Cotidiano

Enquanto fome mata milhões em todo o mundo, Cascavel serve 78 mil refeições diárias na educação

Enquanto fome mata milhões em todo o mundo, Cascavel serve 78 mil refeições diárias na educação

Cascavel – Garantir segurança alimentar e nutricional para a população é um dos principais desafios dos municípios dentro de suas políticas públicas. Em Cascavel, ontem (5), o Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional realizou, no auditório do paço Municipal, o 2º Fórum de Segurança Alimentar e Nutricional, com a participação de nutricionistas de entidades cascavelenses e representantes das secretarias municipais de Assistência Social, da Saúde e da Educação, além da Seab (Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento) e IDR-Paraná.

O secretário municipal da Saúde, Miroslau Bailak, iniciou sua fala apresentando estatísticas envolvendo a fome no mundo. “Da meia-noite até agora [por volta das 14h de ontem] já morreram de fome no mundo 18 mil pessoas”, contabiliza. Por ano, esse número chega a estratosféricos 5 milhões e 600 mil seres humanos que perderam a vida por não terem o que comer. “É nossa obrigação trabalhar para que isso não aconteça no mundo”, salienta.

“Em Cascavel, com toda a estrutura completa de atendimento nesta área, ainda existem pessoas que não conhecemos passando fome”. Para Bailak, quanto mais investimentos forem feitos na área de segurança alimentar, menos pessoas sobrecarregarão o SUS (Sistema Único de Saúde). Segundo Bailak, em vez de segurança alimentar, o caminho no Brasil seria a realização de fóruns para debater a “insegurança” alimentar. “Por ano, 17 cidades do tamanho de Cascavel morrem de fome no mundo”. Ele destacou ainda um avanço no município, envolvendo a inserção de nutricionistas dentro da saúde, com mudanças previstas para ocorrer nos próximos dois meses. “São desses profissionais que precisamos no dia a dia para apontar a maneira correta e segura em relação à segurança alimentar”.

78 mil refeições

A secretária da Educação de Cascavel, Márcia Baldini, faltou da importância do fórum e ressaltou que Cascavel é uma das cidades do Brasil que mais serve refeições diárias aos seus alunos e crianças atendidas pelos Cmeis, ao todo, 78 mil ao dia. “Só perdemos para Curitiba. E a maioria dos municípios servem três refeições diárias e em Cascavel, são cinco refeições diariamente para cada aluno”. Segundo ela, Cascavel garante segurança alimentar e o pleno desenvolvimento da criança na rede municipal de ensino. “A criança que tem fome não consegue aprender”.

A representante da Seab de Foz do Iguaçu, Solange Pinto Soprani, apontou avanços significativos na área de segurança alimentar de Cascavel. Dentro da estrutura, há o Desan (Departamento de Segurança Alimentar e Nutricional), integrando o Sisan, Programa Leite das Crianças, Programa de Compra Direta, Restaurantes Populares, Programa Paraná Mais Cidades e Programa Coopera Paraná.

Por ano, o Governo do Paraná destina para a área de alimentos para a regional da Seab de Cascavel, R$ 18 milhões, sendo R$ 4,5 milhões ao ano apenas para o município de Cascavel. No mês de maio, foram repassados para Cascavel 82.161 litros de leites e na regional toda, 314.421 litros de leite, de 123 produtores de leite dos laticínios.

Já o PAA (Programa Compra Direta) da Agricultura Familiar, garantiu o repasse de quase R$ 40 milhões e na regional, R$ 3,4 milhões. Em Cascavel, foram entregues 92 toneladas de alimentos no valor de R$ 618 mil. O fórum também teve a presença do secretário de Assistência Social, Hudson Moreschi Junior. Ele destacou que Cascavel é referência com três restaurantes populares e uma quarta unidade em construção. “Em 2022, essas três unidades serviram mais de 300 mil refeições, demonstrando a importância e relevância desse programa para a segurança alimentar”, afirmou. No dia 26 de julho, Cascavel volta a debater o tema durante a Conferência de Segurança Alimentar e Nutricional.

Conscientização

A coordenadora do Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional, Flávia Anastácio de Paula, esteve presente ao fórum e enfatizou o desafio de alimentar as crianças nas escolas e conscientizar os pais sobre a importância de manter os mesmos cuidados em casa. Ela é celíaca e tem três filhos com a mesma doença para a qual não há cura. O melhor tratamento é a dieta com total ausência de glúten. “Da mesma forma que o alimento produz saúde, também pode produzir doenças”.

As principais experiências do Paraná em segurança alimentar serão apresentadas durante a Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, de 9 a 12 de dezembro.

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Insegurança alimentar expõe metade da população paranaense, diz pesquisa

Cascavel – Recente relatório divulgado pela Olhe Para a Fome, apresentando dados coletados entre novembro de 2021 e abril de 2022 em todo o Brasil, mostra que mais da metade da população paranaense está exposta a algum tipo de insegurança alimentar. O levantamento tem como base o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia do novo coronavirus.

No Paraná, 8% da população passa por insegurança grave, que é a privação no consumo de alimentos. Outros 15% estão na insegurança moderada, que é o acesso à alimentação em quantidade insuficiente, e 29% na insegurança leve, que é a incerteza quanto ao acesso a alimentos em um futuro próximo. Para a nutricionista e professora universitária, Natália Ferreira de Paula, os dados denunciam a desigualdade social.

Além das medidas emergenciais, a professora defende o investimento em segurança hídrica, educação e saúde. No Brasil, a situação mais grave está na região Norte, com 71% da população em insegurança alimentar. No entanto, o estado mais afetado é o Ceará, onde somente 19% dos moradores têm acesso garantido à alimentação. Os outros 81% não contam com a segurança alimentar. O estado com o menor índice é o Rio Grande do Sul, onde 52% da população tem as refeições garantidas.

Conforme a nutricionista, o problema da fome está muito mais relacionado ao acesso ao alimento. “Há comida suficiente para toda população, no entanto, as pessoas precisam adquirir o alimento, comprá-lo, e esse acesso é restrito àqueles que têm poder aquisitivo”.

A desigualdade social ainda é predominante. “Os grupos mais atingidos são formados pela população negra, depois lares chefiados por mulheres e que tem renda abaixo de um quarto do salário mínimo”. Segundo ela, são pessoas e grupos historicamente vulnerabilizados, com pouco acesso a renda e por conta disso, dificuldade de adquirir o alimento.

Foto: Secom