidade e a sustentabilidade das carnes produzidas nos países do Mercosul, prejudica o diálogo e a parceria necessária para enfrentar desafios globais como a segurança alimentar”.

Nos últimos 30 anos, a pecuária brasileira aumentou sua produtividade em 172%, enquanto reduziu a área de pastagem em 16%. Esses avanços foram possíveis graças a um compromisso contínuo com a inovação, eficiência produtiva e práticas sustentáveis. Além disso, nossa legislação ambiental é uma das mais rigorosas do mundo, assegurando o equilíbrio entre produção agropecuária e preservação dos recursos naturais.

Ainda de acordo com o documento, as áreas dedicadas à preservação da vegetação nativa pelo agro brasileiro somam 282,8 milhões de hectares. Isso representa 33,2% do território do Brasil. “Para se ter uma ideia, essa área equivale a um pouco mais de quatro vezes o território da França ou quase oito vezes o território da Alemanha. O Brasil preserva mais que o dobro da área destinada à preservação ambiental em comparação com a França, um dado que questiona a postura crítica do Carrefour em relação à nossa produção”.

Essa decisão, na visa da Abrafrigo, limita o acesso dos consumidores europeus a produtos de elevada qualidade, mais seguros e sustentáveis. “A decisão também pode aumentar a inflação e aumentar as emissões de carbono devido ao transporte de mercadorias locais, menos eficientes”.

O QUE DIZ O CARREFOUR

Em nota, o Grupo Carrefour reconhece os impactos dessa interrupção do fornecimento de carnes pela indústria brasileira. “Infelizmente, a decisão pela suspensão do fornecimento de carne impacta nossos clientes, especialmente aqueles que confiam em nós para abastecer suas casas com produtos de qualidade e responsabilidade”, disse em nota. O Carrefour também informou que a decisão dos frigoríficos brasileiros não gerou desabastecimento de produtos em suas lojas.

Entre os frigoríficos brasileiros que aderiram ao movimento, constam JBS, Marfrig e Masterboi. A Friboi, do grupo JBS, fornece 80% da carne ao grupo e na rede Atacadão, essa margem chega a 100% da totalidade. “Nós, do Grupo Carrefour Brasil, lamentamos profundamente a atual situação e reafirmamos nossa estima e confiança no setor agropecuário brasileiro, com o qual sempre mantivemos uma relação sólida e de parceria. Entendemos a importância deste setor para a economia e para a sociedade como um todo, e continuamos comprometidos com o fortalecimento dessa relação”. A nota continua: “Reiteramos nosso compromisso com o país, o respeito ao consumidor e a transparência em todas as etapas deste processo. Seguiremos trabalhando para resolver essa situação da melhor forma possível, sempre com o objetivo de atender com qualidade e excelência aos nossos clientes”. Informações dão conta de que de 30% a 40% das gôndolas desses supermercados já sentem os efeitos dessa suspensão de abastecimento.

Em números

De janeiro a outubro deste ano, a França adquiriu 40 toneladas de carne bovina in natura o Brasil, conforme dados apurados junto ao Farmnews. Esse montante corresponde a pífios 0,002% do total embarcado pelo País no período, de 1,41 milhão de toneladas. Diante do caso, a Friboi pediu uma retratação mundial para somente assim, retomar o abastecimento normal ao grupo no Brasil.