ESTOCOLMO ? Partidários do presidente dos EUA, Donald Trump, pegam carona em um episódio de confrontos em Estocolmo para desfazer um pouco do constrangimento causado por uma gafe do republicano no fim de semana. No sábado, o presidente citou um ataque terrorista que nunca aconteceu na Suécia, para argumentar que a recepção de refugiados aumenta a ameaça extremista. E, dois dias depois, quando protestos em um bairro imigrante da capital sueca terminaram em confusão, os apoiadores de Trump logo usaram a história para justificar os seus comentários anteriores. suecia
Desde que Trump falou sobre o suposto ataque terrorista na Suécia, os seus apoiadores parecem ter lançado uma missão de encontrar problemas no país europeu ? sobretudo quando o assunto é a imigração, embora a integração dos refugiados na sociedade sueca seja considerada, no geral, bem-sucedida. Algumas páginas conservadores americanas, que apoiam o republicano, descreveram um cenário de absoluto caos e medo para toda a população sueca provocado pelos imigrantes. Autoridades, no entanto, afirmam que episódios de violência não são sistemáticos em comunidades de refugiados, apesar de protestos terem provocado confusão e confrontos nesta semana.
No bairro de Ribkeby, em Estocolmo, há relatos de que a polícia prendeu uma pessoa por crimes relacionados a drogas. Em seguida, irromperam protestos da comunidade imigrante que vive ali. Em quatro horas, a manifestação terminou em confusão. Manifestantes queimaram cerca de seis carros, vandalizaram lojas e jogaram pedras contra a polícia.
A polícia confirmou à imprensa local que um agente de segurança chegou a atirar contra um manifestantes, mas errou a mira e ninguém ficou ferido. Um fotógrafo de um jornal apanhou e teve sua camêra roubada. No fim, uma pessoa acabou presa por jogar pedras contra a polícia e um agente de segurança ficou levemente ferido.
Em 2010 e 2013, o mesmo bairro enfrentou ondas de protestos semelhantes. O porta-voz da polícia sueca lamentou o episódio, ressalvando que a violência não é sistemática na região:
? Estas situações não acontece com muita frequência, mas é sempre lamentável quando ocorrem.
Segundo o jornal “Dagens Nyheter”, os refugiados foram responsáveis por apenas 1% dos crimes entre outubro de 2015 e janeiro de 2016. Foi justamente em 2015 que o fluxo de refugiados que chegavam à Europa atingiu seu ápice e, nesta época, a Suécia acolheu o maior número de imigrantes per capita.
A GAFE PRESIDENCIAL
No geral, a integração dos refugiados na sociedade sueca é considerada um sucesso, com exceção de incidentes pontuais, como os protestos desta semana, em bairros altamente segregados. No entanto, a retórica adotada por Trump no sábado, antes dos protestos irromperem em Ribkeby, tinha um tom bem diferente.
? Vejam o que está acontecendo na Alemanha, o que aconteceu ontem à noite na Suécia. A Suécia, quem iria acreditar? Suécia. Eles receberam muitos. Estão tendo muitos problemas que jamais imaginaram ? afirmou no discurso, no qual defendeu seu decreto para impedir a entrada de refugiados e cidadãos de sete países muçulmanos, que foi suspenso pela Justiça. Trump cita incidente terrorista inexistente na Suécia
No Twitter, plataforma de comunicação preferida de Trump, os usuários logo faziam piadas usando as hashtags #lastnightinSweden (#ontemànoitenaSuécia) e #SwedenIncident (#IncidentenaSuécia).
“Vazaram os planos de ataque terrorista na Suécia”, brincou um usuário, mostrando um plano de montagem de um móvel pré-fabricado da Ikea, gigante sueca especializada em móveis de baixo custo.
Teve quem ainda teorizasse que Trump confundiu a Ikea com o Estado Islâmico (Isis, na sigla americana)… ou fazendo piada com o lema “Je suis” (“Eu sou”, em francês), usado para demonstrar solidariedade para com vítimas de ataques terroristas.