Opinião

Ser pai e mãe é continuar a obra da criação

O que transcende a relação de casal?

Ser pai e mãe é continuar a obra da criação

O que faz a vida de casal completar-se? Quando esgotamos nela tudo o que ela tem para oferecer? Muitas vezes, o enamoramento do casal leva ao enclausuramento da relação como se tudo o que importa estivesse no amor que um sente pelo outro. Não há dúvidas de que isso é muito importante! No entanto, quando o casal concebe como motivo final da relação que estabeleceu é viver uma história de amor a dois, corre o sério risco de chegar a certa altura da vida a dois em que lhe parece não ter objetivos.

É como se o casal precisasse de algo que transcende sua relação para fazê-la desenvolver todas as suas potencialidades. O que transcende a relação de casal? Trata-se da paternidade e da maternidade. Nela, o casal tem a possibilidade de alcançar a plenitude da vida.

Bert Hellinger tem uma bela passagem sobre isso na abertura do capítulo de seu último livro em que fala da relação pais-filhos: “A maior alegria que tenho observado em meus mais de 90 anos é quando os pais olham para seu filhinho. Não há nada mais belo nem mais simples. Essa é a alegria da vida. Aqui, mais uma vez, se mostra que a felicidade é simples e profunda. Alguns, ao contrário, esperam por um grande evento para serem felizes. No entanto, a vida cotidiana traz a maior felicidade” (Hellinger, B. Mein Leben. Mein Werk – Ariston eBook).

Ser pai e ser mãe é o modo pelo qual podemos continuar a obra da criação. Verdade é que a natureza nos dotou com tudo o que é preciso para que a vida continue. E ela efetivamente se perpetua espontaneamente no reino vegetal e animal. Na vida humana, porém, entra um componente que não existe na vida vegetal e animal: a liberdade. Devido à liberdade, a continuidade da vida depende de uma decisão. Perpetuar a vida humana depende de uma escolha. E o que fazer quando um dos parceiros não quer ter filhos?

Casais que não podem ter filhos, ou mesmo decidem conscientemente de não tê-los, não exploram sua relação em toda sua profundidade. A alternativa para casais que, por qualquer motivo, não podem ter filhos, ainda que os desejem muito, é enfrentar essa perda conscientemente: assumir o sofrimento e a dor nascidos da impossibilidade de ter filhos viabiliza ao casal viver de forma nova a proximidade e a profundidade do vínculo.

Uma situação diferente é a dos casais que desejam muito ter um filho e não conseguem, mesmo não tendo impedimento médico para tanto. Nesse caso, é importante que o casal perceba que a “obsessão” de ter um filho costuma produzir um efeito contrário. Alguns casais, movidos por esse desejo intenso, costumam “agendar” seus encontros sexuais de modo que coincidam com os dias “férteis” do calendário. Nesses casos, a natureza geralmente se recusa a cooperar.

A relação sexual tem a ver com o ritmo do amor: é um encontro desejado pelo prazer e o cultivo da intimidade e não tão somente com a reprodução. Não poucas vezes, acontece de o casal desistir de tentar a gravidez e pouco depois descobrir que a esposa está grávida. Sim! Maternidade e paternidade é uma experiência sublime: nela continuamos a obra da criação. A vida é passada adiante. No entanto, isso não deve ser confundido com a ideia de que o exercício da sexualidade se justifica unicamente em vista da reprodução. Não! A vivência da sexualidade é o modo mais intenso de viver a proximidade, a intimidade.


JOSÉ LUIZ AMES E ROSANA MARCELINO são terapeutas sistêmicos e conduzem a Amparar.

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