SÃO PAULO ? Alice Braga ouviu falar pela primeira vez do romance ?A rainha do sul?, do espanhol Arturo Pérez-Reverte, há cerca de oito anos, graças à amiga Justine Otondo, produtora e roteirista. Elas pensaram em fazer uma adaptação, mas não conseguiram negociar os direitos autorais, pois, já havia, na época, um estúdio trabalhando numa versão cinematográfica, que seria estrelada por Eva Mendez. Mas o filme nunca se concretizou. Passaram-se alguns anos e, em 2011, o canal espanhol Telemundo estreou uma telenovela baseada na obra literária, com a atriz mexicana Kate del Castillo como a protagonista Teresa Mendoza, um papel feminino forte, que havia atraído Alice. Agora, finalmente, ela conseguiu pegá-lo. Produzida pela rede americana USA Network, ?A rainha do sul? encarnada pela brasileira começa a ser exibida no Brasil, pelo canal Space, no dia 7 de julho, às 22h30m. Links Alice Braga
? Fiquei com a personagem na cabeça desde que a conheci, achei-a muito forte e apaixonante, inclusive na versão da Telemundo (exibida no Brasil pela Globosat+ e disponível na Netflix). Passou o tempo, e me convidaram para interpretá-la. Tereza se encaixa na discussão sobre o protagonismo feminismo nas artes, que busca personagens mais fortes e autênticas para as mulheres. Não é como as personagens feitas especificamente para o universo feminino, uma mulher em busca de marido ou que acabou de se separar. Ela é alguém que poderia ser um homem, poderia ser interpretado por um ator ? diz Alice.
A personagem em questão começa a história com o namorado, Güero, assassinado numa disputa pelo controle das drogas no México. Ela foge para os Estados Unidos, une-se a uma figura de seu passado e se torna uma poderosa chefe do tráfico.
Com participações em vários filmes estrangeiros, Alice rejeita a ideia de ser escalada só para fazer personagens latinos estereotipados, embora reconheça que essa tendência é forte até no cinema brasileiro, quando este retrata a camada mais pobre da população:
? Eu sou latina e tenho sotaque, então, nada mais natural do que ser escalada para papéis assim. Só que tive a sorte de não fazer personagens caricatos. Em ?Território restrito?, eu era uma imigrante ilegal, mas estava dentro do contexto. A Teresa é um ser humano, uma pessoa que passa por uma tragédia. Estive conversando com o Wagner (Moura), e a gente percebeu que todo favelado é sujo ou bandido. É só fazer pobre que você fica sujo. Às vezes, temos esse estereótipo no nosso próprio país.
ATRIZ APONTA DIFERENÇAS COM ‘NARCOS’
Comparações com o trabalho de Wagner Moura em ?Narcos?, diz a atriz, são bem-vindas. Ela ressalta, porém, que há diferenças importantes entre as duas séries:
? ?A rainha do sul? procura não glamourizar essa coisa de drogas. A cocaína é coadjuvante, não faz parte da história dela, que é o que interessa. Em ?Narcos?, ele (o diretor José Padilha) segue a cocaína.
Orgulhosa da participação de Sônia Braga, a tia famosa que a inspirou a ser atriz, Alice disse estar curiosa para assistir a ?Aquarius?, longa de Kleber Mendonça Filho que disputou a Palma de Ouro em Cannes. A atriz também aprovou os protestos da equipe do filme naquele festival:
? Todos os protestos são válidos. Para a população de um país, é importante batalhar pelo que acredita e trazer a discussão à mesa. Estamos passando por um processo de transformação muito duro, e é necessário as pessoas falarem o que acham. Não acredito que as pessoas precisem entrar em atrito por causa disso.