Assis Chateaubriand – As temperaturas elevadas e a estiagem que castigou o oeste do Paraná por quase 45 dias, especialmente nos municípios lindeiros ao Lago de Itaipu, provocaram perdas nas lavouras de soja por toda a região. Isso provocou uma corrida de produtores ao banco, para acionarem seus seguros agrícolas.
Embora tenham crescido ano após ano, as contratações particulares de seguros tiveram de ser acionadas após anos de calmaria, confirmando agora sua importância aos sojicultores, o que alivia um pouco os prejuízos no campo.
Segundo a Brasilseg, já foram registrados mais de 1,3 mil acionamentos somente na região oeste em decorrência das perdas de produtividade provocadas por fatores climáticos nesta safra.
Na safra anterior, em todo o Paraná haviam sido feitos 70 acionamentos por esses motivos, elevação de mais de 18 vezes.
Em municípios mais próximos do lago de Itaipu, as perdas estimadas, segundo a presidente do Conselho de Desenvolvimento dos Municípios Lindeiros ao Lago de Itaipu, e prefeita de Mercedes, Cleci Loffi, a quebra na produção naquele entorno já beira os 70%, em toda a região a estimativa é que a produção possa cair em pelo menos 20%.
Pelo menos em 137 municípios paranaenses houve acionamento do seguro agrícola, mas 80% dos sinistros se concentram em 35 locais. Os cinco municípios com maior número de comunicados foram: Assis Chateaubriand, Toledo, Marechal Candido Rondon, Palotina e um no noroeste, em Ubiratã.
Agricultores podem se preparar para preços baixos
Toledo – Os sojicultores enfrentam um período difícil em relação à safra em andamento. Além da quebra da produção na região oeste do Paraná, os valores para comercialização devem cair.
A situação é uma consequência do mercado internacional. A queda de braço entre Estados Unidos e China parece arrefecer e, com isso, o país asiático pode retirar a taxação de 25% sobre a soja norte-americana, retirando espaço da soja brasileira.
“Os preços dependerão dessa negociação, pois, se houver abertura de mercado, o produto será adquirido em maior escala dos norte-americanos. A oferta mundial é grande, os estoques dos EUA são os mais altos da história”, explica o analista de mercado Camilo Motter.
Safra argentina
Já na vizinha Argentina a safra de soja vai muito bem, obrigada! A colheita começa em abril e a previsão é de 56 milhões de toneladas de soja, bem melhor que na safra passada, quando teve perdas de 20 milhões de toneladas. “Podemos ter como exemplo a Argentina, que ano passado, mesmo com a quebra, não teve alta no valor da soja”, compara o analista de mercado Camilo Motter.
O valor pago no Porto de Paranaguá pela saca está hoje em cerca de R$ 95 a saca de 60 quilos e deve chegar a R$ 75 na colheita. No balcão, o praticado é entre R$ 66 e R$ 71 a saca. O dólar, que passou de R$ 4 em setembro, agora gira em torno de R$ 3,70, o que interfere negativamente nos preços.
Outro termômetro para a desvalorização da soja é o prêmio pago nos portos. Em Paranaguá, passou de US$ 4 a saca para US$ 1,1: “Reflexo da volta do diálogo entre China e EUA, por isso os prêmios despencaram”, complementa Motter.
Oeste, sudoeste e norte entre os mais afetados
A estiagem afetou em cheio as regiões produtoras de soja: oeste, sudoeste e norte do Paraná. No núcleo do Deral em Cascavel, a estimativa era colher 1,9 milhão de toneladas, mas, pela avaliação preliminar, a quebra já é superior a 8%, só que em alguns locais a perda é gigante: agricultores que na safra 2017/2018 colheram 190 sacas por alqueire, agora estão colhendo 65 sacas, quebra de 66%.
O Núcleo em Toledo tem uma estimativa de colheita de 1,6 milhão de toneladas. Já o Núcleo de Pato Branco espera colher 1,1 milhão de toneladas. O Núcleo de Francisco Beltrão prevê 896 mil toneladas, e o Núcleo de Campo Mourão projeta 2,4 milhões de toneladas de soja.
O maior problema identificado até agora é a maturação dos grãos desuniforme: “Alguns grãos ainda estão verdes e geram clorofila no óleo. De maneira geral, isso não compromete a qualidade – são questões pontuais -, o que mais vai pesar na safra é a perda em produtividade. Em determinadas regiões, a colheita ficou entre 40 e 120 sacas por alqueire”, revela o analista de mercado Camilo Motter.
Essa condição climática desfavorável é compartilhada pelos estados do Paraná, do Mato Grosso do Sul, do Mato Grosso, de Goiás, do Maranhão, do Tocantins, do Piauí e da Bahia. A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) estima uma produção de 118,8 milhões de toneladas de soja – aumento de 2% na área plantada que pode compensar as perdas. Porém, estimativas apontam que a produção pode ser menor, de 110 milhões de toneladas.
Seab divulga primeira parcial segunda-feira
A falta de chuva nos meses de novembro e dezembro acelerou a maturação de soja no Paraná e por conta disso antes mesmo do Natal as máquinas já estavam no campo para a colheita.
Pelo último levantamento do Deral (Departamento de Economia Rural), 11% das lavouras de soja do Paraná estão em desenvolvimento vegetativo, 29% em floração, 43% em frutificação e 17% em maturação. A condição é 12% ruim, 30% média e 58% boa. Até o fim da semana passada já havia sido colhido 5% da área cultivada.
O Estado esperava produzir 19,1 milhões de toneladas de soja, mas em dezembro há havia estimava de 500 mil toneladas de perdas: “As áreas colhidas estão abaixo da estimativa. O clima seco e o calor por dois meses seguidos afetaram a produtividade. Embora ainda não tenhamos dados, os relatos são de redução”, afirma o economista Marcelo Garrido, da Seab. No próximo dia 21 o Estado divulga o primeiro balanço da soja colhida.
*texto editado às 11h43 do dia 28 de janeiro de 2019 para corrigir uma informação: A Brasilseg faz parte da BB Seguros, não a gerencia.
A Brasilseg é uma empresa BB Seguros, coligada do Banco do Brasil nas operações de seguros.
Aqui, são administrados os seguros rurais e agrícolas dos produtores que têm relacionamento com o BB. Por ser o BB o maior financiador da agricultura brasileira (detentor de 70% do mercado de seguros rurais do país), os números da Brasilseg referentes a indenizações refletem o comportamento geral da safra.