Cotidiano

Festival Mirada terá 43 peças e destacará cena teatral da Espanha

INFOCHPDPICT000060502938RIO ? Angélica Liddell, 50 anos, costuma dizer que desobedecer as regras é a única maneira de criar e manter o seu teatro vivo. Rodrigo García, 52, dá voz ao que não se ouve comumente, evitando usar a palavra que a plateia espera. Expoentes do teatro contemporâneo internacional, a atriz, autora e diretora espanhola e o autor e diretor argentino (radicado na Espanha) são dois emblemas daquilo que o Mirada ? Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas de Santos busca para este ano, quando realiza a sua 4ª edição e apresenta a Espanha como país homenageado.

Bienal, o Mirada anunciou nesta quinta-feira a sua programação, que acontece entre 8 e 18 de setembro. Ao todo, serão 43 criações vindas de 12 países ? 28 internacionais e 15 nacionais. Da Espanha virão oito obras, entre elas ?4?, de García, que abre a mostra, nos dias 8 e 9, no Teatro Sesc Santos; e ?O que eu farei com essa espada??, de Angélica Liddell, nos dias 12 e 13. Entre as atrações brasileiras, a expectativa fica por conta das estreias nacionais de ?A comédia latino-americana?, de Felipe Hirsch (dias 12 e 13) e ?Leite derramado?, adaptação do romance homônimo de Chico Buarque dirigida por Roberto Alvim (dias 15 e 16).

Com investimento de R$ 5 milhões ? R$ 3,5 milhões do Sesc e cerca de R$ 1,5 milhão vindos de fora do país ?, o Mirada mantém em 2016 o mesmo volume de produções que marcou suas edições anteriores. Diante de uma crise econômica que afeta diretamente as arrecadações do Sesc e, portanto, seu poder de investimento, o diretor regional do Sesc São Paulo Danilo Santos de Miranda, que também é um dos curadores do festival, defende que o Mirada é parte de uma ação estratégica:

? Num ano como esse, em que fomos afetados pela crise, pela queda na arrecadação, tivemos de enxugar custos, economizar, e com isso pudemos manter a força de ações como o Mirada.

Copatrocinador de outros festivais importantes, incluindo a Mostra Internacional de Teatro de São Paulo (MITsp), o Sesc SP vê no Mirada uma chance de ?fortalecer a vocação internacional de Santos, uma cidade portuária?, segundo o presidente da instituição.

? O Mirada é um festival que olha para o Brasil, a América Latina e os países ibéricos, e Santos vira um ponto de encontro ? diz ele.

Após homenagear Argentina (2010), México (2012) e Chile (2014), o Mirada foca no teatro espanhol com a intenção de evidenciar o que a cena contemporânea do país tem apresentado de mais transgressor e renovador em aspectos formais e literários. Na metralhadora verbal e imagética que faz girarem as encenações de García, por exemplo, estão misturados galos que calçam tênis esportivos, minhocas presas por plantas carnívoras, homens que chafurdam num sabonete gigante, entre outras imagens que alvejam o consumismo e fazem refletir sobre a violência contra a mulher, o velho, o adolescente e a criança. O trabalho de Angélica Liddell, por sua vez, se inspira em dois chocantes atos: o do canibal japonês Issei Sagawa, que em 1981 esquartejou a namorada e declarou tê-lo feito por amor; e os ataques que deixaram 130 mortos em novembro de 2015, na França.

? É um teatro radical, que inova do ponto de vista temático e formal, buscando novos modos de fazer ? afirma Miranda. ? São trabalhos que não podemos chamar apenas de teatro, pois são mais do que uma única linguagem. São muitas linguagens se cruzando numa relação criativa. É um teatro firme, corajoso, que enfrenta os temas do país como a imigração, os refugiados, as questões de gênero e as mazelas do mundo, mas a partir de um olhar que nos fortalece.