As tendências que se tornam “virais” podem acabar demonstrando falhas das relações pais e filhos, em uma sociedade de superfluidade de valores e afetividade, que acabam expostas como se fosse comédia. A busca incessante pela felicidade abomina a tristeza e as dificuldades dos relacionamentos. O que demandar mais atenção e esforço é descartável.
Daí porque a proliferação de relações tóxicas, em que o fundamento está na utilidade dos relacionamentos. Quando não o forem, o “amor” se torna abusivo, mas de maneira sorrateira e quase invisível: afetando a psique. Comportamentos negativos, desvalorização e humilhação caracterizam a violência psicoemocional. Quanto aos relacionamentos entre companheiros e cônjuges, houve um avanço no reconhecimento dessa forma de violência, amparada, inclusive, pela Lei Maria da Penha.
Para os menores, porém, na relação de parentalidade, em muitos casos é uma violência aceita culturalmente, sob o codinome de “educação”. Não se vincula, no mais das vezes, a desqualificação sistemática a consequências negativas futuras, mas sim à função de criação de “cidadão de bem”. Em muitos casos, nem a vítima entende seu sofrimento como decorrente de uma violência; mesmo adultas, afirmarão quanto à violência mais evidente que “apanharam e não morreram”, quiçá quanto à violência psicológica.
Pelo abuso psicológico, almeja-se o controle de ações e comportamentos da criança. Nem sempre com o intuito deliberado de fazer sofrer, mas de se encaixar nos padrões sociais “aceitáveis”. Isso incrementa a vulnerabilidade da vítima e a torna mais dependente de seu agressor, implicando em prejuízo do desenvolvimento pessoal, enquanto direito fundamental atrelado à dignidade humana. A pior parte é que tal violência se origina de um laço de afeto e de confiança.
O impacto também pode derivar da constante exposição à violência, ainda que não perpetrada contra si. O ambiente doméstico violento também traz sequelas ao desenvolvimento saudável dos menores, com afetação das redes neuronais.
Tradicionalmente, as vítimas seriam direcionadas a tratamentos psicológicos-padrão. Porém, o incremento do acesso a recursos tecnológicos trouxe situações curiosas, como o uso da inteligência artificial como auxiliar emocional ou o uso de aplicativos para a denúncia silenciosa e ágil às autoridades responsáveis. Embora as ferramentas de inteligência artificial possam auxiliar em “conversas” sem julgamento, ou com o ensinamento de técnicas de meditação ou respiração, jamais serão capazes de substituir a interação humana saudável.
Dra. Giovanna Back Franco – Professora universitária, advogada e mestre em Ciências Jurídicas