Cotidiano

Gabriel Souza inaugura, no Cais do Oriente, a primeira exposição de suas pinturas

RIO ? Depois de chegar ao Rio, em 1999, para morar de vez por aqui, demorou quase uma década para que o artista teresopolitano Gabriel Souza desse os primeiros passos na pintura. O artista de 32 anos, que inaugura neste sábado, no restaurante Cais do Oriente, a sua primeira mostra individual, se formou em Publicidade, mas nunca chegou de fato a exercer a atividade: a habilidade de desenho que ele achava poder usar na função foi deslocada para as artes, inicialmente no cartunismo, depois na pintura.

? Na verdade, eu não desenhava tanto assim, fui me aprimorando ? diz Souza, que investe nessa evolução para chegar cada vez mais perto de um gênero marcado pelo preciosismo técnico: o hiper-realismo.

Souza não define assim a sua obra, mas admite flertar com o estilo e ter em nomes como o brasileiro Victor Meirelles (1832-1903), o gravurista francês Claude Joseph Vernet (1714-1789) e o pintor americano Norman Rockwell (1894-1978), célebre pintor do cotidiano, as suas referências.

? Isso não é percebido no Brasil, mas, em outros países, há uma tendência de retorno dessas pinturas mais realistas. Elas são importantes no registro de hábitos, costumes e crenças de uma época, podem deixar muita história e informações para gerações futuras ? defende o artista.

E é na observação e no registro do dia a dia, como numa fotografia, que Souza baseia sua obra. Estão ali cenas e personagens de sua vida, como o pai sentado à mesa de um café (?Chove lá fora?, na foto abaixo), a irmã jogando videogame e até a avó em um momento de oração ? a obra ?O dia que vovó viu um anjo?, em que o pintor adiciona o elemento fantasioso de uma figura celestial inspirada em pintura do belga Jan van Eyck (1390-1441).

? O cotidiano é um lugar muito interessante e artístico se você olhá-lo com atenção, nos detalhes. Vejo uma cena ou um cenário interessante e registro com uma fotografia, para depois transformar em pintura. Gosto de contar histórias.

Na mostra, estão expostos 30 trabalhos, entre retratos e algumas distorções e releituras de obras clássicas, áreas em que Gabriel Souza também investe. ?Revolução mental de Tomé?, por exemplo, é inspirado em ?A incredulidade de São Tomé?, de Caravaggio (1571-1610). Na interpretação de Souza, Tomé, após tocar Jesus, se vê transformado:

? Quando ele toca o divino, a antiga realidade já não existe.