É profundamente lamentável que a música brasileira tenha chegado a esse ponto, depois de ter encantado o planeta com a bossa nova, o chorinho, o samba de raiz. Isso é o reflexo da falta de cultura de um país que tem um ensino sucateado pelas aprovações automáticas. O que esperar do funk, das pessoas que se submetem a um pancadão? Seria o cúmulo da vergonha considerar um tipo de música tão vulgar e ridícula como forma de manifestação cultural. Isso sem falar que os bailes funk servem para ajudar a fazer apologia ao tráfico de drogas e armas, que todos já sabem, com letras que fazem exaltar a violência, o crime e a prostituição.
Não que o funk seja a causa disso tudo, mas ele exalta valores que perpetuam essa realidade. É no funk que bandidos viram heróis em suas letras malfeitas e sem poesia. A naturalização da violência, já tão presente na vida de jovens e crianças que crescem em comunidades carentes, a desvalorização da vida e a busca inconsequente por ascensão social só colaboram para maiores índices de morte, tortura, estupro etc. São aspectos do funk que infligem frustração e sofrimento em seres humanos. Os valores das famílias e do amor são trocados pelas facções e pela cultura do estupro.
O funk está ligado à banalização do crime e à vulgaridade. No último dia 21 de maio, uma menina de 16 anos sofreu um estupro coletivo após um baile funk na Zona Oeste do Rio de Janeiro. O caso chocou o Brasil e o mundo, abrindo uma série de polêmicas. E quando o caso parecia não ter novas notícias, os marginais utilizaram uma letra debochando da jovem na internet. Os “pegadores” cuspiram na cara da sociedade, da lei.
Funk não é cultura da favela. É cultura dos bandidos. Os que moram na favela não consideram os traficantes como heróis, como o funk canta. Não odeiam policiais como o funk canta. Respeitam mulheres e crianças. Enfim, o funk não representa o pobre. Defender o funk é defender que o morador da favela continue refém do tráfico.
Encaramos esse movimento como destruidor de famílias, ou vamos continuar sendo hipócritas achando que as comunidades gostam de conviver com tiroteios, que é normal ver suas crianças sendo aliciadas, que é legal fazer de sua porta ponto de venda e consumo de drogas e que é cinematográfico presenciar os traficantes exibindo suas poderosas armas.
E quem não gosta do funk e ainda tem a infelicidade de morar próximo a lugares onde se realizam a bagunça, não pode sequer reclamar do barulho excessivo que se estende madrugada adentro. Caso o cidadão resolva chamar a polícia, certamente depois vai receber ameaças à sua integridade física. Som alto não é só desrespeito. É contravenção e crime. Enfim, o funk não é cultura. É uma ameaça devastadora.
Milton Rangel é deputado estadual, líder do DEM na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro