Opinião

Coluna Amparar: O transplante de órgãos

Coluna Amparar: O transplante de órgãos

Coluna Amparar: O transplante de órgãos

 

 

Um tema complexo sobre o qual Hellinger se manifesta diz respeito ao procedimento médico de retirada dos órgãos imediatamente depois de diagnosticada a morte cerebral em vista de seu transplante em outro corpo. Na visão dele, a morte não se conclui com a cessação das funções cerebrais ou com o último suspiro. Assim, ao retirar os órgãos impede-se, segundo ele, que o morto morra sua morte totalmente. Na visão de Hellinger, “considero um crime intervir no processo de morte, nesse processo de transição, como se pudéssemos agora dispor dele” (Hellinger, B. A fonte na precisa perguntar pelo caminho, p. 273).

O corpo da pessoa pertence a ela tão somente e ninguém pode arrogar-se o direito de dispor dele, continua Hellinger: “Se assim intervirmos, de acordo com a minha observação, existe um efeito negativo também para aqueles que recebem esses órgãos. Por exemplo, não se atrevem a olhar para o morto e agradecer-lhe. Isso é demais para eles. Isso mostra que, na profundeza, sua alma não concorda com isso” (Hellinger, B. A fonte na precisa perguntar pelo caminho, p. 273).

Uma vez que a retirada dos órgãos acontece em vista de seu transplante em outro corpo. Também aqui Hellinger defende uma perspectiva que está na contramão do que costumeiramente se defende. O que acontece quando se faz um transplante, pergunta ele. Literalmente, o doador continuará vivendo na outra pessoa. Neste caso, questiona Hellinger, essa pessoa ainda terá sua própria vida? Ou terá, a partir desse momento, a vida do doador? A pessoa continuará sendo ela mesma?

Sua posição quanto à questão dos transplantes é contrária tal como em relação à doação de órgãos. “Um transplante de órgãos é o resultado de um assassinato. E no assassinato participam quatro pessoas. Aquele que acede aos transplantes de órgãos com assentimento dirige-se a uma morte precoce. Com esse ato mata-se a si mesmo. Todos os participantes que assentem e todos os participantes de sua família participam deste assassinato. Posteriormente, os médicos. Posteriormente, quem o recebe. Assim, dispõe-se que alguém deveria morrer por ele. Devemos esclarecer claramente o que realmente acontece aqui. E então o que acontece depois da morte? Estas intervenções de vida e morte para mim são terríveis. Para mim é um assassinato, nada mais”. (https://www.insconsfa.com/br_2013_as_constelacoes_fam_medials_ii.php Acesso em 25/06/2020).

Em relação à questão dos transplantes poderíamos fazer ainda uma aproximação desde a perspectiva do significado das doenças. Como mostram as Constelações Familiares, boa parte dos sintomas e das doenças de uma pessoa são alertas do sistema familiar para que algo ou alguém excluído seja incluído. Assim, uma vez que o órgão adoecido é uma oportunidade para a família incluir um de seus membros, é pertinente considerar que a doença está a serviço de algo maior e não só do candidato ao transplante. Quando, então, se extrai o órgão adoecido e se substitui por um órgão sadio o que, exatamente, se faz? Uma vez que o órgão doente é um excluído do passado que se mostra no presente na forma de doença em outro membro do sistema familiar, quando simplesmente se transplanta, por exemplo, um rim sadio no lugar do rim doente deixa-se de olhar para a raiz do problema: a exclusão. Com isso, é bem provável que o sintoma volte de outra forma: ou afetando o rim novo, ou provocando novas doenças, ou até mesmo gerando insucesso profissional para o transplantado, por exemplo.

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JOSÉ LUIZ AMES E ROSANA MARCELINO são terapeutas sistêmicos e conduzem a Amparar