Cotidiano

Visita ao ginecologista é tardia

Temas como a educação sexual e os cuidados com a saúde íntima merecem atenção, mas são negligenciados, especialmente entre mulheres mais jovens. Prova disso é o alto índice de gestação juvenil não planejada no País, maior do que a média na América Latina.

Não é de hoje que existe um tabu em torno da sexualidade, e isso acontece porque, em muitos casos, a conversa sobre o assunto, principalmente dentro de casa e no ambiente escolar, é tardia ou nem acontece.

Uma boa notícia é que uma pesquisa recente, realizada pela Bayer, em parceria com o Departamento de Ginecologia da Escola Paulista de Medicina da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), com 1.500 brasileiras entre 16 e 25 anos, em cinco capitais (Brasília, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo), mostrou que esse cenário vem melhorando, já que 83% das entrevistadas se consideram suficientemente informadas sobre métodos contraceptivos e cuidados com a saúde sexual.

O levantamento aponta também que 73% se sente confortável em falar sobre o assunto e 93% afirmou saber se proteger de DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis) ou de uma gravidez não planejada. Com relação aos pais/responsáveis, 52% disse que foi com eles a primeira conversa sobre saúde sexual, percentual maior do que com amigos (18%) ou sozinha (11%). Para 59% das entrevistadas existe um diálogo aberto com os pais. Das que não conversam sobre sexualidade em casa (41%), boa parte (67%) gostaria de ter.

“A conversa aberta com os pais/responsáveis é extremamente importante para as jovens, já que são eles os principais disseminadores de valores e ensinamentos para os filhos, servindo como seu principal exemplo. São eles que podem fazer com que um assunto complicado se torne simples e natural, trazendo conforto e confiança para quem está iniciando a vida sexual”, afirma Dr. Afonso Nazário, Coordenador da Pós-Graduação do Departamento de Ginecologia da Unifesp.

Cristina Varkulja, 47, mãe da Alice, 18, e da Victória, 25, conta que a conversa com suas filhas iniciou cedo e foi sempre muito franca. “A primeira vez que falei com minhas filhas foi muito natural. Elas deviam ter entre 10 e 11 anos. Me lembro que a Victória, por exemplo, quando ficou menstruada pela primeira vez, me ligou para compartilhar a novidade e tirar dúvidas”.

De acordo com Cristina, temas relacionados à sexualidade sempre tiveram espaço em sua casa. “Não tivemos nenhum momento de constrangimento, sempre mantivemos um diálogo transparente para que a saúde sexual delas se desenvolvesse de forma natural e segura, sem que existisse espaço para vergonha e traumas”, esclarece.

Sobre o ambiente escolar, as notícias também são boas – a maioria (67%) teve acesso à educação sexual na escola. Isso mostra que conforme a discussão se torna mais transparente com pessoas confiáveis, maior o conforto e segurança das jovens. “É extremamente importante que as escolas estejam preparadas para dar continuidade à educação sexual iniciada dentro de casa. Dessa forma, o assunto passa a ser comum no dia a dia dos jovens e as dúvidas podem ser compartilhadas e sanadas de forma mais fácil”, reforça Dr. Nazário.

Relação com o ginecologista

Apesar dos dados positivos e avanço na discussão sobre sexualidade e contracepção, o último relatório divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), referente ao período de 2010 a 2015, mostrou que o Brasil tem 68,4 bebês nascidos de mães adolescentes a cada mil meninas de 15 a 19 anos, índice acima da média latino-americana, que fica em torno de 65,5. Segundo o Dr. Afonso, “isso pode ser um indicativo de que esse diálogo ainda precisa se expandir, por exemplo, para dentro do consultório, com o ginecologista, que é o principal responsável por dar orientações sobre exames e indicar os melhores métodos de acordo com o perfil de cada jovem”.

Dados da pesquisa Bayer comprovam, inclusive, que a relação entre as jovens e o ginecologista ainda não é bem estabelecida – eles apontam, por exemplo, que 7% das entrevistadas nunca se consultou com o especialista, e 11% só o visitou pela primeira vez após os 20 anos. Adicionalmente, apenas 17% o considera a principal fonte de informação sobre o assunto.

“O fato de uma pequena porcentagem considerar o ginecologista como o responsável por passar informações sobre educação sexual é um dado extremamente preocupante, pois somente ele é capaz de indicar os melhores métodos contraceptivos e orientações sobre os cuidados com a saúde íntima. Esse também é um fator que deve entrar, anteriormente, na conversa da jovem com os pais, que por sua vez tem a missão de explicar o papel do médico nesse processo e oferecer todo o suporte necessário”, comenta.

O alinhamento entre a jovem, os pais/responsáveis e o médico propicia segurança e faz com que ela se sinta confortável em fazer, a partir disso, suas próprias escolhas, de forma consciente e madura. Além disso, dá a abertura para que tire dúvidas sempre que necessário, fazendo com que um assunto tabu se torne um tema mais leve.

Informação sobre saúde sexual está em alta, mas visitas ao ginecologista são tardias entre jovens brasileiras, aponta pesquisa da UNIFESP

· Mesmo sendo considerada um tabu, a sexualidade tem sido mais debatida, principalmente dentro de casa

· A relação com o ginecologista ainda não está consolidada e a busca pelo especialista acontece de maneira tardia

· Apesar do alto grau de informação sobre DST´s e gravidez não planejada, o Brasil ainda apresenta índices de gestações juvenis acima da média latino americana