A maioria das mulheres, ao se descobrir grávida, deseja a seu filho toda a sorte do mundo para que tenha capacidade de ganhar muito dinheiro e prover seu sustento com segurança. Se considerarmos sorte a união de oportunidade mais o preparo, é necessário muito esforço por parte dos pais e uma dose de compromisso do filho para promover esse encontro.
No filme O Contador, interpretado por Bem Afleck, a sorte contempla uma família mesmo que de forma enviesada. O gênio dos números que ganhou fortunas com seu talento teve de aprender a lidar não apenas com o mundo mas consigo mesmo. Criança autista, a família busca ajuda para tentar compreender o universo de valores do garoto que, de acordo com o especialista, é uma criança extraordinária que precisa ser melhor compreendida em seu potencial. As palavras da mãe nos fazem refletir: criança extraordinária é para quem vê de fora; quando é na sua casa é uma criança problema. A cena seguinte é o garoto quebrando a casa toda, acesso de fúria que não deixa a menor dúvida de que a mãe falava a verdade.
Também abordando a genialidade, desta vez, porém, usando as letras, o filme O Mestre dos Gênios mostra que pode ser bastante complicado trabalhar o talento quando este extrapola do ser humano. A soberba atrapalha, mas não raro uma grande história que nasce da cabeça de um escritor é fruto de uma indignação constante, de noites mal dormidas, de relacionamentos fracassados e dores profundas que rasgam a alma. Esse descompasso entre a genialidade e a sociedade dos simples mortais pode explicar como Hemingway, Fitzgerald e Virgínia Wolf acabaram com suas vidas. Genialidade tem seu preço, ver o mundo sob outro prisma exaure, desilude, cansa. O livro que tem o poder de encantar os leitores é o mesmo que afoga o escritor condenado a viver sob a égide de seus textos, de suas frases e da forma como vê o mundo, sensibilidade que faz com que seu cérebro seja constantemente bombardeado por percepções.
Analisando os últimos séculos, a inteligência de alguns personagens de nossa história desafia a própria ciência, pessoas que parecem ter vindo antes de seu tempo tendo assim que amargar a triste experiência de estar ao lado de pessoas ainda despreparadas para compreender que a vida vai além do que vemos no pátio da nossa casa. Talvez por isso tantos gênios – que podem ser da arte, música, literatura, física – considerem a vida um aborrecimento e a sociedade um grupo infame difícil de ser tolerado. Criticados por quem os cerca, se enclausuram em seus mundos até daqui partirem, deixando, porém, o registro de suas percepções para que vergonhosamente possamos, décadas mais tarde, finalmente dizer muito obrigada por haverem os grandes gênios se sacrificado a viver em um mundo rudimentar no qual nunca se incluíram.
Vivian Weiand