Opinião

Coluna Amparar: Posso contrariar os sogros?

Coluna Amparar: Posso contrariar os sogros?

Não poucas vezes o casal atribui os seus problemas de relacionamento como se tudo fosse consequência das ações dos sogros. Estes são frequentemente um bode expiatório ideal. Machuca profundamente o cônjuge quando rejeitamos os pais dele. Quem age dessa maneira, inconscientemente afasta seu parceiro cada vez para mais longe dele.

A rejeição dos sogros tem um efeito tão problemático na relação de casal quanto a rejeição dos próprios pais. Não é preciso amar os sogros, mas promove a relação de casal se os aceitarmos tais como são. E é benéfico em situações de conflito dar-se conta de que só é possível tomar seu cônjuge porque existem estes sogros. É precisamente a estes sogros que devemos nosso parceiro, e a mais ninguém.

Sim, é preciso honrar pais e sogros. No entanto, quando alguém constitui uma nova família e esta se organiza em base a valores diferentes daqueles das famílias de origem, assume novos valores e modos de educação dos filhos, isso não significa que deixou de honrar os pais. E a razão disso é porque a família atual tem prioridade em relação à família de origem. Quando, por exemplo, os pais decidem viver com a família do filho eles perdem o “direito” de determinar de que modo a família do filho conduz sua vida.

Por mais difícil que seja para o parceiro contradizer o pai ou a mãe que mora com ele (ou que frequenta a casa assiduamente) naquilo que contradiz os novos combinados do casal, ele precisa fazer isso sob pena de levar o casamento à falência. Nem o filho, nem a nora devem agir segundo a vontade dos respectivos pais. O respeito aos pais e sogros não implica na obrigação de adotar os costumes deles!

Algumas vezes acontece também, quando o relacionamento de um casal entra em crise, de um dos parceiros dizer: “Sabia que jamais deveria ter-me casado com minha esposa. No entanto, o que eu podia fazer se meus pais só aceitavam esta mulher como nora?”. Somente um adulto pode decidir se casar. Ainda que os pais queiram interferir na escolha o único responsável pela decisão continua sendo o filho. Ninguém pode obrigar quem quer que seja a casar com quem não quer! Aquele que se prende a frases como a citada acima para justificar o fracasso da relação revela seu atraso no desenvolvimento psicológico. Apenas crianças devem fazer o que os pais mandam.

Obviamente, não é fácil agir contrariamente aos desejos de seus pais, porque gera um sentimento de culpa escolher um caminho diferente do pretendido pelos pais. No entanto, assumir essa culpa promove o amadurecimento psicológico e permite que a pessoa amadureça. Adultecer é tomar sobre seus próprios ombros a responsabilidade integral das próprias decisões.

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JOSÉ LUIZ AMES E ROSANA MARCELINO são consteladores familiares e terapeutas sistêmicos e conduzem a Amparar – whatsapp: https://bit.ly/2FzW58R