Opinião

Coluna Amparar:  As constelações funcionam no real como na série?

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A Netflix oferece em sua plataforma uma série que, em pouco tempo, alcançou o “top 10” das mais assistidas: “Uma nova mulher”. Em postagem anterior já examinamos a questão se no pano de fundo desta série estão ou não as constelações familiares. Aqui queremos examinar outro ponto: se as constelações familiares mostradas pela série são fiéis ao modo como acontecem na prática. A resposta é: “Não!”. Vamos mostrar cinco pontos para justificar esta resposta.

Primeiro: na série não é respeitado o princípio da voluntariedade da representação. No episódio dois a personagem Ada (médica) é escolhida como representante. A princípio ela se recusa. Nas constelações reais, em situação como esta, o constelador respeita a decisão, porque a condição de participar como representante é a voluntariedade. No entanto, mesmo constrangida, ela entra no papel que lhe é designado pelo constelador (Zaman). Nas constelações reais o constelador jamais pode permitir isso.

Segundo: na série é violado o princípio da isenção, ou neutralidade, dos representantes em relação ao cliente. Neste mesmo episódio mencionado acima no qual Ada entra como representante, o ex-namorado dela (Toprak) é escolhido como representante. Assim, ambos – Ada e Toprak – são colocados em cena onde se posicionam como vítima e perpetrador. Nas constelações reais isso também não deve acontecer, pois a premissa é a neutralidade do representante em relação ao cliente. Além disso, a representante Ada passa a racionalizar e a duvidar do papel que desempenha. O constelador, quando percebe isso, deve substituir esse representante, porque ele deve estar entregue ao campo. Em suma: duas situações na série não ocorrem nas constelações reais: dois ex-namorados no papel e representante não entregue ao campo, porque está totalmente no mental.

Terceiro: o ambiente. Quando as três amigas chegam ao espaço se percebe um clima de mistério: cortinas que esvoaçam, filtros de sonhos, pessoas que abrem e fecham os olhos como se recebessem uma informação, etc. Nas constelações reais não acontece nada disso. É dramatização própria das obras de ficção.

Quarta: os estereótipos. O ambiente é místico. As constelações reais não precisam disso. No escritório do constelador (Zaman) tem incenso, buda, livros, ele fuma um cigarro, etc. As constelações reais não precisam de nada disso.

Quinto: ideia de que a constelação resolve tudo. Embora no final da série isso seja corrigido, nos episódios anteriores se passa a ideia de que a constelação pode resolver qualquer problema, inclusive doenças e sintomas, como o câncer de Sevgi e o tremor das mãos de Ada. Além disso, passa a ideia de que é preciso escolher entre constelação e medicina. Nas constelações reais jamais é questão de escolha, mas de alternativa. As doenças são tratadas pela medicina e o cliente busca, se quiser, terapias alternativas. No final da série essa imagem é desfeita no diálogo entre Zaman (o terapeuta) e Ada (a médica), quando discutem sobre ciência e experiência.

A série é maravilhosa e aconselhamos vivamente que a assistam. No entanto, é preciso um olhar crítico para evitar ver nas constelações um remédio para todos os males e que elas são algo misterioso que se utiliza de recursos místicos para produzir seu efeito.

JOSÉ LUIZ AMES E ROSANA MARCELINO são consteladores familiares e terapeutas sistêmicos e conduzem a Amparar – whatsapp https://bit.ly/2FzW58R.