BRASÍLIA Três vezes eleito presidente da Câmara, o presidente interino, Michel Temer, agora quer manter distância da disputa, já deflagrada em meio ao processo de cassação do mandato de Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O presidente disse que o colega de partido, de quem é amigo há décadas, enfrenta um quadro dramático.
Reforçando que Cunha não é um problema com o qual ele tenha que lidar, Temer afirmou que eles continuam conversando normalmente e que o recebeu há três semanas.
Ele esteve comigo, acho que há umas três semanas. Fizemos uma análise desse quadro dramático que ele vive, mas ele não me atrapalha em nada. Absolutamente em nada. É natural (que falem que eu trabalhe por ele), eu não tenho que dar atenção a essas coisas disse.
Segundo Temer, trata-se com preconceito a manutenção de conversas com pessoas investigadas ou de outro grupo político.
Aqui no Brasil temos esse preconceito, se acha que não pode falar com ninguém. No governo (Dilma), quando eu falava com a oposição, o governo ficava irritado, dizendo que eu estava traindo o governo, o que é uma ignorância em matéria política. Eu falo com todo mundo. Tenho 33 anos de vida pública, falo com todo mundo reforçou.
Ao ser informado de que há ao menos 13 deputados disputando o comando da Câmara pelos próximos sete meses, devido à possível cassação de Cunha, Temer disse que sábio e não se envolver.
Eu não vou me intrometer nessa disputa. Seria impróprio, especialmente para quem passou tanto tempo lá. Essas composições internas não alteram eventual apoio ao governo. Agora, para não alterar, é preciso que o presidente da República não interfira. Primeiro, porque está invadindo competência de outro poder; segundo, porque acha que o Congresso por si só não tem condições de escolher quem deve presidi-la afirmou.
Segundo o presidente, seria útil que houvesse um candidato único.
Se pudesse haver composição com candidato único, eu acho que seria útil para todos.
COMPOSIÇÃO DO CONGRESSO
O peemedebista evitou criticar os parlamentares e disse que o Congresso sempre teve papel muito adequado no Brasil. Ele afirmou estar ciente de que há críticas em relação à atual composição do Legislativo e admitiu que ele próprio, ao chegar à Câmara, teve uma visão preconceituosa da representação popular. Temer contou que, quando chegou à Constituinte, em 1987, pensava que só quem é sábio teria capacidade de construir um estado. Mas que, depois de acompanhar um colega deputado num churrasco de domingo, em um bairro pobre de São Paulo, entendeu que a representação popular precisava vocalizar os anseios daquele e de todos os grupos da sociedade.
Então não é problema de piorou ou melhorou (a qualidade do Congresso), é saber se todos os setores sociais estão devidamente representados. O que pode ocorrer é voto equivocado, por isso que há temporariedade de mandatos. Se tiver voto equivocado, você conserta isso.
Perguntado sobre a figura do presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), Temer disse que o deputado tem seus atributos, mas se esquivou de citar as virtudes do parlamentar.
Cada um tem seus atributos. Ele é um parlamentar, portanto com todos os direitos recorrentes a um parlamentar afirmou.