Empregos RIO – Existe um paradoxo no mercado de trabalho brasileiro. Enquanto as filas de desempregados em busca de uma vaga não param de aumentar, os recrutadores continuam a enfrentar um problema antigo: não encontram mão de obra qualificada para as vagas. Um estudo feito recentemente pela Fundação Dom Cabral (FDC) com cerca de 200 empresas mostrou que 49% delas têm vagas não preenchidas por esse motivo. O mesmo panorama foi desenhado por uma pesquisa da companhia de recrutamento Robert Half com diretores de RH. Segundo o levantamento, 47% deles afirmam ser muito desafiador encontrar profissionais qualificados.
A principal razão para isso, de acordo com a pesquisa da Robert Half, é a escassez de especialistas técnicos (55%) e a existência de uma demanda geral superior à oferta (21%).
? Há um apagão de mão de obra visto que a educação formal não acompanha a demanda das empresas ? resume o gerente de divisão da empresa, Fábio D´Ave.
Coordenadora do curso de Analista de RH e professora de MBAs da Fundação Getulio Vargas, Anna Cherubina Scofano concorda. De acordo com ela, essa realidade é muito latente em níveis operacionais e no segmento de produção. Mas isso não significa que os demais estejam livres do problema.
? Em geral, a educação vive um ritmo diferente do mercado, seguindo regras mais rígidas, enquanto as empresas são regidas pelo dinamismo global. Muitas vezes, as instituições falham em preparar os jovens para enxergarem esse mercado e gerenciar suas carreiras ? observa ela.
Para superar essa barreira, muitas empresas passaram a cuidar da qualificação dos profissionais. O levantamento da fundação Dom Cabral identificou que 78% das companhias já oferecem algum tipo de capacitação para seus quadros.
? É um mal necessário ? comenta o um dos coordenadores da pesquisa e professor da instituição Paulo Resende. ? Há um desalinhamento entre as necessidades das empresas e o que o governo oferece no seu sistema tradicional de formação e qualificação. Então, resta às companhias assumir esse papel de capacitação num grau superior ao esperado.
QUESTÃO GEOGRÁFICA
Além das baixas na formação, questões operacionais também atrapalham. Resende ilustra isso com a inexistência de um cadastro nacional de mão de obra qualificada no Brasil.
? Às vezes, há uma empresa no Sul com necessidade de um determinado profissional, cuja oferta de mão de obra é uma realidade no Nordeste. Como a empresa não tem acesso a este cadastro, acaba fazendo o recrutamento no âmbito local, com profissionais menos qualificados. É o que chamamos de paradoxo brasileiro: as altas taxas de desemprego e o não suprimento das demandas de contratação ? exemplifica o professor.
Para a coordenadora adjunta de Gestão da Estácio de Sá e gestora da Comissão de Recursos Humanos do Conselho Regional de Administração do Rio, Mara Braile, se houvesse uma aproximação entre os empregadores e os centros de formação, a situação melhoraria bastante.
? Quando se fala em cursos técnicos, não se discute as especificidades. A empresa tem que estar próxima das escolas para mostrar quais técnicas, de fato, são necessárias ? diz, completando com um exemplo: ? Trabalhei dois anos na área de óleo e gás e, ao procurar profissionais para atuar com oleodutos, simplesmente não encontrava.
Para quem está em busca de uma vaga, esse quadro não deixa de revelar a existência de oportunidades. Neste caso, é preciso entender melhor as questões e se preparar para isso.
? Cabe ao candidato estudar a empresa e o cargo almejados. Em seguida, tem que entender quais são seus pontos fortes e fracos. Por exemplo, uma pessoa graduada que não fala inglês já tem um ponto a ser ?atacado? ? recomenda Mara.
E caso faltem recursos financeiros para investir num curso, isso não deve ser um problema, como pondera Mara:
? Hoje há muito conhecimento disponível na internet para que as pessoas se desenvolvam. Cabe a elas investirem em si.
EMPRESÁRIOS BUSCAM ESTRATÉGIAS
Empresários de diferentes níveis vivenciam rotineiramente as dificuldades de encontrar profissionais com as características desejadas. Pense numa boulangerie sem croissant. Foi exatamente este o caso do empresário Rodrigo Ayres, sócio da Boulangerie Carioca, na Barra.
? Não conseguíamos encontrar um especialista em massa folhada, como croissant, e ficamos cerca de quatro meses sem ter o produto na loja até achar um profissional para produzir com qualidade ? conta ele. ? Encontrar padeiros que fazem pão francês e baguete é relativamente fácil. Mas se o produto é mais específico, a situação começa a mudar.
Ayres chegou ao chef que ocupa o cargo atualmente através de várias indicações. Mas desde que enfrentou essa experiência, começou manter um contato mais próximo com os centros de formação profissional, para evitar futuros problemas do tipo.
? Criei esse vínculo para que seja mais fácil me abastecer de capital humano quando preciso ? diz ele.
A superintendente de Gestão de Pessoas da seguradora Mongeral Aegon, Carla Muniz, destaca que quando isso acontece com uma área-chave para o negócio, o desafio é ainda maior.
? A pressão para o fechamento da vaga aumenta muito ? comenta ela. ? Recentemente, vivemos uma situação de turnover acima do habitual em um setor importante da companhia. Isso demandou uma estratégia de reposição ainda mais ágil e produtiva.
Para dar conta, a empresa fez uma série de reestruturações:
? Ampliamos nossa fonte de recrutamento, buscando profissionais por meio de hunting e implantamos um novo plano de carreira e desenvolvimento para os profissionais. Com isso, não apenas conseguimos cumprir a meta de contratação, mas também aumentamos o índice de satisfação e retenção da área.
EMPRESA ATRAENTE
Fora da curva, a Radix Engenharia e Software leva, em média, sete dias para preencher uma vaga aberta. Em alguns casos, dois dias bastam. Segundo a coordenadora de RH da empresa, Claudia Pittioni, participar frequentemente de eventos universitários, como semanas acadêmicas, e aceitar indicações dos funcionários são alguns dos segredos do sucesso. Outro ponto importante é ter uma equipe própria para cuidar dos recrutamentos.
? Quando precisamos de um profissional, não medimos esforços para encontrá-lo. E, como fazemos tudo internamente, nossa equipe conhece muito bem as necessidades do negócio. Isso facilita muito ? diz ela.