Política

Ex-diretor da Abin afirma à CPMI que “GDias” sabia do risco de ataques de janeiro

O ex-diretor-adjunto da Abin deixou o cargo em março deste ano. Ele depôs à CPMI amparado por um habeas corpus concedido pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

Comissão Parlamentar Mista de Inquérito dos Atos de 8 de Janeiro de 2023 (CPMI - 8 de Janeiro) realiza reunião para ouvir depoimento do ex-diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). 

Mesa: 
ex-diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Saulo Moura da Cunha - em pronunciamento; 
presidente da CPMI do 8 de Janeiro, deputado Arthur Maia (União-BA). 

Foto: Roque de Sá/Agência Senado
Comissão Parlamentar Mista de Inquérito dos Atos de 8 de Janeiro de 2023 (CPMI - 8 de Janeiro) realiza reunião para ouvir depoimento do ex-diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Mesa: ex-diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Saulo Moura da Cunha - em pronunciamento; presidente da CPMI do 8 de Janeiro, deputado Arthur Maia (União-BA). Foto: Roque de Sá/Agência Senado

Brasília – O ex-diretor-adjunto da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Saulo Moura da Cunha, disse ontem (1º) que o então ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Marco Edson Gonçalves Dias, o “GDias”, foi informado sobre o risco de ataque às sedes dos Três Poderes. Cunha prestou depoimentos à CPMI do 8 de Janeiro e respondeu a perguntas da relatora do colegiado, senadora Eliziane Gama (PSD-MA).

A parlamentar questionou sobre quando o general, conhecido como GDias, teria recebido os primeiros alertas sobre a possibilidade de ataques às sedes dos Três Poderes. Em junho, durante depoimento à CPI da Câmara Legislativa do Distrito Federal, o ex-ministro-chefe do GSI disse que não havia sido informado sobre o risco de confrontos. Cunha contestou as declarações do militar.

Segundo o ex-diretor-adjunto, os primeiros informes a GDias começaram a ser enviados na manhã de 8 de janeiro por meio de um aplicativo privado de mensagens. No início da tarde, antes dos ataques, os dois teriam conversado sobre o assunto por telefone. “O primeiro contato por WhatsApp foi por volta de 8h. Ele [GDias] responde dizendo: ‘Acho que vamos ter problemas’. Eu continuo encaminhando as mensagens e, por volta de 13h30, falo com o ministro e passo esta preocupação: ‘Temos a impressão, temos já uma certa convicção de que as sedes dos Poderes serão invadidas e haverá uma ação violenta contra esses prédios’. O general GDias obviamente não estava recebendo informações apenas da Abin. Não posso afirmar porque ele agiu ou deixou de agir”, afirmou.

Adulteração

Questionado por Eliziane Gama, o ex-diretor-adjunto da Abin negou que tenha adulterado um relatório enviado à Comissão Mista de CCAI (Controle das Atividades de Inteligência) do Congresso Nacional com alertas sobre os ataques de 8 de janeiro. Segundo a parlamentar, o documento é diferente de outro relatório sobre o mesmo assunto remetido à PGR (Procuradoria Geral da República). No primeiro, a agência omitiu alertas enviados diretamente ao celular do general GDias.

Cunha admitiu que elaborou os dois relatórios. Mas disse que a decisão de retirar do primeiro documento os alertas enviados ao general GDias partiu do próprio chefe do GSI, que tinha a prerrogativa de definir quais informações seriam difundidas pela Abin. O ex-diretor-adjunto, no entanto, nega que tenha havido adulteração.

“Não adulterei. Fiz o primeiro em uma planilha que continha os alertas encaminhados pela Abin a grupos e continha também os alertas encaminhados por mim, pessoalmente, pelo meu telefone, para o ministro-chefe do GSI. Entreguei essa planilha ao ministro, e ele determinou que fosse retirado o nome dele dali porque ele não era o destinatário oficial daquelas mensagens. Que ali fossem mantidas apenas as mensagens encaminhadas para os grupos de WhatsApp. Ele determinou que fosse feito, e eu obedeci a ordem”, afirmou.

Eliziane classificou como “absurda” a ordem de GDias. Para a relatora, Saulo Moura da Cunha cometeu uma ilegalidade ao omitir as informações ao Congresso Nacional. “O senhor está dizendo que adulterou a pedido de GDias. Atendeu a uma ordem absurda dele, atendeu ao pedido de uma ilegalidade. Retirou um dado e não apresentou no relatório apresentado a CCAI. Há uma responsabilidade compartilhada por ter atendido a uma ordem absurda. Que fique isso claro”, disse.

Cunha classificou os ataques como “eventos lamentáveis”. Ele afirmou que, entre os dias 7 e 8 de janeiro, o Distrito Federal recebeu 130 ônibus com mais de 5 mil passageiros, alguns deles apontados como “radicais extremistas”.

Dino tem 48 horas

O presidente da CPMI do 8 de Janeiro, deputado Arthur Maia (União-BA), deu 48 horas para que o ministro da Justiça, Flávio Dino, forneça imagens das câmeras internas e externas do prédio do Ministério da Justiça no dia dos ataques à Praça dos Três Poderes. O colegiado aprovou três requerimentos sobre o assunto em 11 de julho. Mas, segundo Dino, as imagens não poderiam ser encaminhadas porque foram incluídas como provas em inquéritos que tramitam em sigilo.

Arthur Maia anunciou que, caso as imagens não sejam enviadas no prazo, vai pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) que obrigue o ministro da Justiça a obedecer a decisão da CPMI. Para o parlamentar, a negativa de Flávio Dino “condena a CPMI ao ridículo”.

Foto: Agência Senado