Cotidiano

Museu do Amanhã e instituição britânica promovem troca de conteúdo

2016_905422218-201604261317184758.jpg_20160426.jpgComo diretor do Science Museum Group, Ian Blatchford tem uma difícil, mas gratificante, missão: traduzir o conhecimento científico para o público em geral. E ele tem sido bem-sucedido. O grupo controla, além do londrino Science Museum, o National Railway Museum, em York; o National Media Museum, em Bradford; e o Museum of Science and Industry, em Manchester, que atraem em conjunto cerca de seis milhões de visitantes por ano. E essa expertise, acumulada ao longo dos últimos 150 anos, será compartilhada com o Museu do Amanhã, que assinou ontem um termo de cooperação científica e museológica com a renomada instituição britânica. Santos Dumont – Museu do Amanhã

? Nós iniciamos as conversas há dois anos. O Museu do Amanhã ainda estava no papel, mas o conceito parecia muito promissor ? diz Blatchford, que mantém parcerias deste tipo com apenas outras três instituições no mundo, na França, Alemanha e Itália. ? Temos poucas parcerias porque somos muito seletivos.

No olhar do especialista britânico, que antes de dirigir o Science Museum foi vice-diretor do Victoria & Albert Museum, o mais importante museu de Londres, o Museu do Amanhã cumpre bem o papel de atrair a atenção do público, tanto que o equipamento está prestes a cruzar a marca de um milhão de visitantes menos de um ano após a inauguração. Blatchford elogiou a arquitetura, que classificou como o ?triunfo? do espanhol Santiago Calatrava, e se disse ?fascinado? pelo conteúdo, tanto que já faz planos para o contrato de parceria recém-assinado.

? O meu museu tem sete milhões de objetos na coleção. Este foi construído em cima de uma folha em branco, e isso é excitante. Uma das coisas que mais me impressionaram foi o uso do espaço. O Museu do Amanhã é grande, mas não está apinhado com objetos em todas as direções. Eles escolheram contar uma pequena quantidade de histórias muito poderosas ? avalia Blatchford.

SANTOS DUMONT EM LONDRES

Além das exposições, o termo de cooperação, com duração de cinco anos, prevê o intercâmbio de profissionais e a troca de técnicas e experiências. E Blatchford tem muito a ensinar. Durante a visita ao Museu do Amanhã para a assinatura do termo de cooperação, o britânico deu dicas de como tornar complicadas teorias científicas em exposições palatáveis ao público em geral. O segredo, conta, é explorar o valor prático dos teoremas e contar a história das pessoas por trás das descobertas.

? Eu penso que o espaço para mostras temporárias pode abrigar exposições nossas como a do Grande Colisor de Hádrons ou sobre robôs. E eu vi aqui a exposição sobre o Santos Dumont, que gostaria de levar para Londres.

Como exemplo do que não se deve fazer, Blatchford citou a parede de um museu enfileirando de forma cronológica e com um breve perfil os grandes matemáticos da Humanidade. ?As pessoas não leem, elas seguem o design?, aconselha Blatchford, que também recomenda que os cientistas não deem palpites sobre o formato de apresentação do conteúdo:

? Os cientistas acham que as melhores exibições são aquelas que mostram o conteúdo dos livros escolares na parede, com muitos textos e dados. E todas as vezes que a gente tenta fazer isso, é um desastre ? brinca. ? A lição é nunca presumir que o que você entende é o que o público médio entende.

Cada exposição demora meses para ser elaborada, com avaliação de todas as instalações por uma equipe de pesquisa de audiência, que analisa se os conteúdos são compreendidos pelos visitantes. E a exposição precisa ser saborosa para toda a família. Não adianta ser atrativa para as crianças se for entediante para os pais, e vice-versa.

Todo este know-how está agora à disposição do Museu do Amanhã. Para Ricardo Piquet, diretor-geral do Museu do Amanhã, o termo de compromisso representa o ?reconhecimento de um início de trabalho sério e promissor?. Com humildade, ele acredita ter muito a aprender com a experiência de mais de 150 anos do Science Museum, mas destaca o feito de atrair um milhão de visitantes em menos de um ano, marca que deve ser cruzada no fim deste mês.

? A expectativa é que eles se juntem conosco, para nos ajudar a trilhar um caminho bacana como eles fizeram ? diz Piquet. ? A parceria demonstra a disposição do Science Museum em desenvolver projetos conosco, confiando na qualidade da equipe montada aqui, para oferecer algo novo sempre para os nossos visitantes.

TRABALHO EM CONJUNTO

Dentro da parceria, Piquet prevê profissionais dos dois museus trabalhando juntos no desenvolvimento de projetos, numa via de duas mãos. É claro que o Science Museum tem muito a contribuir para o Museu do Amanhã, mas os profissionais daqui também irão ajudar o museu britânico.

? Montamos uma rede com várias instituições brasileiras e latino-americanas de ponta, e estamos prontos para fazer essa ponte ? diz Piquet. ? Estamos discutindo não apenas trazer exposições, mas também contribuir para o acervo deles, fazer com que as diferenças entre britânicos e brasileiros se somem para o desenvolvimento de projetos para ambos os museus.

Cientista por formação, a secretária de Cultura, Mídia e Esportes do Reino Unido, Karen Bradley, também celebrou a assinatura do termo de compromisso entre as duas instituições. Ela destacou a arquitetura do Museu do Amanhã, um dos ?edifícios mais surpreendentes? em que já esteve, e lembrou da proximidade entre a arte e as ciências.

? Leonardo da Vinci, um dos maiores artistas de todos os tempos, era um cientista. A ciência sempre trabalhou com a arte para criar belezas inacreditáveis ? afirma Karen. ? É absolutamente fantástico estar aqui no Rio, trabalhando junto com vocês, para criar coisas boas para as pessoas no Brasil e no Reino Unido.