Opinião

As dores de um gerente exemplar

Um gestor da área comercial tem rotinas bem conhecidas na maioria dos profissionais de mercado

As dores de um gerente exemplar

Um gestor da área comercial tem rotinas bem conhecidas na maioria dos profissionais de mercado. Acorda cedo, toma café da manhã em alguma conveniência. Semanalmente faz reuniões com sua equipe de supervisores. Tudo antes das oito da manhã.

Segue com reunião com sua assistente, atualiza indicadores em dashboards. Alinha agenda de visita a clientes.

Realiza visitas presenciais nos principais clientes, sempre acompanhado do supervisor direto do cliente.

Sempre respondendo mensagens, e-mails da matriz, pois o smartphone providencia dinâmica quase ininterrupta de trabalho.

E, praticamente todos os dias, tem contato com seus diretores de mercado, diretor financeiro, administrativo. Rotina pesada, com níveis de vocabulário e gestão bem elaborados.

Seu desempenho para isso tudo é adequado. Fica sempre entre os melhores do Brasil, recebe prêmios em dinheiro, viagens e tapinhas nas costas. Essa rotina já existe há mais de 12 anos.

Não houve alterações em seus números, mas seu humor e sua disponibilidade física sofreram alterações que, dia a dia, seus colegas e subordinados foram percebendo. Alguns até relataram contatos mais ríspidos com o nobre gerente.

Ele, que é pai, com filho de mesma idade que sua rotina, relatou, em sessão de bioliderança®, que há dias vem sofrendo com um dolorido e persistente torcicolo. Remédios e massagens já foram usados para combater as desagradáveis dores. Mas o que de verdade acontece? Ah, esse personagem pratica esportes, está no peso adequado e tem um estilo saudável de vida.

Imediatamente, lembrei que meu cliente é canhoto. Lateralidade que já está definida antes mesmo do nascimento, e comecei a utilizar uma das minhas principais ferramentas: as perguntas.

Lembrei também que os pais dele já não estão mais vivos. As evidências foram ficando claras, mas continuei perguntando e chegando à exata razão do conflito de contrariedade. Isso mesmo: meu cliente se via na obrigação de fazer, falar, olhar, tocar e enfrentar algo que não gostaria.

Suas rotinas no trabalho estavam impecáveis, seu relacionamento muito bom com todos. Sua autoridade conquistada da maneira mais nobre possível.

Então, questionei sobre seu filho de 12 anos. Como está o relacionamento com ele? Como é você, incrível gestor, como pai? Quão presente você está? Você é herói ou vilão nessa história?

Imediatamente, veio à tona que constantes brigas e discussões com o filho estão ocorrendo. Mas, como era hábito, sua esposa é que resolvia ou decidia os assuntos de casa, como horários de banho, estudo e ajuda nas tarefas domésticas.

Com esse filho crescendo, a cada dia aumenta mais a necessidade de o pai aparecer, de mostrar e conquistar a confiança e apresentar o mundo ao filho. E, nesse assunto, dessa meta, nosso gestor sempre fugia. Não por ser uma pessoa ruim, mas porque aprendeu desde criança que era a mãe quem cuidava disso, pois o pai trabalhava.

A vida é um trem bala. E bate forte quando necessário. Nosso gestor precisou olhar para o filho, olhar para baixo, e ver o filho. Mas ele não queria, lutava para não ter que se virar para isso, justamente para seu lado direito e para baixo, onde as dores eram maximizadas.

Entendida a razão, o que você acredita que ele deva fazer para seu torcicolo ir embora? Seu filho, a criança, precisa do pai.

Quando deixar de ser uma atividade a contragosto, de amor e não de fuga, o torcicolo vai para o espaço.

Siga minha página no Instagram @jggazola