BRASÍLIA ? Ele entra e sai do plenário, leva documentos, toma providências. Ela é mais discreta ? fica ali, à disposição, para esclarecer as dúvidas. Com estilos diferentes, os dois dividem a tarefa de auxiliar o ministro Ricardo Lewandowski nas questões técnicas sobre o processo de impeachment ? que, pela Constituição, precisa ser conduzido nesta fase pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF). Ela é Fabiane Pereira Duarte, uma loira alta que costuma chamar a atenção por onde passa nos corredores da mais alta corte do país. Ele é Luiz Fernando Bandeira de Mello Filho, o braço direito do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Fabiane tem 36 anos e é servidora do STF desde 2005. Neste ano, foi alçada secretária-geral da presidência do tribunal. Uma das tarefas mais árduas que executa é decidir com Lewandowski toda semana qual será a pauta de julgamentos do plenário. É preciso ser diplomática para atender os pedidos de preferência dos outros dez ministros e conciliar com as prioridades do presidente. Todas as quartas e quintas-feiras, ela tira dúvidas regimentais e ajuda Lewandowski nas sessões plenárias.
Pernambucano de 37 anos, Bandeira, como é conhecido, também está sempre bem vestido. Ele é servidor desde 2004 e há mais de dois anos atua como secretário-geral da Casa. Foi alçado ao cargo por ser uma espécie de sabe-tudo do regimento e, por isso, está sempre tirando dúvidas do presidente da Casa. Agora, a presença dele ficou ainda mais visível: ele está emprestado para assessorar Lewandowski na presidência do impeachment. Além disso, Bandeira é o escrivão do processo, tendo que registrar todos os passos do processo.
Sempre animado e conectado, Bandeira considera que trabalha de forma mais ágil de pé, e não sentado. Mesmo depois de muitas horas de trabalho, o pernambucano nunca dá sinais de cansaço. Depois do expediente, dá atenção ao casal de filhos.
Se ganhou a confiança do presidente do STF pela competência, Fabiane também ficou conhecida pela beleza, com os cabelos sempre escovados, a maquiagem impecável, as roupas alinhadas e os saltos altos. Nos corredores do tribunal, todo mundo comenta quando ela passa. Ela desconversa.
? Não tenho conhecimento desses comentários. Tenho certeza de que a atual tarefa que desempenho como servidora do tribunal decorre de minha competência e trajetória profissional. E isso é o que importa ? afirma a baiana.
Mas admite ter ficado mais conhecida depois que virou a principal ajudante de Lewandowski. A fama deve aumentar com as imagens da TV Senado durante o julgamento do impeachment:
? Já me perguntaram de que TV me conhecem. Acho engraçado e respondo que da TV Justiça.
Bandeira e Fabiane acabaram ficando próximos com o trabalho conjunto ? e, na assessoria de Lewandowski, se mostram afinados. Ambos são vistos sempre trocando ideia sobre o andamento do processo e costumam trocar caronas em carros oficiais, para agilizar o trabalho. Eles parecem satisfeitos com a nova função.
? Foram diversas reuniões com assessores do STF e do Senado para estudarmos o Regimento Interno da Casa e as decisões do Supremo pertinentes. É uma honra contribuir com o país em um momento histórico e, futuramente, poder contar isso aos meus netos ? diz Fabiane, que é mãe de dois meninos.
Bandeira afirma que esse o processo é um desafio profissional importante, apesar do excesso de trabalho. Ele compara com o impeachment do ex-presidente Fernando Collor: eram quatro volumes, com 220 páginas cada um. O processo contra Dilma tem 70 volumes, totalizando quase 30 mil folhas. O secretário do Senado contou que o ápice da nova fase profissional a entrega à presidente Dilma Rousseff da notificação de que estava sendo afastada do cargo por 180 dias, no dia 12 de maio. Dilma chamou Bandeira pelo nome enquanto recebia e notificação e assinava o documento.
? Para mim, o momento mais marcante foi ver a dignidade com que a presidente Dilma recebeu a intimação de afastamento dela do cargo. Eu estava ali, como testemunha da história. Em seguida, fui notificar o presidente Temer, que também estava muito digno, sereno. Só essa cena já teria valido a pena todas as horas do impeachment, ver a história acontecer ? avalia Bandeira.
Nos bastidores, a exposição de Bandeira já foi motivo de ciúmes. Durante as discussões técnicas sobre as regras do impeachment, senadores chegavam a reclamar que Bandeira não era senador e não podia mais do que eles. O nome do servidor chegou a ser sugerido para ocupar a embaixada do Brasil na Bélgica, mas uma indiscrição de Renan sobre o assunto, em uma festa junina, jogou um balde de água fria nas negociações.