DIA DAS MÃES

Ser mãe é amar, acolher e cuidar de alguém

Ser mãe é amar, acolher e cuidar de alguém

Cascavel – Neste domingo, dia 12 de maio, todos paramos e voltamos nossas atenções de forma mais especial para as mães. Não é apenas um dia para comemorar, mas uma oportunidade a mais para reconhecer o valor de quem gera filhos, gera vida. Como o título da matéria sugere, ser mãe, além de gerar vida, é também amar, acolher e cuidar de alguém. Não apenas biologicamente, mães são mulheres que dedicam sua vida cuidando e promovendo o bem daqueles que estão sob os seus olhares atentos, das formas mais variadas, mas sempre alicerçadas no amor.


Para homenagear todas as mães nesta data tão singular, a reportagem do Jornal O Paraná foi conversar com uma pessoa tão especial quanto a data. Dona Dirlene Terezinha dos Anjos Dias, tem 67 anos e nos últimos 10 anos tem se dedicado a abrir a sua casa e o seu coração para os filhos de outras mais que agora são os seus filhos. E ela afirma, com muita satisfação que, neste domingo, que está “muito alegre e elogiada” por toda a sua história de vida.


Com uma energia brilhante e um sorriso no rosto, Dona Dirlene recebeu a equipe de reportagem na sua casa que, desde que abraçou o Programa Família Acolhedora, vem recebendo reformas e melhorias para oferecer maior conforto aos seus “novos filhos”. Ela fez questão de mostrar a casa que estava bastante organizada e com detalhes peculiares de quem tem, atualmente, “cinco filhas do coração”.


O Programa de Acolhimento da Família Acolhedora é voltado para crianças e adolescentes afastados de suas famílias por medida de proteção. Neste serviço, famílias previamente cadastradas recebem os menores em suas casas e cuidam delas enquanto não é definido o retorno para suas famílias de origem. Este tipo de acolhimento é indicado àquelas crianças e adolescentes cuja avaliação da equipe técnica indique possibilidade de retorno as suas famílias de origem ou, na sua impossibilidade, são encaminhadas para adoção.

Coração grande
Dona Dirlene já não consegue contabilizar quantos bebês, crianças e adolescentes já abrigou desde que entrou no programa. Atualmente moram com ela cinco meninas com idades de 7 meses, 11 anos, 16 anos e duas com 17 anos, que segundo ela precisam seguir as regras de uma família tradicional, incluindo rigor nos horários da escola. Contudo, elas têm um lar com todo o cuidado e o carinho que ela pode dar. “O meu amor é o mesmo porque são todos filhos do coração”, disse.


Ela e o marido, João, tiveram apenas um casal de filhos que hoje tem 47 e 37 anos, inclusive a filha também é uma mãe acolhedora que seguiu os passos dela e, sozinhos decidiram abrir as portas da sua casa – e do coração – para abrigar aqueles que sendo destituídos dos seus lares, por uma série de motivos, precisam de uma família. “Quando eles chegam, a grande parte traz consigo um sofrimento muito grande, que temos que ir trabalhando e lapidando diariamente”, destacou.


Além disso, tem ainda o vínculo com a família biológica e o desligamento repentino que traz uma série de consequências. Por isso, tanto a família quanto o abrigado têm toda uma rede de apoio, que conta com 20 profissionais desde psicólogo até assistente social, para ajudar nesse processo de reinserção familiar. Dona Dirlene fez questão de ratificar durante a entrevista, o quanto as famílias têm apoio dos órgãos e profissionais envolvidos no programa para as tarefas do dia a dia. “Temos acompanhamento e atendimento 24 horas, quando precisamos é só acionar”, afirmou.


Sobre alguns episódios que ocorreram desde o começo do ano com duas famílias acolhedoras – o caso do sequestro da menina Ágata e da morte da Kesya no último domingo (5) – Dona Dirlene afirmou que foram fatos isolados, infelizmente, e que as “mães acolhedoras” fazem o seu melhor; toda a rede de proteção que existe no acolhimento é um “exemplo de cuidado”. “Digo que recebemos passarinhos que quebraram a asa e que precisam de todo cuidado. Sou uma mãe que recebe seus filhos. O que manda no acolhimento é o amor”, resumiu.

A Reintegração
Dona Dirlene lembrou de vários momentos em que os seus “filhos acolhidos” foram reintegrados à família original que, para ela, é o momento de maior sucesso do programa, já que tanto o acolhido como a família estão preparados para voltarem a ficar juntos. “É muito prazeroso cuidar e depois deixar voar. Tenho filhas do coração que foram acolhidas e que hoje são mães. E eu me sinto avó dessas crianças, porque conclui o meu trabalho com sucesso, transformando-as em mães de família”, comemorou.


Perguntada sobre qual história, dentro muitas, que mais a marcou, Dona Dirlene contou que em 2020 abrigou um bebê de apenas 10 meses que havia sido espancado pelo padrasto e que corria risco de vida. “A médica me disse que ele não ia falar, nem andar e, quando ele saiu daqui, para voltar para a família, ficou com os seus tios, ele estava em plena saúde e isso me faz uma vencedora”, celebrou a mãe e avó acolhedora.
Ela também já cuidou de crianças soropositivas que, segundo ela, vivem hoje uma vida normal e saudável resultado do carinho, do cuidado e do amor. “Sou uma pessoa de muita fé e faço tudo isso com muito amor. Tenho respeito por eles e também construo uma relação igual. Aprendi e aprendo muito com os meus acolhidos e, enquanto eu puder, serei uma voluntária ajudando e protegendo aqueles que precisam”, finalizou.


Programa tem “150 mães”

Hudson Moreschi Júnior, agente da Secretaria Municipal de Assistência Social, que acompanhou a entrevista, explicou que o programa existe desde 2006 e que, atualmente, conta com 150 famílias e 230 acolhidos. Ele funciona em parceria com a Promotoria da Infância e Adolescência e com a Vara da Família. Por ano são investidos cerca de R$ 4,5 milhões, sendo R$ 3 milhões para o pagamento da bolsa as famílias no valor de R$ 1.050,00 mensais por acolhido e o restante para a folha de pagamento dos servidores.


Moreschi explicou que todo um trabalho é feito com a análise para decidir com qual família o acolhido deve ser direcionado, uma vez que cada um traz consigo uma história e um hábito familiar, analisando perfis, famílias e que eles consigam se adaptar um ao outro. “O nosso principal desafio é com o comportamento. Muitos deles acabam sendo inseridos em novos costumes, uma mudança de regras e de comportamento e, por isso, tenho uma grande rede de proteção num trabalho bastante sério por traz de todas essas mães”, descreveu.