RIO – Começa o papo na ligação por
telefone para o seu quarto de hotel, na cidade americana de Nova Orleans, e o
baixista inglês Peter Hook nem espera a primeira pergunta ser feita:
? Estaremos aí na mesma semana que o New Order, não é mesmo?
De fato. Nesta quinta-feira, enquanto ele se apresenta no Teatro Rival com a sua banda, The
Light, seus antigos companheiros fazem show único no Brasil, em São Paulo, no
Espaço das Américas.
? Bom, pelo menos não vou
encontrá-los por aí ? resigna-se o músico de 60 anos de idade, que começou sua
carreira há 40, com o grupo Joy Division (que se transformou no New Order em
1980, logo após o suicídio do vocalista Ian Curtis). ? É estranho, tem quase dez
anos que nós nos separamos na Argentina, no que seria a minha última turnê
sul-americana com eles…
Mágoa, há de sobra nas falas de Peter Hook, que há cinco anos e meio move uma
ação contra os ex-colegas do New Order, em busca da reparação pelo que define
como ?o triste fim de uma impressionante carreira?. Enquanto isso, ele segue seu
caminho com o The Light, quinteto com o qual desde 2010 se empenha em recriar ao
vivo os álbuns de suas antigas bandas.
Nesta passagem pelo Rio, eles seguem a
cronologia a que se propuseram e trazem um show com os discos números 8 e 9 das
discografias daqueles grupos: as coletâneas, ambas chamadas ?Substance?, do New
Order e do Joy Division, lançadas respectivamente em 1987 e 1988.
? Mostramos a medida certa de
paixão e de entusiasmo pela música, e é disso que as pessoas gostam. A atitude
no New Order com a plateia me desagradava muito e foi isso que me fez sair da
banda ? ataca Peter Hook.
Se o ?Substance? do New Order é uma coleção
de hits reunida em LP duplo (?Blue monday?, ?The perfect kiss?, ?Bizarre love
triangle?, ?True faith?, etc.), o do Joy Division é uma junção de faixas
conhecidas (?Love will tear us apart?, ?She?s lost control?) e raridades. O que,
segundo Hook, não chegou a afetar a fluidez do espetáculo com o The Light.
? Começamos o show com as músicas do New Order, que são bem pop, conhecidas e
que tocamos muito bem. E quando chegamos ao Joy Division, as pessoas ficam
loucas porque nunca tinham tido a oportunidade de ouvir as músicas ao vivo ? diz
ele, ressaltando que quase sempre o grupo sai do script do espetáculo, incluindo
uma ou outra entre as 200 canções dos dois grupos que sabem de cor. ? Minha
principal questão com o New Order é que eles tocavam sempre as mesmas músicas, a
turnê inteira. Era chato. Gosto de variar o repertório. Era frustrante que não
tocássemos músicas do ?Technique? (álbum de 1989 do New Order).
Peter Hook & The Light – Shes Lost Control @ Rebellion 2016 05/08/16
Num grupo em que se reveza no baixo
com o próprio filho, Jack Bates (?Ele é o mais próximo que alguém vai chegar de
mim no mundo?, garante), Peter Hook hoje vai à frente para cantar as músicas do
Joy Division, que tinham interpretação grave e intensa (e, para muitos,
irreproduzível) de Ian Curtis.
?
Quando o The Light começou, as pessoas perceberam que, de fato, nós não
estávamos fingindo ser o Joy Division. Nós tocamos algo muito mais próximo do
disco do que o Joy Division era ao vivo. Tudo tem a ver com o respeito ? defende
o baixista. ? No começo, eu estava pouco confiante (em cantar). Levou
uns nove meses até me sentir confortável e gostar disso. Os sapatos de Ian
Curtis eram muito grandes para se calçar. Peter Hook and the Light – The Perfect Kiss TTP Festival Brighton
Conhecido pelos grupos que manteve
paralelamente ao New Order (Revenge e o Monaco, com o qual teve o hit ?What do
you want from me?), Peter Hook diz que o mercado musical não tem mais sido
compensador para quem investe em músicas inéditas.
? Mas eu ia adorar ter um novo
grupo, compor em conjunto é uma das coisas que curto fazer. Ao menos, era a
coisa de que eu mais gostava no New Order ? conta ele, que não pensa em
interromper por enquanto os projetos retrospectivos do The Light. ? É muito
difícil, aos 60 anos, agir da mesma forma de quando você tinha 20. Mas estou
feliz, com boa saúde e devemos continuar por mais alguns anos.
Peter Hook & The Light
Onde: Teatro Rival ? Rua Álvaro Alvim 33/37, subsolo, Cinelândia ( 2240-4469).
Quando: Quinta, às 22h.
Quanto: R$ 200.
Classificação:
16 anos.